São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

A Bolsa e a trincheira pessimista

Ainda há quem preveja risco alto de estagflação nos EUA; especulação da vez é sobre a temporada de balanços

HOUVESSE UM TEATRINHO de marionetes do mercado global, Stephen Roach e Nouriel Roubini lá teriam seu papel de bonequinho mau, de porrete na mão. Roach é o economista-chefe do Morgan Stanley. Embora muito perspicaz, o pelintra já previu quatro das cinco últimas recessões que não aconteceram. Roubini é o catastrofista-júnior, professor da Universidade de Nova York e dirige o blog RGE Monitor, superlido por muito figurão das finanças e por economistas (www.rge.monitor.com).
Roach anda mais moderado, mas seus economistas no Morgan Stanley vez e outra falam em estagflação nos EUA. Isto é, crescimento caindo abaixo do nível potencial (uns 2,5%) e inflação insistentemente acima da "comfort zone" do Fed, a meta de inflação tácita deles.
Roubini acredita que o número de calotes na prestação da casa própria vai crescer, vai se espalhar além do mercado de segunda linha e afetar as finanças e a economia "real" por vários canais. Mais: que os indicadores antecedentes de atividade econômica estão estagnados em torno de níveis que indicam contração (na indústria) ou acelerando nessa direção (nos serviços). Outro indicador muito relevante, como o das despesas com máquinas e equipamentos, chegou ao pico no final do ano passado e teria começado seu ciclo de desaceleração neste ano.
E se eles estiverem certos? E o que isso tem a ver com o gráfico ao lado, sobre a Bovespa?
Caso se confirme o pior prognóstico, decerto algo ainda mais sério ocorreria além de tormentos na Bovespa. Mas a euforia dos últimos dias deveria ser temperada com um grão de sal, ainda que se dispense o saleiro de Roubini.
Em maio de 2006 o Fed deu a dica de que o ciclo de juros altos não teria acabado. Houve dois meses de turbulência. Do pico de 9 de maio de 2006, o Ibovespa mergulhou até 13 de junho, queda de quase 22%. A Bolsa voltou ao pico mais de seis meses depois. Neste ano, do pico de 22 de fevereiro o Ibovespa foi ao chão em sete pregões, com queda de 11%, e voltou ao céu em 27 pregões.
O susto deveu-se ao fato de o mundo ter se dado conta de que parte do mercado imobiliário americano derretia. Como não veio a explosão e os indicadores mais gerais da produção nos EUA continuam erráticos, a turma do mercado se acalmou.
Agora, a especulação da vez se dá em torno do debate sobre a desaceleração dos lucros das empresas. O ritmo de aumento do lucro das empresas americanas cairia para um quinto do que foi no ano passado, diz a Thomson Financial.
O sentido do rolo imobiliário americano ainda não é claro. A economia dos EUA desacelera, e a inflação ainda incomoda o Fed (vide a ata do Copom deles, que amuou os mercados ontem). A temporada de divulgação de balanços vai começar. E, parece, emoções o mercado ainda vai viver.


vinit@uol.com.br

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