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Empresas capacitam até não-funcionário
Vale oferecerá ao público neste ano primeiro curso superior; Petrobras formará 30 mil antes de contratar para refinaria
Formados podem adquirir experiência antes mesmo de possível contratação; país hoje tem carência de mão-de-obra especializada
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A falta de mão-de-obra qualificada em quase todos os níveis
de escolaridade está levando
grandes empresas brasileiras a
investirem não apenas no treinamento de seus funcionários
como na formação de trabalhadores terceirizados ou até sem
vínculo com a companhia.
É o que estão fazendo neste
ano, por exemplo, a Petrobras e
a Vale do Rio Doce. A Vale começa neste ano a oferecer cursos superiores abertos não apenas aos funcionários.
O primeiro curso de nível superior a funcionar nesse formato foi acertado na semana passada com a Universidade Federal do Pará, na área de tecnologia mineral, com 20 vagas para
funcionários e 16 para o público
externo. A empresa já negocia
também um curso no mesmo
formato em São Luís (MA).
Mesmo em áreas em que já
eram oferecidas vagas a funcionários terceirizados ou sem
vínculo com a Vale, a empresa
pretende ampliar a oferta em
cursos de formação para trabalhadores de fora.
"É importante para a estratégia da empresa ter não apenas
seus funcionários bem qualificados. Ao abrir mais vagas num
curso para pessoas de fora, eu
consigo diluir meu custo de formação. Quando precisarmos de
mão-de-obra capacitada para
uma função, não teremos mais
que começar do zero e formar
essas pessoas. Elas já estarão
no mercado", diz Dayse Gomes,
gerente-geral de Desenvolvimento de Pessoas da Vale.
Em algumas áreas, a Vale teve mesmo que começar do zero.
O exemplo mais conhecido foi
na formação de maquinistas,
necessários para transportar a
produção de minério da empresa.
A função estava em declínio
junto com o meio de transporte, agora revigorado.
"Até o ano passado, quase todos os maquinistas que formávamos eram contratados pela
empresa. Agora, temos condições de formar mais gente sem,
necessariamente, absorver todos. Isso é bom para a Vale, para o mercado e para o trabalhador, que ganha uma qualificação e pode ser aproveitado por
outra empresa", afirma Gomes.
Na Petrobras, o mesmo dilema foi enfrentado no momento
em que foi decidido que seria
construída uma nova refinaria
de petróleo em Itaboraí (RJ).
"Quando foi definido que a
refinaria seria instalada ali, verificamos que o grau de qualificação da mão-de-obra da região
era muito baixo, reflexo do nível socioeconômico local.
"Com base em outras experiências da Petrobras que não
se revelaram bem-sucedidas,
sabíamos que havia o risco
grande de criar uma quantidade enorme de trabalhadores
excluídos", diz Victor Pais, gerente-geral de implantação do
Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro.
Para evitar que os trabalhadores locais não aproveitassem
as ofertas de emprego que surgirão com a refinaria, a Petrobras decidiu oferecer 30 mil vagas em cursos gratuitos -as
inscrições começam nesta semana- em 78 áreas, das mais
básicas (78% do total) ao nível
técnico (21%) ou superior (1%).
"Ninguém terá vaga garantida após o curso, mas essas pessoas estarão mais qualificadas
para aproveitar as oportunidades que surgirão direta ou indiretamente com a construção da
refinaria", diz Pais.
Essa estratégia da Petrobras
não é restrita apenas a Itaboraí
e vizinhos. A carência de mão-de-obra qualificada em todo o
Brasil já foi detectada em estudos como o do Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e
Gás Natural), iniciativa do governo da qual a empresa participa. Pelo Prominp, a previsão é
que 70 mil pessoas recebam
formação em 150 categorias
profissionais consideradas críticas pelo mercado.
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