São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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TRANSE

Paulo Leme, economista da Goldman Sachs, diz que falta de medida para conter alta do dólar gerou "mal-estar"

Armínio deixa mercado perplexo, diz Leme

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O economista Paulo Leme, da Goldman Sachs, afirma que a entrevista coletiva concedida na quarta-feira pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, provocou perplexidade geral no mercado. "Confesso que a entrevista teve muita informação que ainda não digeri", afirmou.
Na entrevista de anteontem, Armínio disse que parte da tensão no mercado se deve aos discursos dos candidatos à Presidência sobre mudanças na política econômica. "Foi uma entrevista atípica", disse Leme, amigo há muitos anos de Armínio.
O economista disse que o mercado ficou ansioso na quarta-feira quando foi feito o comunicado do BC sobre a entrevista coletiva. Havia, segundo Leme, a expectativa do anúncio de novas medidas para conter a alta do dólar.
Quando o mercado se deu conta de que não haveria o anúncio de nenhuma medida, Leme disse que houve um mal-estar geral. As pessoas simplesmente se desinteressaram pela entrevista. "A perplexidade foi geral e todos se perguntavam por que houve a entrevista", disse Leme.
O economista da Goldman Sachs afirma que a suspeita do mercado é de que a entrevista de Armínio tenha sido feita a pedido do presidente Fernando Henrique Cardoso, já que ela foi marcada logo depois do encontro da equipe econômica com FHC no Palácio da Alvorada.
De qualquer forma, se o objetivo de Armínio era conter a alta do dólar, a iniciativa não deu resultado. O dólar, ontem, rompeu a barreira dos R$ 4.
Leme acha que o mercado de câmbio continuará volátil até a eleição do próximo dia 27. Depois disso, dependerá muito da coragem, da determinação e da velocidade com que o presidente eleito anunciará os nomes da nova equipe econômica e do programa a ser adotado.
Segundo o economista, o novo governo não pode esperar nem 72 horas para anunciar a nova equipe e o programa econômico. Isso terá de ser feito, no máximo, 24 horas depois do resultado das urnas.
O grande problema, de acordo com Leme, é que, com a alta do dólar, a relação dívida/PIB continua subindo de forma muito rápida, o que gera um clima de incerteza em relação à sustentabilidade da dívida.
Leme deixou claro que não comunga da mesma tese do megainvestidor George Soros, ex-patrão de Armínio, de que será inevitável uma reestruturação da dívida brasileira. "Seria uma lástima o país partir para um processo de reestruturação da dívida", diz Leme.
O economista considera a dívida do Brasil perfeitamente administrável, mas isso vai depender das medidas ortodoxas e corajosas que serão adotadas pelo novo governo. Ele acha que o eleito terá inevitavelmente de aumentar a meta de superávit primário. "Em economia, a conta tem sempre que ser paga", afirmou.
Ao contrário da opinião geral do mercado, Leme não considera definido o resultado da eleição. Ele acha que o candidato tucano José Serra ainda tem chances de vencer o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, muitos votos podem ser reavaliados no segundo turno, dependendo dos fatos que ocorrerem nos próximos dias. A seu ver, um debate, por exemplo, pode ser decisivo.


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