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Brasil deverá adotar a "cláusula de calote" para fazer novas emissões
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O governo brasileiro deve empregar a "cláusula de calote" em
emissões futuras de títulos da dívida externa no mercado americano, como desejam os EUA.
Após grande resistência inicial ao
mecanismo, a equipe econômica
do governo FHC já considerava
adotar o mecanismo.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) está no mesmo caminho. Ontem, ele foi recebido
em Washington pelo secretário
do Tesouro americano, John
Snow, e pelo presidente do Fed (o
banco central dos EUA), Alan
Greenspan. Um dos principais
pontos debatidos no encontro, se
não o mais importante deles, foi a
CAC (cláusula de ação coletiva),
ou a "cláusula de calote".
Segundo Palocci, foi ele próprio
quem propôs o tema para discussão. "Nós dialogamos sobre as
CACs, [mas" não houve nenhum
pedido do governo [para a adoção
da cláusula"", respondeu, ao ser
questionado se o secretário americano havia feito alguma sugestão nesse sentido. "Fomos nós
[que levamos o assunto"", disse.
No dia anterior, Snow havia elogiado o México por ter adotado as
CACs. O secretário do Tesouro
dos EUA havia dado a entender
também que, se o Brasil viesse a
fazer o mesmo, os mercados financeiros aceitariam bem.
Cláusulas de ação coletiva permitem aos governos convocar
credores para renegociar ordenadamente os valores dos títulos.
Uma vez adotado o mecanismo,
os governos não precisam obter a
aprovação unânime de todos os
credores para conseguir condições melhores de pagamento em
situações de dificuldade, mas só
de uma maioria.
Pelos contratos hoje usados, um
único credor tem o direito e o poder de impedir um país de fechar
um acordo com todos os detentores de seus títulos, ainda que a
maioria aceite renegociar.
Segundo a Folha apurou, a
equipe do ministro Palocci não
tem maiores restrições à adoção.
O governo Lula se recusava a aceitar a proposta da vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, de
reestruturação ordenada de dívida externa de emergentes.
Palocci temia que o simples fato
de adotar o mecanismo desenhado por Krueger despertasse receio
maior dos investidores estrangeiros em relação aos papéis brasileiros, fazendo com que eles cobrassem taxas mais altas para comprar títulos do país.
Mas o FMI praticamente abandonou a proposta de Krueger, por
não ter contado com o apoio dos
EUA, que defende as CACs.
A "cláusula de calote" já é usada
no mercado britânico, por exemplo -não seria uma novidade para os investidores. Os papéis mexicanos emitidos com as CACs
não tiveram aumento de custo em
relação às captações anteriores.
Os EUA defendem a CAC porque acreditam que, pela maior facilidade de reestruturação das dívidas, o FMI poderia reduzir os
socorros financeiros aos países
em crise. Assim, os EUA poderiam diminuir os aportes de capital no Fundo.
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