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Cingapura busca ser ponte entre América Latina e Ásia
CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A CINGAPURA
Um dos quatro tigres do sudeste
asiático que impulsionaram a explosão econômica da região a partir dos anos 80, Cingapura chegou
aos 40 anos de independência no
mês passado com um dilema:
diante do vigoroso crescimento
dos gigantes vizinhos, China e Índia, a pequena ilha precisa recuperar os níveis de crescimento e
descobrir novos nichos, o que inclui a América Latina.
Neste ano, a ex-colônia britânica deve crescer entre 3,5% e 4,5%.
Não é pouco, mas é praticamente
a metade da média de crescimento de 8% registrada entre 1965 e
2004. "Parte da queda do crescimento é explicada pela redução
do comércio mundial de semicondutores", disse o vice-ministro de Indústria e Comércio de
Cingapura, Vivian Balakrishnan.
A entrada da China e da Índia
como produtores de commodities de tecnologia da informação
aumentou a oferta. Além disso,
nos últimos anos houve progressos tecnológicos que mudaram o
padrão de consumo.
Cingapura, conta, porém, com a
agilidade de um país aberto e pequeno para mudar as rotas. A ilha
tem 4,2 milhões de habitantes e
mede apenas 699 km2. Recentemente, o governo construiu Biópolis, um pólo de pesquisa e desenvolvimento que prepara a cidade-nação para ser um dos principais produtores de fármacos do
mundo. Para isso, o governo está
investindo pesado em biotecnologia e nanotecnologia e está interessado na tecnologia brasileira
de produção de biocombustíveis.
A agilidade para mudar o percurso quando o objetivo é fazer a
economia crescer se aplica até as
rígidas regras de conduta do país,
conhecido por punir vandalismo
com chibatadas. Mistura de confucionismo chinês e educação vitoriana britânica, o país aplica
multas que podem chegar a US$
500 para quem suja as ruas, arranca flores das centenas de jardins
bem cuidados do país e comete
outros delitos.
Mas os interesses econômicos
podem suplantar até as regras e
costumes. Quando inaugurou o
moderno sistema de metrô, nos
anos 80, o ex-primeiro-ministro e
praticamente fundador do país
Lee Kuo Yew ficou envergonhado
quando uma goma de mascar impediu o fechamento das portas de
um vagão.
Para evitar o problema, proibiu
a venda de chicletes. Cingapura ficou famosa, então, como o país
onde era proibido até mascar chicletes. Mas há dois anos, quando
assinou o Acordo de Livre Comércio com os EUA, o país passou a permitir a importação de
chicletes dentais e de nicotina.
Motivo: os americanos incluíram
as gomas de mascar na lista de
produtos negociados.
Para não perder turistas para os
resorts da vizinha Indonésia, depois de muito debate o governo,
que pune com pena de morte o
tráfico de drogas, anunciou que
vai autorizar a abertura de cassinos em dois resorts que serão
construídos até 2008.
"Para sobrevivermos, temos
que planejar 20 anos à frente, por
isso estamos investindo na modernização do país e na produção
de biotecnologia. Não temos agricultura nem minerais e importamos 60% da água, mas estamos
localizados no meio do sudeste
asiático. Nosso diferencial é ser
um ponto de conexão", diz Satvinder Singh, diretor de operações da Agência de Desenvolvimento de Cingapura.
Conexão
É exatamente um ponto de conexão com a China e outros países da Ásia o que Cingapura quer
ser para a América Latina. "A Ásia
está se transformando em um
grande mercado para a América
Latina, mas quase não vemos negócios latino-americanos aqui.
Queremos intermediar as exportações das commodities latino-americanas para a Ásia", diz
Singh. A região é destino de 15%
das exportações brasileiras.
O ministro das Relações Exteriores, George Yeo, propôs a assinatura de um memorando de intenções para começar a discutir
um acordo de livre comércio com
o Mercosul. O assunto deve começar a ser tratado na visita que o
chanceler Celso Amorim deve fazer a Cingapura em outubro.
"Há muitas mudanças no mundo e queremos reposicionar Cingapura. A Ásia tem quase metade
da população do mundo e gostaríamos de ter um acordo com o
Mercosul. O país mais aberto da
América Latina é o Chile, mas a
cereja é o Brasil, que é um país
com muitos recursos", disse Yeo.
O governo de Cingapura não
tem embaixada no Brasil. O país
tem apenas 40 postos diplomáticos e no restante dos países possui
escritórios de representação. O
próximo será inaugurado em São
Paulo, neste mês, pelo vice-primeiro-ministro S. Jayakumar.
País orientado aos negócios,
Cingapura parece mais uma companhia, e o primeiro-ministro, o
CEO de uma multinacional. Recentemente, o primeiro-ministro
Lee Hsien Loong anunciou planos para tornar a cidade-nação
um lugar "vibrante e global" para
atrair mais negócios e turistas, o
que inclui mais investimentos em
pesquisa, incentivo para estudos
na área tecnológica, reforma dos
edifícios residenciais públicos
-85% dos cingapurianos vivem
em prédios de apartamentos
construídos e financiados pelos
governo- e até a construção de
um novo centro comercial e financeiro, erguido sobre um aterro, já que há escassez de terreno.
A repórter Cláudia Dianni viajou
a convite do Ministério das Relações Exteriores de Cingapura
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