UOL


São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A montadora brasileira

É curiosa a maneira como a indústria automobilística está se reestruturando no mundo. No período inicial, houve a proliferação de fábricas. Depois, um processo de concentração que resultou em gigantes, como a General Motors, e em inúmeros pioneiros mortos pelo caminho. Agora, em nível mundial, as independentes começam a conquistar espaço trabalhando em cima de segmentos específicos.
No Brasil, é exemplar e recente o caso Troller. A empresa, de Fortaleza, começou com montagem artesanal de dois ou três veículos por mês. Foi criada em 1996 pelo engenheiro cearense Rogério Farias. No meio do caminho, houve injeção de capital, concluída em 1999 pelo engenheiro do ITA Mário Araripe. E muito investimento em ralis, vitrine para as vendas e laboratório para os testes. Hoje é o único veículo off-road nacional.
Sua produção ainda é pequena. Em 2002, vendeu 1.031 Troller T4, contra 750 unidades em 2001, 500 em 2000, 250 em 1999 e apenas 42 unidades entre 1994 e 1996. No ano passado, o faturamento da empresa no ano passado foi de R$ 60 milhões. Para 2003, a projeção é a de faturamento na casa dos R$ 100 milhões, em razão de dois lançamentos.
Um dos nichos ocupados foi o de utilitários de luxo, com o Troller T4, concorrendo diretamente com o Land Rover, jipe inglês que chega ao Brasil cerca de 30% mais caro por conta do câmbio.
Como não tem escala, a Troller passou a trabalhar a faixa dos veículos sob encomenda, para grandes empresas ou prestadoras de serviços públicos. E aí encontrou seu rumo. No ano passado, a Vale do Rio Doce encomendou a fabricação de dois veículos que pudessem transitar em minas a 400 metros de profundidade. Os carros foram entregues e já tem encomenda de mais dez.
Outra característica bastante interessante dos veículos é o elevado nível de nacionalização das peças, que chega a 96%. Apenas a caixa de transferência do 4x4 é importada. Até mesmo o motor é nacional, fabricado pela MWM. Eixo, suspensão, chassi, painel, carroceria, pára-choques e acabamentos internos, correspondendo a 38% do veículo, são fabricados dentro da Troller.
O terceiro salto da companhia se dará neste ano, com o lançamento de seu primeiro modelo militar, um jipe de transporte não-especializado, para transporte de tropas, deslocamento em terrenos difíceis e transporte de armas de pequeno porte. A expectativa é que sejam vendidas entre 500 e 1.000 unidades nos primeiros 12 meses.
O novo jipe militar visa atender uma demanda estratégica das Forças Armadas brasileiras. Como grande parte dos veículos militares usados no Brasil é importada do Reino Unido (Land Rover) ou dos Estados Unidos (Hummer), há riscos de desabastecimento em caso de guerra.
Outra novidade para este ano será uma picape rústica, que deverá ser lançada em outubro. Na mesma linha do Troller T4, o objetivo dos executivos da fabricante é ocupar um nicho de mercado específico: picapes de trabalho. A Toyota tinha um modelo e interrompeu a produção porque as vendas para o mercado interno não chegavam a 200 unidades por mês, um volume que, para a Troller, está de bom tamanho.
Criatividade e pé no chão ainda são bom negócio.

E-mail - LNassif@uol.com.br


Texto Anterior: Imposto de renda: Confira os códigos dos pagamentos
Próximo Texto: Curto-circuito: Uso de luz é menor que pré-racionamento
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.