São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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Reações vão de prudência a ceticismo

do Painel S/A

Foi de prudência ou ceticismo a reação inicial de executivos de bancos e analistas ao choque de juros promovido pelo governo (subiu a Tban de 29,75% para 49,75%) no final da noite.
Não se viu, como em outubro do ano passado, no início da crise asiática, os mesmos sinais de que, finalmente, o país tinha armado uma defesa sólida contra a perda de reservas.
Perdas que, somente após o anuncio da primeira alta de juros e das medidas de ajuste fiscal, já somam aproximadamente US$ 4 bilhões. Perdas que, desde o início da crise, somam US$ 21 bilhões.
A crise atual é outra. Mais grave. Não há, como havia em outubro, pelo menos a expectativa de retomada do fluxo de investimentos para os países emergentes em um horizonte de médio prazo.
Há os que acreditam na eficácia de uma política de juros escorchantes -que, em tese, busca tocar o especulador ou em quer quer que seja no seu órgão mais vulnerável: o bolso. Custaria caro trocar reais por dólares.
Mas mesmo esses executivos e analistas, que preferiram que seus nomes não fossem mencionados, ponderam que, depois do evento russo (da moratória), é essencial que o mercado entenda que essa nova taxa de juros é sustentável ao longo do tempo.
Em outras palavras, juros de 49,75% pedem um arrocho fiscal maior das contas públicas do que o apresentado até agora pelo governo. Ou seja, as medidas precisam ser completadas para se tornarem eficazes.
Nessa linha, há também analistas que advogam a tese de que somente uma combinação entre juro alto e restrições ao movimento de capital no mercado do dólar flutuante (um segmento do dólar-turismo) deteria a sangria.
Não se trata de uma quebra de regras. Mas da adoção no flutuante das mesmas restrições já existentes no comercial. O exemplo mais citado: no comercial é limitada a possibilidade do envio para o exterior de recursos para investimento; no flutuante, não.
Alguns analistas continuam, além disso, batendo na tecla de um acordo com o FMI ou o G-7. O empréstimo-ponte (ou a simples possibilidade de saque) seria vista pelo mercado, entendem, como o sinal de que, em algum momento, os juros poderiam voltar a cair.
Mas há reações mais céticas, como a de Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente da Nossa Caixa-Nosso banco, que defende a necessidade de se criar um IOF no mercado flutuante.
Para ele, foi um erro subir os juros tanto na primeira como na segunda vez. A alta, na visão dos investidores estrangeiros, pode ser vista como o sinal de que o Brasil virou uma Rússia.
(JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA)


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