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COMBUSTÍVEIS
Acerto com usineiros determina queda de só R$ 0,03 por litro, o que pode trazer pequena redução de preço na bomba
Governo faz acordo para conter alta do álcool
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo ameaçou de um lado
e cedeu de outro para obter acordo com os usineiros que permitisse estancar a alta no preço do álcool -ainda que não haja certeza
de redução para o consumidor final. Pelo acerto fechado ontem, o
preço máximo do álcool na usina
cairá de R$ 1,08 para R$ 1,05.
A medida começa a valer imediatamente e sem prazo para término, embora na prática isso deva acontecer a partir da colheita
da safra em maio. O governo não
garante, no entanto, que os motoristas pagarão menos no momento de abastecer o carro.
"O preço não é composto só pelo custo do produtor", disse o secretário-executivo do Ministério
da Fazenda, Murilo Portugal.
Cálculos feitos por Rafael
Schechtman, do CBIE (Centro
Brasileiro de Infra-Estrutura),
mostram que, com essa medida, a
queda do preço da gasolina na
bomba poderia ser, em média, de
R$ 0,01 por litro. Isso ocorreria
por causa da mistura obrigatória
de álcool anidro à gasolina. Já no
caso do álcool hidratado (usado
nos motores a álcool), a redução
para o consumidor seria de R$
0,03. "O mais importante é que o
acordo vai evitar aumento de preços", disse Dietmar Schupp, diretor do Sindicom (sindicato de distribuidoras). O produto subiu
cerca de 8% em 2005 e vem aumentando mais neste ano.
Como contrapartida à redução
do preço do combustível na usina,
o governo se comprometeu a definir, até maio, quando começa o
período de safra e formas de financiamento mais baratas para
aumentar os estoques de álcool.
Segundo técnicos do governo
que participaram das discussões,
a idéia é estabelecer um sistema
de estocagem que evite oscilações
fortes da cotação do produto nos
períodos de safra e entressafra.
De acordo com os técnicos, o
custo das linhas de financiamento
disponíveis no mercado é considerado alto, e o setor reivindica
que o governo assegure recursos
do Orçamento para esse fim.
Segundo a Folha apurou com
pessoas envolvidas nas discussões, no entanto, o governo não se
comprometeu com nenhum valor específico, mas prometeu encontrar solução para o problema.
O tema deve começar a ser discutido na próxima reunião da Câmara Setorial de Cana-de-Açúcar,
a ser realizada no final do mês.
O governo usou outros argumentos para convencer os usineiros, segundo a Folha apurou, como a redução de 25% para 20%
no percentual de álcool anidro
misturado à gasolina. A medida
iria causar um "choque de oferta"
instantâneo, de 100 milhões de litros por mês. Foi aventada também a possibilidade de tributação
maior sobre automóveis bicombustíveis, o que poderia reduzir a
demanda por álcool.
Ganho real
A intenção do governo era manter o preço do álcool no mesmo
nível alcançado no acordo da entressafra de 2003 (leia abaixo): R$
1. Mesmo sem obter o valor, o governo considerou que houve um
ganho na negociação, pois R$ 1,05
hoje significa, em termos reais
(descontada a inflação no período), menos que R$ 1 em 2003.
Entre os usineiros, não havia
consenso sobre como reagir ao
argumento do governo. Eles puseram a proposta em votação e a
aprovaram por maioria.
Segundo o presidente da Unica
(União da Agroindústria do Estado de São Paulo), Eduardo de
Carvalho, o valor do acordo foi
definido segundo o esforço permitido aos produtores.
O setor privado diz que os estoques são suficientes para atender
às demandas dos mercados interno e de exportação, mas ficou
acertado também que, se necessário, a colheita da cana pode ser antecipada de maio para março para
garantir o abastecimento.
A questão do álcool era vista como de grande importância para o
governo, que foi representado por
quatro ministros na reunião de
ontem: Antonio Palocci Filho (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Roberto Rodrigues (Agricultura) e Nelson Hubner (interino
de Minas e Energia).
Havia descompasso entre as diferentes pastas sobre as medidas
que deveriam ser tomadas. Agricultura e Minas e Energia defendem medidas para conter a alta
do preço, enquanto a Fazenda
avaliava que o mercado resolveria
o problema.
(FERNANDO ITOKAZU, NEY HAYASHI DA CRUZ, HUMBERTO MEDINA E SHEILA D'AMORIM)
Colaborou Cíntia Cardoso, da Reportagem Local
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