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Indústria quer comitê de gestão de política
Dirigentes dizem que boas intenções da política industrial precisam de acompanhamento para serem implementadas
Preocupação é a de que indústrias pequenas e médias também tenham acesso ao pacote de estímulos anunciado hoje
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor empresarial elegeu a
formação de um comitê de gestão da nova política industrial
como ponto central de cobrança a partir de hoje, quando o segundo pacote de medidas de estímulo à indústria for anunciado pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em evento no Rio
de Janeiro.
De acordo com lideranças
empresariais ouvidas pela Folha, o anúncio de políticas industriais traz sempre medidas
importantes que podem beneficiar a produção, mas que não
chegam ao destino, principalmente nas pequenas e médias
empresas.
Os empresários cobram a
montagem de um comitê de
gestão e monitoramento da nova política industrial, com a
participação de entidades empresariais e o governo.
"Pelas dados que se tem, a
nova política industrial é bastante positiva. Mas o que não
pode ocorrer com essa segunda
versão é o que ocorreu com a
anterior: não ter um sistema de
gestão, com definição de metas
daquilo que deve acontecer.
Desse jeito, medidas importantes não saem do papel", disse
José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de
Competitividade e Tecnologia
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para Juan Quirós, vice-presidente da Fiesp e ex-presidente
da Apex (Agência Brasileira de
Promoção de Exportação e Investimento), só a gestão e o
controle da nova política industrial podem permitir que medidas importantes possam alcançar a pequena e média empresa,
que, em geral, é excluída das
vantagens das ações de governo.
Agentes lentos
Quirós participou da formulação do primeiro pacote de política industrial do governo Lula e lembra que medidas de desoneração chegam muito mais
rápido ao setor industrial do
que aquelas que dependem de
outros agentes, como os bancos.
"A MP do Bem, por exemplo,
desonerou a cadeia da construção civil e a indústria de bens de
informática. A partir dali, a
construção civil e a venda de
computadores ganharam impulso", afirmou Quirós.
Por outro lado, segundo Quirós, o acesso a recursos financeiros para investimento e custeio é o problema mais complicado. Ele sugere que a política
industrial deve observar as limitações impostas aos pequenos e médios empresários na
obtenção de linhas de financiamento.
"As garantias exigidas chegam a ser de 130% do valor pleiteado. Fora grandes corporações de setores organizados,
ninguém mais consegue assegurar um nível desses de garantia. Só isso já exclui uma quantidade enorme de empresas",
afirmou ele.
Uma das metas que o governo deverá buscar é a elevação
em 10% no número de empresas exportadoras. Hoje, cerca
de 9.000 empresas exportam.
Para Quirós, uma política industrial isonômica pode potencialmente ser excludente. "Não
há como exigir de pequenas e
médias empresas as garantias
que grandes empresas podem
dar. Acho que um grupo de gestão da nova política industrial
deveria ficar atento a isso", afirma.
(AGNALDO BRITO)
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