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TRANSE
Paulo Leme, economista da Goldman Sachs, diz que falta de medida para conter alta do dólar gerou "mal-estar"
Armínio deixa mercado perplexo, diz Leme
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O economista Paulo Leme, da
Goldman Sachs, afirma que a entrevista coletiva concedida na
quarta-feira pelo presidente do
Banco Central, Armínio Fraga,
provocou perplexidade geral no
mercado. "Confesso que a entrevista teve muita informação que
ainda não digeri", afirmou.
Na entrevista de anteontem, Armínio disse que parte da tensão
no mercado se deve aos discursos
dos candidatos à Presidência sobre mudanças na política econômica. "Foi uma entrevista atípica", disse Leme, amigo há muitos
anos de Armínio.
O economista disse que o mercado ficou ansioso na quarta-feira
quando foi feito o comunicado do
BC sobre a entrevista coletiva. Havia, segundo Leme, a expectativa
do anúncio de novas medidas para conter a alta do dólar.
Quando o mercado se deu conta
de que não haveria o anúncio de
nenhuma medida, Leme disse
que houve um mal-estar geral. As
pessoas simplesmente se desinteressaram pela entrevista. "A perplexidade foi geral e todos se perguntavam por que houve a entrevista", disse Leme.
O economista da Goldman
Sachs afirma que a suspeita do
mercado é de que a entrevista de
Armínio tenha sido feita a pedido
do presidente Fernando Henrique Cardoso, já que ela foi marcada logo depois do encontro da
equipe econômica com FHC no
Palácio da Alvorada.
De qualquer forma, se o objetivo de Armínio era conter a alta do
dólar, a iniciativa não deu resultado. O dólar, ontem, rompeu a
barreira dos R$ 4.
Leme acha que o mercado de
câmbio continuará volátil até a
eleição do próximo dia 27. Depois
disso, dependerá muito da coragem, da determinação e da velocidade com que o presidente eleito
anunciará os nomes da nova
equipe econômica e do programa
a ser adotado.
Segundo o economista, o novo
governo não pode esperar nem 72
horas para anunciar a nova equipe e o programa econômico. Isso
terá de ser feito, no máximo, 24
horas depois do resultado das urnas.
O grande problema, de acordo
com Leme, é que, com a alta do
dólar, a relação dívida/PIB continua subindo de forma muito rápida, o que gera um clima de incerteza em relação à sustentabilidade
da dívida.
Leme deixou claro que não comunga da mesma tese do megainvestidor George Soros, ex-patrão de Armínio, de que será inevitável uma reestruturação da dívida brasileira. "Seria uma lástima
o país partir para um processo de
reestruturação da dívida", diz Leme.
O economista considera a dívida do Brasil perfeitamente administrável, mas isso vai depender
das medidas ortodoxas e corajosas que serão adotadas pelo novo
governo. Ele acha que o eleito terá
inevitavelmente de aumentar a
meta de superávit primário. "Em
economia, a conta tem sempre
que ser paga", afirmou.
Ao contrário da opinião geral
do mercado, Leme não considera
definido o resultado da eleição.
Ele acha que o candidato tucano
José Serra ainda tem chances de
vencer o petista Luiz Inácio Lula
da Silva. Segundo ele, muitos votos podem ser reavaliados no segundo turno, dependendo dos fatos que ocorrerem nos próximos
dias. A seu ver, um debate, por
exemplo, pode ser decisivo.
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