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Só reduzir taxa não resolve,
diz o governo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desinteresse do empresariado por novos investimentos,
sobretudo em áreas estratégicas como a de energia, deve ser
visto pelo governo como um
alerta do setor privado, na avaliação do secretário do Tesouro
Nacional, Joaquim Levy. Entretanto, ele diz que o problema
não será resolvido exclusivamente com a redução da taxa
de juros.
"Se acharmos que vamos resolver isso somente com a taxa
de juros, não vamos conseguir.
Vamos ter inflação porque o
empresário vai continuar pegando o dinheiro e arrumando
outra coisa [para investir]",
afirmou ele.
Para Levy, essa é uma questão que passa também pela discussão do perfil do gasto público para reduzir o volume de
impostos, de entraves burocráticos e, principalmente, pela
"educação" dos empresários.
Levy acredita que os empresários precisam deixar de lado a
idéia de que a cada ciclo de recuperação da economia será
possível "carregar a tinta nos
preços".
Esse tipo de comportamento,
segundo o secretário, exige
uma reação do governo: para
impedir o conseqüente aumento da inflação, é preciso elevar a
taxa de juros.
"Estamos entrando numa armadilha. Temos que ver isso
como um sinal de alerta do setor privado", afirmou. Segundo Levy, obstáculos que surgem em alguns setores estão fazendo com que o setor privado
empurre para o governo a responsabilidade de garantir os
investimentos.
Citando especificamente a
área de energia, em que a dificuldade em conseguir licenças
ambientais impede a construção de novas usinas, Levy afirma que os empresários precisam entender que o país mudou e que o processo decisório
é dividido em várias áreas.
"Ele [setor privado] está caindo fora e jogando a responsabilidade para o governo, que não
está mais bem aparelhado para
atendê-la. O processo decisório
é fragmentado. Hoje em dia,
ninguém faz mais uma Balbina", avalia, referindo-se à construção da polêmica usina hidrelétrica nas décadas de 70/80
em meio a uma reserva indígena, no Amazonas.
Para Levy, o aumento da taxa
de investimento no país e a redução dos juros passam pela
discussão de coisas "chatas e
complicadas", mas não há alternativa.
Processo de aprendizado
"As grandes questões do novo mundo são o que vamos fazer com o gasto público, a política de oferta [que tem ligação
com a despesa do setor público] e essa relação da posição do
setor privado em caso de aumento de demanda."
A rentabilidade das empresas
precisa aumentar com redução
de custos, segundo o secretário,
o que significa menos burocracia nos negócios, menos impostos e um ambiente regulatório apropriado para diminuir
incertezas, além da estabilidade dos preços.
Assim, acredita ele, será possível obter ganhos maiores no
setor produtivo ao mesmo
tempo em que o governo se
sentirá confortável para reduzir os juros.
"Esse é um processo de
aprendizado pelo qual teremos
de passar", diz, ao ressaltar que
é dever do Congresso Nacional
garantir que não seja tão desinteressante investir. "Esse é o
próximo passo. Temos de ter
prioridade nisso para poder
crescer."
A idéia de discutir o gasto público é compartilhada com especialistas do mercado financeiro. Para o ex-diretor de Política Econômica do BC Sérgio
Werlang, é fundamental para a
retomada dos investimentos
cortar gastos públicos.
Assim, diminui a necessidade
de cobrar tantos impostos para
cobrir as despesas da União.
Ela avalia: "Sem o governo gastar menos, fica difícil reduzir os
juros de forma expressiva a
ponto de incentivar os investimentos".
(SHEILA D'AMORIM)
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