São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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COMBUSTÍVEIS

Acerto com usineiros determina queda de só R$ 0,03 por litro, o que pode trazer pequena redução de preço na bomba

Governo faz acordo para conter alta do álcool

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo ameaçou de um lado e cedeu de outro para obter acordo com os usineiros que permitisse estancar a alta no preço do álcool -ainda que não haja certeza de redução para o consumidor final. Pelo acerto fechado ontem, o preço máximo do álcool na usina cairá de R$ 1,08 para R$ 1,05.
A medida começa a valer imediatamente e sem prazo para término, embora na prática isso deva acontecer a partir da colheita da safra em maio. O governo não garante, no entanto, que os motoristas pagarão menos no momento de abastecer o carro.
"O preço não é composto só pelo custo do produtor", disse o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal.
Cálculos feitos por Rafael Schechtman, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), mostram que, com essa medida, a queda do preço da gasolina na bomba poderia ser, em média, de R$ 0,01 por litro. Isso ocorreria por causa da mistura obrigatória de álcool anidro à gasolina. Já no caso do álcool hidratado (usado nos motores a álcool), a redução para o consumidor seria de R$ 0,03. "O mais importante é que o acordo vai evitar aumento de preços", disse Dietmar Schupp, diretor do Sindicom (sindicato de distribuidoras). O produto subiu cerca de 8% em 2005 e vem aumentando mais neste ano.
Como contrapartida à redução do preço do combustível na usina, o governo se comprometeu a definir, até maio, quando começa o período de safra e formas de financiamento mais baratas para aumentar os estoques de álcool.
Segundo técnicos do governo que participaram das discussões, a idéia é estabelecer um sistema de estocagem que evite oscilações fortes da cotação do produto nos períodos de safra e entressafra.
De acordo com os técnicos, o custo das linhas de financiamento disponíveis no mercado é considerado alto, e o setor reivindica que o governo assegure recursos do Orçamento para esse fim.
Segundo a Folha apurou com pessoas envolvidas nas discussões, no entanto, o governo não se comprometeu com nenhum valor específico, mas prometeu encontrar solução para o problema.
O tema deve começar a ser discutido na próxima reunião da Câmara Setorial de Cana-de-Açúcar, a ser realizada no final do mês.
O governo usou outros argumentos para convencer os usineiros, segundo a Folha apurou, como a redução de 25% para 20% no percentual de álcool anidro misturado à gasolina. A medida iria causar um "choque de oferta" instantâneo, de 100 milhões de litros por mês. Foi aventada também a possibilidade de tributação maior sobre automóveis bicombustíveis, o que poderia reduzir a demanda por álcool.

Ganho real
A intenção do governo era manter o preço do álcool no mesmo nível alcançado no acordo da entressafra de 2003 (leia abaixo): R$ 1. Mesmo sem obter o valor, o governo considerou que houve um ganho na negociação, pois R$ 1,05 hoje significa, em termos reais (descontada a inflação no período), menos que R$ 1 em 2003.
Entre os usineiros, não havia consenso sobre como reagir ao argumento do governo. Eles puseram a proposta em votação e a aprovaram por maioria.
Segundo o presidente da Unica (União da Agroindústria do Estado de São Paulo), Eduardo de Carvalho, o valor do acordo foi definido segundo o esforço permitido aos produtores.
O setor privado diz que os estoques são suficientes para atender às demandas dos mercados interno e de exportação, mas ficou acertado também que, se necessário, a colheita da cana pode ser antecipada de maio para março para garantir o abastecimento.
A questão do álcool era vista como de grande importância para o governo, que foi representado por quatro ministros na reunião de ontem: Antonio Palocci Filho (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Roberto Rodrigues (Agricultura) e Nelson Hubner (interino de Minas e Energia).
Havia descompasso entre as diferentes pastas sobre as medidas que deveriam ser tomadas. Agricultura e Minas e Energia defendem medidas para conter a alta do preço, enquanto a Fazenda avaliava que o mercado resolveria o problema. (FERNANDO ITOKAZU, NEY HAYASHI DA CRUZ, HUMBERTO MEDINA E SHEILA D'AMORIM)
Colaborou Cíntia Cardoso, da Reportagem Local


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