São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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Empresas capacitam até não-funcionário

Vale oferecerá ao público neste ano primeiro curso superior; Petrobras formará 30 mil antes de contratar para refinaria

Formados podem adquirir experiência antes mesmo de possível contratação; país hoje tem carência de mão-de-obra especializada


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A falta de mão-de-obra qualificada em quase todos os níveis de escolaridade está levando grandes empresas brasileiras a investirem não apenas no treinamento de seus funcionários como na formação de trabalhadores terceirizados ou até sem vínculo com a companhia.
É o que estão fazendo neste ano, por exemplo, a Petrobras e a Vale do Rio Doce. A Vale começa neste ano a oferecer cursos superiores abertos não apenas aos funcionários.
O primeiro curso de nível superior a funcionar nesse formato foi acertado na semana passada com a Universidade Federal do Pará, na área de tecnologia mineral, com 20 vagas para funcionários e 16 para o público externo. A empresa já negocia também um curso no mesmo formato em São Luís (MA).
Mesmo em áreas em que já eram oferecidas vagas a funcionários terceirizados ou sem vínculo com a Vale, a empresa pretende ampliar a oferta em cursos de formação para trabalhadores de fora.
"É importante para a estratégia da empresa ter não apenas seus funcionários bem qualificados. Ao abrir mais vagas num curso para pessoas de fora, eu consigo diluir meu custo de formação. Quando precisarmos de mão-de-obra capacitada para uma função, não teremos mais que começar do zero e formar essas pessoas. Elas já estarão no mercado", diz Dayse Gomes, gerente-geral de Desenvolvimento de Pessoas da Vale.
Em algumas áreas, a Vale teve mesmo que começar do zero. O exemplo mais conhecido foi na formação de maquinistas, necessários para transportar a produção de minério da empresa.
A função estava em declínio junto com o meio de transporte, agora revigorado.
"Até o ano passado, quase todos os maquinistas que formávamos eram contratados pela empresa. Agora, temos condições de formar mais gente sem, necessariamente, absorver todos. Isso é bom para a Vale, para o mercado e para o trabalhador, que ganha uma qualificação e pode ser aproveitado por outra empresa", afirma Gomes.
Na Petrobras, o mesmo dilema foi enfrentado no momento em que foi decidido que seria construída uma nova refinaria de petróleo em Itaboraí (RJ).
"Quando foi definido que a refinaria seria instalada ali, verificamos que o grau de qualificação da mão-de-obra da região era muito baixo, reflexo do nível socioeconômico local.
"Com base em outras experiências da Petrobras que não se revelaram bem-sucedidas, sabíamos que havia o risco grande de criar uma quantidade enorme de trabalhadores excluídos", diz Victor Pais, gerente-geral de implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.
Para evitar que os trabalhadores locais não aproveitassem as ofertas de emprego que surgirão com a refinaria, a Petrobras decidiu oferecer 30 mil vagas em cursos gratuitos -as inscrições começam nesta semana- em 78 áreas, das mais básicas (78% do total) ao nível técnico (21%) ou superior (1%).
"Ninguém terá vaga garantida após o curso, mas essas pessoas estarão mais qualificadas para aproveitar as oportunidades que surgirão direta ou indiretamente com a construção da refinaria", diz Pais.
Essa estratégia da Petrobras não é restrita apenas a Itaboraí e vizinhos. A carência de mão-de-obra qualificada em todo o Brasil já foi detectada em estudos como o do Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural), iniciativa do governo da qual a empresa participa. Pelo Prominp, a previsão é que 70 mil pessoas recebam formação em 150 categorias profissionais consideradas críticas pelo mercado.


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