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Pressão reabre debate sobre o BC independente
Decisão não surpreende analistas, apesar de verem espaço para corte na taxa de juro
Analistas vêem redução de juro já no início de 2009, com recuo nos índices de inflação, expectativas dentro da meta e desaceleração da demanda
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dado o conservadorismo habitual do Banco Central, o mercado financeiro recebeu sem
surpresas a manutenção dos juros em 13,75%, apesar de ter
aumentado nos últimos dias a
parcela dos analistas que esperava um corte de 0,25 ponto na
taxa Selic. Como os diretores
admitiram que discutiram a
possibilidade de reduzir a taxa,
a expectativa é que isso aconteça já no início de 2009.
No entanto analistas voltaram a discutir o grau de independência do BC diante das
pressões sofridas dentro e fora
do governo. Com a decisão unânime do BC, analistas discutem
se a autoridade monetária fez
questão de reafirmar sua posição conservadora como forma
de responder a essas pressões.
Para Fausto Gouveia, economista da Infra Asset, essa dúvida pode até ter levado o BC a
uma atitude mais conservadora, com o objetivo de demonstrar que "continua no comando" da situação. "Tem realmente esse mal-estar. Boa parte do
lado petista está atirando para
tirar força do Banco Central.
Pelas características do Henrique Meirelles [presidente do
BC], a pressão pode, sim, ter levado a uma decisão mais conservadora. Sempre que ele se
sentiu pressionado, veio uma
decisão unânime e seca indo
contra o governo."
"[Se cortasse o juro agora]
Poderia criar algum ruído no
mercado de que o BC pode ter
cedido, em parte, às pressões
do governo. Analisando um
contexto mais amplo, todo o
histórico desse BC e do Copom,
diríamos que eles sempre foram muito pouco suscetíveis a
esse tipo de pressão", disse Silvio Campos Neto, economista
do banco Schahin.
Um dos poucos a esperar um
corte nos juros, o economista-chefe do banco Fator, José
Francisco de Lima Gonçalves,
afirma que o BC deixou claro
que deve reduzir os juros já em
janeiro. Gonçalves diz que não
havia argumentos técnicos para a manutenção da taxa Selic
em 13,75% e reconhece que havia muito tempo que uma reunião do Copom não era precedida de tanto rumor. Para Gonçalves, chama a atenção o fato
de os diretores terem votado
coesos em um momento de dúvida como o atual.
"É um sinal muito ruim eles
votarem fechados [pela manutenção]. Em outros Carnavais,
já houve dissenso a respeito do
ritmo [dos juros] -e hoje existe
argumento técnico para a turma do dissenso. Se você fecha
[vota unânime], vai jogar o argumento técnico pela janela
porque está sendo pressionado? Mas eles se saíram bem
[com o texto] em relação à
pressão. Porque está combinado: em janeiro, baixa [a taxa]. E
ao mesmo tempo vão ajudar na
descompressão no mercado de
juros. O efeito disso é que os juros futuros vão ceder."
Para Gouveia, ao admitir a
possibilidade de corte, o BC sinalizou que deve reduzir os juros no início de 2009. "Os números da inflação vieram controlados, as commodities caíram, não tem pressão inflacionária. Já tinha espaço para reduzir os juros [ontem]."
"Os sinais apontam para uma
possibilidade de queda no início do ano que vem. Talvez fosse um pouco prematuro [reduzir ontem] diante de alguns fatores de risco de curto prazo,
como a taxa de câmbio. De toda
maneira, o espaço para a queda
do juro já está se consolidando.
A gente estava imaginando para abril, mas pode ser para janeiro", disse Campos Neto.
Fernando Cardim, economista da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro),
afirma que não havia argumentos técnicos para justificar a
manutenção dos juros diante
da desaceleração que está por
vir. "Estão indo não apenas
contra o restante do governo,
mas na contramão do mundo
inteiro. O temor de uma fuga de
capitais e os efeitos que isso pode ter sobre a taxa de câmbio
intimidam o governo e reforçam a mão do BC. Mas isso é
uma ferida auto-infligida, algo
que caberia ao governo Lula ter
corrigido, mas que não o fez."
Para Cardim, a decisão do
Copom arrisca levar o país a um
"colapso desnecessário". "Ajuda a alimentar o pânico, a contrair o crédito e a reduzir a possibilidade de uma passagem
menos dolorosa pela crise."
"O corte nos juros terá de vir
em janeiro. Os executivos de finanças estão sentindo na pele a
forte retração, com a freada na
atividade industrial e a queda
de importações e exportações",
disse Walter Machado de Barros, presidente do conselho do
Ibef (Instituto Brasileiro de
Executivos de Finanças).
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