São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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BC muda posição e corta juro
em 1,5 ponto

Decisão unânime do Copom leva taxa básica a 11,25%, mesmo nível de abril e patamar mais baixo desde sua criação, em 86

Corte mais vigoroso ocorre um dia após anúncio de forte retração do PIB no final de 08, que levou Meirelles à reunião emergencial com Lula


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante da forte retração da economia brasileira no último trimestre do ano passado, o Banco Central decidiu acelerar o ritmo de queda nos juros. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduziu ontem a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, fixando-a em 11,25% ao ano. Foi a maior queda desde novembro de 2003.
Com isso, a taxa volta ao nível de abril passado, antes de o BC dar início ao último ciclo de alta da Selic. É o patamar mais baixo desde a criação da taxa, em 1986. O Copom volta a se reunir no final do mês que vem, e analistas esperam novo corte.
A decisão dos oito membros do Copom foi unânime e era esperada pelo mercado.
No comunicado que informou a decisão, o BC evita dar pistas sobre qual será o futuro da Selic. Segundo o texto, o Copom "acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos".
É um recuo em relação ao que foi feito na reunião do Copom em janeiro. Na ocasião, quando os juros caíram um ponto percentual, o comunicado afirmava que o BC já estava "realizando de imediato parte relevante do movimento da taxa básica de juros".
O objetivo da frase era indicar que o BC não pretendia fazer um ajuste muito grande na taxa Selic e que dificilmente os juros cairiam mais do que um ponto percentual numa única reunião. Sob forte pressão dentro e fora do governo, e um dia depois do anúncio de queda de 3,6% do PIB no quarto trimestre de 2008 em relação ao terceiro, a instituição voltou atrás ontem e intensificou os cortes.
Depois que dados ruins da economia no final de 2008 e começo de 2009 foram divulgados pelo IBGE, alguns analistas passaram a defender um corte maior na Selic, de até dois pontos percentuais, diante da possibilidade cada vez maior de que o PIB registre uma variação negativa neste ano, o que não acontece desde 1992.
Anteontem à noite, depois de divulgados os números do PIB, o presidente Lula convocou uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, para falar sobre o tombo sofrido pela economia.
Segundo a Folha apurou, Lula cobrou de Meirelles uma redução mais rápida dos juros para evitar que o país entre em recessão.
A queda da Selic pode estimular a recuperação do crédito, um dos setores mais atingidos pela crise. Para que isso aconteça, porém, há algumas condições. O barateamento do crédito não depende só do BC, mas também da disposição dos bancos em repassar a queda da Selic para os juros cobrados de seus clientes. Alguns dos maiores bancos do país, públicos e privados, já anunciaram cortes em suas taxas ontem mesmo.
Da mesma forma, uma redução nos juros bancários só tem efeito prático caso pessoas e empresas não estejam pessimistas em relação ao futuro da economia e estejam realmente dispostas a aumentar seu grau de endividamento.
Por isso, o impacto do corte nos juros anunciado ontem sobre o crescimento do PIB só deve ser verificado num prazo mais longo. Economistas estimam que pode levar mais de um ano para os efeitos das variações na taxa serem sentidos por completo pela economia.


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