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O OUTRO LADO DA MOEDA
Dólar barato freia IGP-DI, que corrige as dívidas estaduais, e SP, GO e RJ passam a se enquadrar na norma
Câmbio ajuda Estados na Lei de Responsabilidade
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais eficiente que qualquer
programa de corte de gastos ou de
eficiência administrativa, o dólar
barato ajudou a reduzir pela metade -de oito para quatro- o
número de Estados que descumprem os limites adotados para dívidas e despesas com o funcionalismo público que haviam sido fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
São Paulo, Rio de Janeiro e
Goiás deixaram no ano passado a
lista dos Estados com endividamento excessivo, na qual figuravam desde 2001, quando o Senado
regulamentou a lei fiscal aprovada no ano anterior e fixou como
teto para as dívidas estaduais o
percentual de 200% da receita.
Pelo lado dos gastos com pessoal, não há mais Estados fora do
limite de 49% da receita estabelecido para os Executivos locais. A
Paraíba, única da lista em 2004,
conseguiu se enquadrar.
Progresso
Ainda que as finanças estaduais
venham apresentando melhora
gradual desde o final da década
passada, é nas estatísticas de endividamento do ano passado que
estão os progressos mais impressionantes. E o responsável pelo fenômeno nada tem a ver com a tão
celebrada lei fiscal.
Outrora maior vilão das queixas
de governadores e prefeitos que
pleiteavam uma nova renegociação geral, o IGP-DI, índice que
corrige as dívidas estaduais e municipais, registrou uma inflação
de Primeiro Mundo em 2005:
1,22%, bem abaixo do IPCA, utilizado para as metas oficiais de inflação, de 5,69%.
Trata-se de um dos muitos benefícios da valorização cambial
sobre as contas públicas. Como o
IGP-DI é um índice muito afetado
pelos preços no atacado e, conseqüentemente, pelas cotações do
dólar, acabou registrando uma
inflação que não corresponde à
efetivamente sentida pelos consumidores.
Não por acaso, houve uma redução generalizada das dívidas
dos Estados. Apenas o Paraná e
Roraima, além do Distrito Federal, elevaram o percentual de endividamento em relação à receita
-mas suas dívidas, de 122,59%,
15,37% e 32,12% da receita, respectivamente, não chegam a ser
preocupantes.
Tendência
A continuar, como vem ocorrendo neste ano, a tendência de
dólar barato, a lista dos Estados
com dívidas superiores ao limite
legal caminhará para o desaparecimento. Minas Gerais, Alagoas e
Mato Grosso do Sul terminaram o
ano passado com dívidas que ficavam apenas ligeiramente acima
do teto.
Mesmo o Rio Grande do Sul,
com endividamento equivalente a
257,79% da receita, está perto de,
ao menos, se encaixar nas metas
intermediárias de ajuste fiscal
-que visam uma redução ano a
ano das dívidas, até que seja cumprido o teto que foi estabelecido
em 2016.
Entre as capitais, São Paulo permanece como a única com dívida
acima do limite de 120% da receita fixado para os municípios. Mas
o prefeito tucano José Serra
-ironicamente, um dos maiores
críticos da sobrevalorização cambial- também acabou ganhando
com o dólar barato, e o endividamento da cidade registrou uma
queda de 246,45% para 225,05%
da receita.
Assim como as cotações do
câmbio, porém, esse tipo de redução de dívidas é volátil. Basta ver o
que aconteceu em 2002, quando a
crise econômica e a incerteza eleitoral fizeram o dólar disparar,
produziram um IGP-DI de
26,41% e elevaram de cinco para
oito o número de Estados com dívidas em excesso.
"Antes, houve o desajuste, e
agora, o ajuste", resume o economista Amir Khair, especializado
em contas públicas e ex-secretário
de Finanças paulistano (gestão
Luiza Erundina, 1989-92, ainda
no PT). Ou, em outras palavras,
voltou-se a mais ou menos a mesma situação existente no início da
aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Carga tributária
É claro que, além do efeito cambial, ajustes de despesas feitos pelos Estados também contribuíram para a melhora dos indicadores. Outra ajuda, menos digna de
elogios na cartilha dos economistas liberais, veio do aumento geral
da carga tributária.
Na Paraíba, por exemplo, a despesa com pessoal subiu 8,24% no
ano passado, mas a arrecadação
teve alta muito maior, de 24,68%.
Graças a isso, os gastos com o funcionalismo caíram de 50,98% para 44,26% da receita, e o Estado
deixou a lista dos descumpridores
da lei fiscal.
Khair cita outra hipótese que
pode explicar a redução dos gastos estaduais com pessoal nos últimos anos: a contratação de funcionários terceirizados, que, conseqüentemente, não aparecem
nas estatísticas.
Se o significado econômico da
melhora das contas estaduais deve ser relativizado, pelo menos
um dividendo político para o governo Luiz Inácio Lula da Silva é
indiscutível -acabou-se o desgaste com governadores e prefeitos que pressionavam por uma
nova rodada de renegociação das
dívidas estaduais.
No governo Fernando Henrique Cardoso, a União assumiu
praticamente todas as dívidas dos
Estados e se tornou credora deles,
em condições de prazos e taxas de
juros muito mais favoráveis que
as anteriores.
Ainda assim, Lula assumiu a renegociação como promessa de
campanha, cujo descumprimento
foi anunciado logo depois da vitória nas urnas.
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