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MUDANÇA
Brasileiro diz que estrangeiros perguntam sobre andamento do projeto
BC autônomo é "cobrado" de Meirelles
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL À BASILÉIA
Em reunião com banqueiros
privados e autoridades monetárias dos maiores países desenvolvidos, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi questionado ontem sobre as reais
chances de implementação da autonomia operacional do órgão no
Brasil. A cobrança ocorreu dois
dias após o ministro da Casa Civil,
José Dirceu, ter dito -e voltado
atrás 24 horas depois- que o
projeto estava fora da agenda do
governo em 2004.
"As perguntas foram mais pontuais, por exemplo, se, de fato, a
autonomia do Banco Central será
uma realidade", disse Meirelles,
que participa da reunião bimestral do BIS (sigla em inglês para
Bank for International Settlements, o "Banco Central dos bancos centrais") na Basiléia, Suíça.
Em conversa com jornalistas
após o encontro de ontem, Meirelles demonstrou curiosidade sobre o que o ministro Dirceu havia
dito no sábado. "Eu não acompanhei [as novas declarações de Dirceu aos jornais]. O que foi dito hoje [ontem]?", perguntou ele.
Informado de que Dirceu recuara da declaração de que o governo não trabalharia pela aprovação do projeto de autonomia
em 2004, Meirelles afirmou: "A
discussão da autonomia é uma
prerrogativa do Congresso Nacional e a definição do momento
adequado para uma interferência
maior do Executivo é do comando político do governo".
Embora tenha afirmado que, na
prática, o BC brasileiro já atua
com total autonomia operacional,
Meirelles disse que, do ponto de
vista da cobrança externa, a transformação do projeto em lei é importante: "A grande, a única diferença que faria seria eliminar a
discussão a respeito".
Além disso, segundo Meirelles,
a experiência de outros países
mostra que autonomia operacional legal das autoridades monetárias traz consequências econômicas positivas para a taxa de juros,
a inflação e o crescimento.
Segundo Meirelles, além da autonomia do BC, os participantes
da reunião mostraram interesse
sobre o processo de recomposição de reservas internacionais do
país, as emissões externas que o
governo tem feito e a redução da
dívida indexada ao câmbio.
De acordo com ele, no ano passado, quando participou do mesmo encontro, houve mais perguntas a respeito da situação da
economia brasileira.
Euro
Meirelles disse que a recente forte valorização do euro em relação
ao dólar tem sido bom para a economia brasileira.
Em primeiro lugar, porque tem
permitido que as exportações do
país para a zona do euro e para
países cujas moedas têm se apreciado cresçam. Além disso, para o
presidente do BC, a desvalorização do dólar tem aberto o caminho para a redução da parcela da
dívida externa brasileira indexada
à moeda norte-americana.
A persistente desvalorização do
dólar e suas consequências para a
economia mundial deve ser o
principal debate da reunião de
hoje do BIS.
Analistas aguardam com ansiedade o resultado da reunião, pois
acreditam que sinalizará a tendência das discussões que ocorrerão em fevereiro, no encontro
anual dos ministros de finanças
do G7 (grupo formado por EUA,
Canadá, Japão, Alemanha, Reino
Unido, Itália e França).
Uma das expectativas do mercado financeiro é em relação a
possíveis medidas que os países
europeus possam adotar para evitar que o euro atinja patamares
ainda mais elevados de valorização, o que pode prejudicar a competitividade das exportações. Na
sexta-feira, o euro fechou cotado a
US$ 1,2852.
Participam da reunião do BIS os
presidentes dos bancos centrais
dos países que formam o G10
(que compreende, além do G7,
Holanda, Bélgica, Suécia e Suíça,
reunindo, na verdade, 11 nações)
e os de alguns países emergentes
convidados. Ontem, estava presente Alan Greenspan, presidente
do Fed (banco central dos EUA).
Desta vez, além do Brasil, participarão da reunião de hoje os representantes dos bancos centrais
do México e da China.
Dentre os banqueiros presentes
no encontro de ontem, o único
brasileiro era Roberto Setúbal,
presidente do Itaú.
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