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Desoneração gera atrito Fazenda-Furlan
"Só pode vir de gente que não entende do assunto a idéia de desonerar atraindo investimento", diz secretário da Fazenda
Mantega diz que auxiliar cometeu "impropriedade" e liga para Furlan, mas afirma que nem todos os pedidos do colega serão atendidos
LEANDRA PERES
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O anúncio feito pelo ministro
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) em entrevista à
Folha de que o governo prepara uma nova rodada de desonerações tributárias para compra
de máquinas e equipamentos,
construção civil e semicondutores provocou ontem um curto-circuito no governo. E expôs
uma disputa entre os ministérios do Desenvolvimento e da
Fazenda, até esse episódio restrita aos bastidores do governo.
Contrariado com as promessas de Furlan, o secretário de
Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio
Gomes de Almeida, começou o
dia afirmando que "nem que o
governo arriasse as calças" seria possível abrir mão de arrecadação para incentivar a instalação de fábricas de microprocessadores no país neste ano.
À tarde, Gomes de Almeida
levou um puxão de orelha de
seu chefe, o ministro Guido
Mantega, que não gostou dos
termos usados pelo secretário
para criticar Furlan. Mantega,
porém, confirmou que a equipe
econômica não vai atender a todos pedidos do colega.
Sem aviso prévio ou solicitação de entrevista, o secretário
foi até a sala em que trabalham
os jornalistas credenciados na
Fazenda para comentar as propostas do Desenvolvimento.
"Neste ano não tem desoneração. E somente pode vir de
gente que não entende do assunto a idéia de desonerar
atraindo investimento. Neste
ano não vai sair nada nessa
área", declarou Almeida.
Apesar do tom enfático, o secretário não quis atacar diretamente Furlan. Disse que os assuntos citados pelo ministro
estavam, de fato, sendo analisados pela equipe econômica,
mas que isso não resultaria em
redução de impostos, como dissera Furlan.
De acordo com Almeida, não
haverá nenhuma suspensão de
tributos para a compra de máquinas e equipamentos.
Na área da construção civil, o
que o governo pretende é autorizar que os empréstimos feitos
com juros fixos sejam incluídos
na parcela obrigatória de investimentos em habitação, o que
equivale a 65% dos depósitos à
vista. E autorizar o financiamento habitacional com desconto em folhas de pagamento.
O estímulo para o setor de semicondutores, de acordo Almeida, mal começou a ser discutido no governo. A idéia é
criar um política de incentivos
de longo prazo que atraia esse
tipo de investimento.
"Nos semicondutores, nem
que o governo arriasse as calças. Não tem espaço. Medidas
serão anunciadas, mas também
não têm nada a ver com compensação de aumento de carga
tributária. Não é para este ano.
O horizonte é bem maior", afirmou o secretário.
Apesar das declarações do secretário, essa etapa, ligada ao
setor de semicondutores, já
conta com o apoio até da Casa
Civil e será adotada dentro do
processo de implantação da TV
digital no país. Como se trata de
benefícios para novos investimentos, não haveria perda referente à arrecadação tributária atual, alega o Ministério do
Desenvolvimento.
O constrangimento causado
pelas declarações de Almeida
obrigou Mantega a pôr panos
quentes a fim de evitar um desgaste ainda maior com o colega
de ministério. "O Júlio cometeu uma impropriedade. Falou
da cabeça dele, sem me consultar", disse Mantega à Folha,
por telefone. "Ele já reconheceu que errou. A preocupação
do Júlio é pertinente, mas não
justifica as declarações em termos inadequados. Ele está
proibido de falar assim."
Em Porto Alegre, onde participava de almoço com empresários, Mantega disse que "o
setor que vai ter desoneração é
o de semicondutores, que não
existe no Brasil" -e portanto
não implica perda de receitas já
existentes.
Mantega ligou de Porto Alegre para Furlan para "esclarecer e não ficar um mal-estar".
Furlan, em férias, não quis comentar o assunto.
Assessores do ministro, porém, comentaram que ele está
confiante de que pelo menos
parte das medidas em negociação será adotada. Sua confiança advém de conversa que teve
recentemente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que o teria encorajado a fazer
tais estudos de desoneração.
Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência Folha, em Porto Alegre
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