São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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MUDANÇA

Brasileiro diz que estrangeiros perguntam sobre andamento do projeto

BC autônomo é "cobrado" de Meirelles

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL À BASILÉIA

Em reunião com banqueiros privados e autoridades monetárias dos maiores países desenvolvidos, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi questionado ontem sobre as reais chances de implementação da autonomia operacional do órgão no Brasil. A cobrança ocorreu dois dias após o ministro da Casa Civil, José Dirceu, ter dito -e voltado atrás 24 horas depois- que o projeto estava fora da agenda do governo em 2004.
"As perguntas foram mais pontuais, por exemplo, se, de fato, a autonomia do Banco Central será uma realidade", disse Meirelles, que participa da reunião bimestral do BIS (sigla em inglês para Bank for International Settlements, o "Banco Central dos bancos centrais") na Basiléia, Suíça.
Em conversa com jornalistas após o encontro de ontem, Meirelles demonstrou curiosidade sobre o que o ministro Dirceu havia dito no sábado. "Eu não acompanhei [as novas declarações de Dirceu aos jornais]. O que foi dito hoje [ontem]?", perguntou ele.
Informado de que Dirceu recuara da declaração de que o governo não trabalharia pela aprovação do projeto de autonomia em 2004, Meirelles afirmou: "A discussão da autonomia é uma prerrogativa do Congresso Nacional e a definição do momento adequado para uma interferência maior do Executivo é do comando político do governo".
Embora tenha afirmado que, na prática, o BC brasileiro já atua com total autonomia operacional, Meirelles disse que, do ponto de vista da cobrança externa, a transformação do projeto em lei é importante: "A grande, a única diferença que faria seria eliminar a discussão a respeito".
Além disso, segundo Meirelles, a experiência de outros países mostra que autonomia operacional legal das autoridades monetárias traz consequências econômicas positivas para a taxa de juros, a inflação e o crescimento.
Segundo Meirelles, além da autonomia do BC, os participantes da reunião mostraram interesse sobre o processo de recomposição de reservas internacionais do país, as emissões externas que o governo tem feito e a redução da dívida indexada ao câmbio.
De acordo com ele, no ano passado, quando participou do mesmo encontro, houve mais perguntas a respeito da situação da economia brasileira.

Euro
Meirelles disse que a recente forte valorização do euro em relação ao dólar tem sido bom para a economia brasileira.
Em primeiro lugar, porque tem permitido que as exportações do país para a zona do euro e para países cujas moedas têm se apreciado cresçam. Além disso, para o presidente do BC, a desvalorização do dólar tem aberto o caminho para a redução da parcela da dívida externa brasileira indexada à moeda norte-americana.
A persistente desvalorização do dólar e suas consequências para a economia mundial deve ser o principal debate da reunião de hoje do BIS.
Analistas aguardam com ansiedade o resultado da reunião, pois acreditam que sinalizará a tendência das discussões que ocorrerão em fevereiro, no encontro anual dos ministros de finanças do G7 (grupo formado por EUA, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, Itália e França).
Uma das expectativas do mercado financeiro é em relação a possíveis medidas que os países europeus possam adotar para evitar que o euro atinja patamares ainda mais elevados de valorização, o que pode prejudicar a competitividade das exportações. Na sexta-feira, o euro fechou cotado a US$ 1,2852.
Participam da reunião do BIS os presidentes dos bancos centrais dos países que formam o G10 (que compreende, além do G7, Holanda, Bélgica, Suécia e Suíça, reunindo, na verdade, 11 nações) e os de alguns países emergentes convidados. Ontem, estava presente Alan Greenspan, presidente do Fed (banco central dos EUA).
Desta vez, além do Brasil, participarão da reunião de hoje os representantes dos bancos centrais do México e da China.
Dentre os banqueiros presentes no encontro de ontem, o único brasileiro era Roberto Setúbal, presidente do Itaú.



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