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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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MÃO-LEVE

Ladrões provocam perdas que equivalem a 1% do faturamento do setor; redes varejistas investem em segurança

Furtos roubam lucro dos supermercados

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco produtos furtados, quatro dias detida no Cadeião de Pinheiros, cinco quilos mais magra. A dona-de-casa S.S.M., 20, foi presa em abril após furtar um creme dental, uma escova de dentes, um kit com três calcinhas e dois shorts de uma unidade do Extra no Jaguaré (zona oeste de SP).
Com a filha de três anos, ela conseguiu passar pelo caixa, onde pagou por alguns outros produtos. Acabou interceptada pela segurança ao sair de um banheiro da loja equipado com alarme antifurto. Não conseguiu negociar com os seguranças e foi levada para o 93º DP (Jaguaré).
Após quatro dias presa, a dona-de-casa conseguiu um alvará de soltura e aguarda julgamento.
A história de M. talvez fosse diferente se os hipermercados não estivessem travando uma verdadeira guerra contra os furtos, que reduzem as já apertadas margens de lucro.
Segundo pesquisa do Grupo de Prevenção de Perdas do Provar (Programa de Administração do Varejo) da USP, os furtos correspondem a 61,3% das perdas totais do setor supermercadista, que equivalem em média a 1,6% do faturamento. Ou seja, 1% do faturamento dos setor seria perdido com furtos.
As grandes redes alegam que o furto por impulso, cometido ocasionalmente por clientes como M., não é o que mais incomoda. O que pesaria mais nas perdas é o furto profissional, realizado com o objetivo de vender produtos para o comércio informal ou pequenos mercados.
"Existem grupos de pessoas que se organizam para furtar aos pouquinhos e depois vender para camelôs, por exemplo. O preço de lâminas de barbear e protetores solares, que são alguns dos produtos mais furtados, é relativamente alto", diz Mário Duarte, gerente de planejamento em prevenção de perdas do Pão de Açúcar. O mercado informal vende mais barato essas mercadorias.
Os profissionais do furto usariam estratégias como entrar em grupo no supermercado para desviar a atenção de seguranças. Utilizariam também menores, que despertam menos suspeitas. "Alguns adotam sacolas forradas de alumínio para inibir o sistema de antenas de etiquetas antifurto", diz Márcio Mota, gerente de prevenção de perdas da rede D'avó.
De acordo com empresas de segurança especializadas em varejo, quem furta profissionalmente vem se adaptando nos últimos anos para burlar o aparato de segurança que os supermercados adquiriram. "Os seguranças são orientados a agir com muita cautela. Por isso, muitos casos não chegam à delegacia", afirma Talma Bauer, chefe dos investigadores do 73º Distrito Policial, no Jaçanã, na zona norte de São Paulo.
Os próprios funcionários muitas vezes têm papel ativo nos furtos. Segundo a pesquisa do Grupo de Prevenção de Perdas do Provar, o furto interno é responsável por 29% das perdas totais, próximo aos 32,3% de clientes.

Etiquetas e câmeras
Segundo Luiz Fernando Biasetto, diretor da consultoria Gouvêa de Souza, as grandes redes olham o problema com atenção maior desde o Plano Real, quando a queda dos juros fez com que elas deixassem de lucrar com aplicações no mercado financeiro e passassem a contar principalmente com o lucro operacional, cada vez mais escasso nos últimos anos.
Um exemplo é o Pão de Açúcar, que desde 99 instituiu uma diretoria de prevenção de perdas. Na época, o prejuízo -contabilizado pelo grupo como metade oriundo de furtos e a outra metade de desperdício e gerenciamento inadequado de mercadorias- era de 2,2% sobre a venda bruta. No ano passado, o número foi de 1,3%.
As mudanças trazidas pelo investimento são visíveis nas lojas da rede, dona das bandeiras Pão de Açúcar, Extra e Barateiro. Cerca de 25% dos 4.000 produtos mais furtados são plastificados com etiquetas antifurto. Nas áreas de maior risco, o aviso: "Você está sendo filmado".
Os custos para a aquisição do sistema tecnológico, das etiquetas e da mão-de-obra para o serviço são repassados aos preços.

Consumo restrito
Além dos gastos com sistemas de segurança, pessoal e treinamento de funcionários, as grandes redes utilizam determinadas táticas para inibir o furto. Uma delas é confinar, ou seja, esconder determinados produtos. Isso é feito principalmente com bebidas caras e cigarros. O problema: as vendas caem em média 40%.
Outra estratégia é colocar parte dos produtos de maior risco, como lâminas de barbear, protetores solares e filmes fotográficos, próximos ao caixa, de maneira que os funcionários tenham maior controle sobre eles.
"Isso ajuda de duas formas: incentiva o impulso da compra e inibe o impulso do furto", afirma Antonio Freitas, diretor de logística do Sonae (bandeiras BIG, Cândia, Mercadorama e Nacional).
No ano passado, o grupo investiu cerca de R$ 2,5 milhões apenas em equipamentos de segurança. "Evitamos 40 mil furtos, ou seja, um terço da nossa média anual."
Segundo os supermercados, não são apenas os produtos menores que desaparecem das gôndolas. As grandes redes afirmam que itens mais difíceis de esconder, como tintura para cabelo e até peças de carne bovina e bacalhau, também são bastante furtados. Nesses casos, os clientes escondem a carne em bolsas, sacolas ou embaixo das roupas.
O furto de carnes congeladas é tão frequente que empresas de segurança no varejo criaram uma etiqueta antifurto especial para baixas temperaturas.


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