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VINICIUS TORRES FREIRE
A Bolsa e a trincheira pessimista
Ainda há quem preveja risco alto de estagflação nos EUA; especulação da vez é sobre
a temporada de balanços
HOUVESSE UM TEATRINHO de
marionetes do mercado global, Stephen Roach e Nouriel Roubini lá teriam seu papel de
bonequinho mau, de porrete na
mão. Roach é o economista-chefe do
Morgan Stanley. Embora muito
perspicaz, o pelintra já previu quatro das cinco últimas recessões que
não aconteceram. Roubini é o catastrofista-júnior, professor da Universidade de Nova York e dirige o blog
RGE Monitor, superlido por muito
figurão das finanças e por economistas (www.rge.monitor.com).
Roach anda mais moderado, mas
seus economistas no Morgan Stanley vez e outra falam em estagflação nos EUA. Isto é, crescimento
caindo abaixo do nível potencial
(uns 2,5%) e inflação insistentemente acima da "comfort zone" do
Fed, a meta de inflação tácita deles.
Roubini acredita que o número de
calotes na prestação da casa própria
vai crescer, vai se espalhar além do
mercado de segunda linha e afetar as
finanças e a economia "real" por vários canais. Mais: que os indicadores
antecedentes de atividade econômica estão estagnados em torno de níveis que indicam contração (na indústria) ou acelerando nessa direção (nos serviços). Outro indicador
muito relevante, como o das despesas com máquinas e equipamentos,
chegou ao pico no final do ano passado e teria começado seu ciclo de
desaceleração neste ano.
E se eles estiverem certos? E o que
isso tem a ver com o gráfico ao lado,
sobre a Bovespa?
Caso se confirme o pior prognóstico, decerto algo ainda mais sério
ocorreria além de tormentos na Bovespa. Mas a euforia dos últimos
dias deveria ser temperada com um
grão de sal, ainda que se dispense o
saleiro de Roubini.
Em maio de 2006 o Fed deu a dica
de que o ciclo de juros altos não teria
acabado. Houve dois meses de turbulência. Do pico de 9 de maio de
2006, o Ibovespa mergulhou até 13
de junho, queda de quase 22%. A
Bolsa voltou ao pico mais de seis meses depois. Neste ano, do pico de 22
de fevereiro o Ibovespa foi ao chão
em sete pregões, com queda de 11%,
e voltou ao céu em 27 pregões.
O susto deveu-se ao fato de o mundo ter se dado conta de que parte do
mercado imobiliário americano
derretia. Como não veio a explosão e
os indicadores mais gerais da produção nos EUA continuam erráticos, a
turma do mercado se acalmou.
Agora, a especulação da vez se dá
em torno do debate sobre a desaceleração dos lucros das empresas. O
ritmo de aumento do lucro das empresas americanas cairia para um
quinto do que foi no ano passado, diz
a Thomson Financial.
O sentido do rolo imobiliário americano ainda não é claro. A economia
dos EUA desacelera, e a inflação ainda incomoda o Fed (vide a ata do Copom deles, que amuou os mercados
ontem). A temporada de divulgação
de balanços vai começar. E, parece,
emoções o mercado ainda vai viver.
vinit@uol.com.br
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