São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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DOIS MUNDOS

Taxa de investimento no país caiu de 20,5% para 18% desde 95; empresas ainda hesitam antes de tirar projetos do papel

"Estamos condenados a investir", diz Fiesp

DA REPORTAGEM LOCAL

"Estamos condenados ao investimento produtivo." A frase, do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, ilustra o sentimento do empresariado quando o assunto é o retorno do capital no Brasil. O custo elevado do dinheiro e a crescente carga tributária fazem com que investir em produção ou em serviços no país seja, em grande parte, mera questão de sobrevivência.
Não é à toa que a taxa de investimento caiu ao longo dos últimos anos no país: de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2002, último dado anual disponível, a formação bruta de capital fixo das empresas não-financeiras representou 23,63% do valor adicionado (tudo o que foi produzido menos despesas). Em 1995, essa taxa havia sido 27,18 %.
A taxa geral de investimento (que inclui também outros setores da economia) caiu de 20,54% do PIB (Produto Interno Bruto) em 1995 para 18% em 2003.
"A aprovação de um projeto novo é difícil. Precisa ser absolutamente lucrativo para sair do papel", afirma o diretor-presidente da Votorantim Celulose e Papel, José Luciano Penido.
É o mesmo tom adotado por Murillo Mendes Júnior, presidente da construtora Mendes Júnior. "Há muito tempo somos uma empresa passando por crises, e tivemos de nos adaptar à realidade. Não se pode formular nenhum projeto que acarrete endividamento para a empresa. Os passos têm que ser dados na segurança", afirma. A empresa é uma das quatro de capital aberto que, em 2003, apresentaram receita financeira superior à operacional. No caso da Mendes Júnior, diz o executivo, isso é o resultado de juros recebidos com dívidas de terceiros com a companhia.
Para algumas empresas, no entanto, a rentabilidade com aplicações financeiras acaba representando uma saída para escapar de resultados operacionais baixos.
"O mercado financeiro é absolutamente atrativo, e, por isso, muita gente se rende a ele, inclusive algumas empresas. Mas, a médio e a longo prazo, não há como fugir de investir, senão a empresa deixa de existir como empresa, não sobrevive", afirma Piva.
Os juros elevados fizeram com que as grandes empresas implementassem sofisticados departamentos financeiros para administrar seus caixas. O resultado disso é que, nos últimos anos, a maior parte delas faz com que seus ganhos com aplicações financeiras superem suas despesas com juros.
Isso não quer dizer que essas despesas não pesem nos caixas das companhias. Levantamento feito pela ABM Consulting a pedido da Folha revela que a relação entre gastos financeiros e receitas líquidas de dez grandes empresas varia de 5% a 55,3 %.
(MAELI PRADO E ÉRICA FRAGA)


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