São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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Mais um diretor conservador deixa o BC

Rodrigo Azevedo, de Política Monetária, será substituído por Mario Gomes Torós, ex-vice-presidente do Santander

Azevedo era apontado como um dos diretores mais conservadores, assim como Afonso Bevilaqua, que havia saído do órgão em março


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciou ontem mais uma alteração na sua equipe. Após dois anos e meio no cargo, o diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, 42, será substituído pelo economista Mario Gomes Torós, 43, ex-vice-presidente do Santander.
A primeira mudança havia ocorrido no mês passado, com a demissão de Afonso Bevilaqua do cargo de diretor de Política Econômica. Assim como Bevilaqua, Azevedo era apontado como um dos diretores mais conservadores do BC, alvo constante de crítica de dentro e fora do governo, e alegou motivos pessoais para sua saída.
Para o lugar de Bevilaqua, foi deslocado um outro diretor do BC, Mário Mesquita. Para o de Azevedo, optou-se por mais um profissional do mercado financeiro. Ao contrário de seu antecessor, Torós tem pouca experiência acadêmica e construiu boa parte da carreira na tesouraria do Santander, entre 1992 e 2006.
Meirelles disse que a troca não deve levar a mudanças na condução da política cambial, uma das atribuições de Azevedo no Banco Central. Com a queda do dólar, crescem as pressões para que o BC atue de forma mais agressiva para evitar uma valorização excessiva do real.
"Política cambial não é definida pelo diretor de Política Monetária, ele só a implementa. Política cambial é definida pela diretoria colegiada do BC, dentro de uma política de governo", disse Meirelles.
A queda do dólar é motivo de polêmica mesmo dentro do governo, embora algumas mudanças tenham ocorrido recentemente. A ala crítica à política cambial do BC perdeu Julio Gomes de Almeida, que deixou a secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda no começo do mês, e Luiz Fernando Furlan, que, enquanto era ministro do Desenvolvimento, criticava o impacto que o real valorizado tinha sobre setores exportadores.
Ontem, Azevedo defendeu a atuação do BC no câmbio. "A política cambial vem sendo seguida pelo governo brasileiro já há alguma data e, no nosso entender, vem sendo bem-sucedida em atingir seus objetivos."
Desde 2004 o BC tem comprado dólares no mercado. Oficialmente, o motivo dessas operações é a necessidade de reforçar as reservas em moeda estrangeira do governo, embora o efeito indireto seja o de favorecer uma alta do dólar.
Nos últimos meses, porém, o BC tem intensificado sua ação no mercado de câmbio, mas não tem conseguido impedir a queda do dólar. Entre janeiro e março, foram comprados cerca de US$ 22 bilhões, valor elevado se for considerado que, ao longo de todo o ano de 2006, foram adquiridos US$ 34,3 bilhões.
Graças a essas compras, as reservas internacionais, que chegaram a ficar abaixo de US$ 20 bilhões em 2002, estão hoje no nível recorde de US$ 111 bilhões.
Segundo Meirelles, a mudança anunciada ontem foi a última a ser feita neste início de segundo mandato do presidente Lula, pois os demais diretores já manifestaram a intenção de permanecer no BC. Desde que formou sua equipe ao assumir a presidência do BC, em 2003, Meirelles já substituiu sete diretores, incluindo Azevedo.


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