São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

A vida vai melhor que os números


PIB "menor que o esperado" diz quase nada sobre melhora na economia real; assunto serve só para política menor


DA FALAÇÃO toda de ontem sobre PIB conclui-se apenas que é preciso esperar a fim de se saber o que tem se passado com alguns dos números agregados da economia, em particular sobre a taxa de investimento, embora o crescimento das despesas em capital tenha sido muito bom no terceiro trimestre. O resto é política menor.
Dizia-se ontem, em especial pelos noticiários ditos "em tempo real", escritos e falados, que "o PIB veio menor que o esperado". Como os dados de trimestres anteriores foram muito revisados, como os erros de previsão são, como de costume, previsíveis e, enfim, um trimestre apenas provê informação insuficiente, tal afirmação sobre resultados inesperados não quer dizer nada. Serve apenas para o bafafá político, de escasso impacto sobre a massa das pessoas "reais", digamos, que não têm ideia do que seja PIB.
O governo decerto gostaria de dizer em 2010 que o país cresceu mesmo num ano horrível da economia mundial. Tal coisa se tornou mais improvável, pois, para fechar o ano com crescimento de 0,5%, como acredita o ministro Paulo Bernardo, o PIB deste trimestre final de 2009 deverá ter subido 7,07% (ante o final de 2008).
Foi o que o país cresceu entre julho e setembro de 2008, antes do colapso mundial. E daí? O futuro do nosso bem-estar não vai ser definido por alguns décimos do PIB de um trimestre. Por falar nisso, nem mesmo a política eleitoral vai balançar por causa desses décimos.
Pode ser que o PIB do ano registre a "primeira queda desde Collor", o que não pega bem, mas diz muito pouco sobre as condições reais da vida nos dois períodos. A "sensação térmica" no mundo real é outra.
O dado politicamente mais sensível do PIB, o do consumo privado ("das famílias"), foi forte. Os números do crescimento do segundo e do terceiro trimestres estão entre os cinco melhores do governo Lula, todos superiores a 2% (trimestre ante trimestre).
Nesse item, desde 2003 o consumo regrediu apenas no segundo trimestre de 2003 (quando o país ainda vivia a crise da quebra de 2002) e no trimestre final de 2008, o do colapso, que, no entanto, afetou menos o consumo das pessoas de renda mais baixa -a maioria.
Sim, a economia parece andar um pouco mais devagar do que se imaginava (mas caiu menos do que se sabia, no pior da crise). Até aqui. O resultado mais impressionante, positivo e inesperado do ano havia sido o do emprego, que não dá sinais de fraquejar. Emprego, gastos do governo com transferências sociais (INSS, Bolsas etc.), subsídios ao consumo e mais crédito devem sustentar o ritmo forte do crescimento do consumo. Se o PIB do quarto trimestre confirmar a volta dos investimentos sugerida no trimestre passado, as projeções otimistas para o ano que vem continuam, de um alta do PIB de 5% ou mais.
Por fim, dizer agora que deve haver menos risco de inflação por causa dos resultados do PIB divulgados ontem é tão maluco e/ou chutado como afirmar que era previsível uma alta de preços dado o ritmo do crescimento dos dados "velhos" do IBGE. Trata-se de uma ansiedade tola. Sabemos ainda pouquíssimo ou nada do que será de câmbio, investimentos, salários, gasto do governo, preço de commodities etc.

vinit@uol.com.br


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