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Diplomacia de Powell não impressiona América Latina
GUY DINMORE
DO "FINANCIAL TIMES", EM SANTIAGO
"Jardinagem diplomática." Foi
essa a forma como o secretário de
Estado norte-americano, Colin
Powell, descreveu sua visita à Argentina, na terça-feira. Do ponto
de vista latino-americano, a opinião é a de que os EUA precisarão
se esforçar muito mais.
Os problemas da América Latina são mais antigos e vão mais
fundo do que a simples insatisfação pública com relação à guerra
norte-americana no Iraque e a recusa do Chile e do México em
apoiar uma resolução dos EUA
para autorizar a guerra, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
Resumindo de maneira simples, como explicou o embaixador de um país do Caribe durante
a assembléia geral anual da OEA
(Organização dos Estados Americanos), na segunda-feira, em Santiago: a região se sentiu abandonada pelos EUA depois dos ataques terroristas de 11 de setembro
de 2001 e teve de pagar o preço
dessa negligência.
"Não haverá aceitação incondicional das propostas americanas", disse o embaixador quanto
aos esforços de Powell para reparar os danos diplomáticos e sobre
o pedido dele de pressão coordenada para que Cuba acelere sua
transição democrática.
Em conversa com repórteres,
um importante funcionário da
OEA, que pediu para não ser
identificado, expressou frustração quanto à maneira pela qual os
EUA e o FMI "trataram equivocadamente" as crises políticas e econômicas na região durante os últimos dois anos.
O funcionário acusou o ex-secretário do Tesouro norte-americano Paul O'Neill de fazer declarações "ofensivas" e "estúpidas"
sobre o Brasil e a Argentina, que
causaram "danos substanciais".
O envio pelos EUA de um funcionário de cargo relativamente
insignificante à posse de Néstor
Kirchner reforçou a sensação de
que a região vem sendo ignorada
e caiu em desgraça. "Os EUA precisam compreender que essa política de distanciamento não funcionou. Eles têm de ajudar mais",
comentou o alto funcionário.
A renda per capita latino-americana está estagnada desde 1998, o
desemprego atinge níveis recordes e a economia da região já contraiu cerca de 1% neste ano. "Há o
perigo de que, caso as economias
fracassem, as pessoas procurem
soluções distantes das vias democráticas", disse Bill Graham, ministro do Exterior do Canadá.
César Gaviria, secretário-geral
da OEA, abriu a sessão com um
alerta: a instabilidade e fuga de capitais -"a característica mais indesejável da globalização"-
eram "o maior obstáculo" à democracia na região.
Cicatrização
Uma conferência de cúpula das
Américas, que será realizada neste ano no México, tratará da pobreza e da crise econômica.
A decisão do presidente George
W. Bush de comparecer foi descrita por um embaixador como
parte do "processo de cicatrização" entre os EUA e a América Latina, especialmente porque o anfitrião será o presidente do México,
Vicente Fox, cuja relação -um
dia íntima com Bush- se deteriorou seriamente depois de setembro de 2001.
O Conselho sobre Assuntos Hemisféricos, uma organização independente, disse que o governo
de Ricardo Lagos, no Chile, praticamente "rastejou" em seus esforços por receber Powell, depois da
assinatura de um acordo de livre
comércio entre o Chile e os EUA
na semana passada.
Mas o grupo duvida que as relações com o México possam ser reparadas com igual rapidez, devido à má vontade gerada pelo insucesso na conclusão de um acordo que tinha por objetivo regularizar a situação de milhares de
imigrantes mexicanos nos EUA.
O acordo proposto foi vítima das
preocupações de segurança que
surgiram nos EUA depois dos ataques terroristas.
A entidade disse que prevê o
surgimento de divisões acentuadas entre "um crescente bloco político de líderes sul-americanos de
centro-esquerda liderado por Lula, fortemente orientado ao multilateralismo e a uma política social
progressista, e o governo Bush,
unilateralista e defensor do livre
comércio".
Tradução de Paulo Migliacci
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