São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

PIB e Copom inconclusivos


PIB cresce rápido, mas pára de acelerar, e o Banco Central parece dividido sobre o "pior já passou" no caso da inflação

O INVESTIMENTO pesou bem mais que o consumo no avanço do PIB do segundo trimestre. Investimento e consumo haviam praticamente empatado nesse quesito, do final de 2007 para o trimestre inicial deste ano. Quando se olha o crescimento acumulado nos últimos quatro trimestres, porém, a contribuição do consumo privado para a alta do PIB supera largamente a do investimento (note-se que o consumo é quase 61% do PIB; o investimento, pouco mais de 18%).
"Se o ano tivesse terminado em junho", o PIB teria crescido 6%, o consumo, 7%, e o investimento, 15,5%. Onde é que estamos, pois, nessa luta do rochedo contra o mar, na corrida entre consumo e investimento?
"Na ponta", segundo os dados deste ano, o consumo privado desacelerou a ponto de perder velocidade. O PIB anda rápido, mas parou de acelerar. O investimento pisa no acelerador. E daí? Daí que há uma querela entre economistas a respeito de velocidades, acelerações e o impacto disso na inflação. Todo mundo está satisfeito que o investimento "produtivo" cresça em ritmo mais forte que o consumo, mas nem todo mundo concorda que o ritmo de aumento da capacidade produtiva é bastante para dar conta do aumento do consumo. E o investimento também é um dos elementos da demanda doméstica (interna, do país). Mais investimento, a princípio, também é mais pressão sobre a demanda. Se a oferta não é suficiente para atender tal demanda, o país tem déficit em conta corrente (mais importa do que exporta bens e serviços) ou inflação -ou combinação dos dois.
Bem, os números do PIB, afora o fato de terem lá suas manhas e serem informações atrasadas, não resolveram a polêmica. A prova do pudim é ver o quanto a inflação está mordendo, a quantas anda o déficit em conta corrente e os indicadores mais recentes de renda e consumo.
Bem, de novo, o pudim tem gostos diferentes em pedaços diferentes. A inflação está no teto da meta e por lá fica até o fim do ano. O déficit externo cresce. O consumo acelera bem menos, mas corre a velocidade alta.
"Alta" é sempre relativo, mas digamos que se trata de alta para o nosso curto padrão histórico. Não se trata de limite incontornável. É o que precariamente sabemos, até agora.
Os dados de agosto mostram que o ritmo de crescimento em alguns setores começou a cair, de leve, como no caso de carros, produtos de informática e tráfego em rodovias. Os salários não explodiram, mas o desemprego cai rapidamente. O governo ainda gasta demais. Os preços de commodities caem, mas a inflação brasileira, apenas em parte bem pequena, parece "importada".
Os dados insinuam que "o pior já passou" na inflação. Quão menos pior? Pouco. Inconclusivo? É. Parece também a opinião do Banco Central, que levantou os juros em 0,75 ponto percentual, mas por cinco votos contra três dos que preferiam 0,5 ponto. O 0,25 ponto é pouco relevante. Mas a divisão na votação indica que parte do BC acredita que um pouco do pior pode ter passado. O que vai reforçar o protesto contra a alta dos juros. Porém ainda vamos ter de esperar uns três meses, ao menos, para saber o que se passa com a inflação. Mas a economia de 2008 deve crescer mesmo como no ano passado, em torno de 5,4%.

vinit@uol.com.br


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