|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Reações vão de prudência a ceticismo
do Painel S/A
Foi de prudência ou ceticismo a
reação inicial de executivos de
bancos e analistas ao choque de
juros promovido pelo governo
(subiu a Tban de 29,75% para
49,75%) no final da noite.
Não se viu, como em outubro do
ano passado, no início da crise
asiática, os mesmos sinais de que,
finalmente, o país tinha armado
uma defesa sólida contra a perda
de reservas.
Perdas que, somente após o
anuncio da primeira alta de juros e
das medidas de ajuste fiscal, já somam aproximadamente US$ 4 bilhões. Perdas que, desde o início
da crise, somam US$ 21 bilhões.
A crise atual é outra. Mais grave.
Não há, como havia em outubro,
pelo menos a expectativa de retomada do fluxo de investimentos
para os países emergentes em um
horizonte de médio prazo.
Há os que acreditam na eficácia
de uma política de juros escorchantes -que, em tese, busca tocar o especulador ou em quer quer
que seja no seu órgão mais vulnerável: o bolso. Custaria caro trocar
reais por dólares.
Mas mesmo esses executivos e
analistas, que preferiram que seus
nomes não fossem mencionados,
ponderam que, depois do evento
russo (da moratória), é essencial
que o mercado entenda que essa
nova taxa de juros é sustentável ao
longo do tempo.
Em outras palavras, juros de
49,75% pedem um arrocho fiscal
maior das contas públicas do que
o apresentado até agora pelo governo. Ou seja, as medidas precisam ser completadas para se tornarem eficazes.
Nessa linha, há também analistas que advogam a tese de que somente uma combinação entre juro
alto e restrições ao movimento de
capital no mercado do dólar flutuante (um segmento do dólar-turismo) deteria a sangria.
Não se trata de uma quebra de
regras. Mas da adoção no flutuante das mesmas restrições já existentes no comercial. O exemplo
mais citado: no comercial é limitada a possibilidade do envio para o
exterior de recursos para investimento; no flutuante, não.
Alguns analistas continuam,
além disso, batendo na tecla de um
acordo com o FMI ou o G-7. O empréstimo-ponte (ou a simples possibilidade de saque) seria vista pelo mercado, entendem, como o sinal de que, em algum momento,
os juros poderiam voltar a cair.
Mas há reações mais céticas, como a de Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente da Nossa
Caixa-Nosso banco, que defende a
necessidade de se criar um IOF no
mercado flutuante.
Para ele, foi um erro subir os juros tanto na primeira como na segunda vez. A alta, na visão dos investidores estrangeiros, pode ser
vista como o sinal de que o Brasil
virou uma Rússia.
(JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|