São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

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Oposição busca ligar governo ao caso; aliados minimizam pressão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de mais de 13 horas de depoimento tenso, uma prova de resistência sem direito a almoço, os líderes do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e do PT, Ideli Salvatti (SC), tentaram amenizar a pressão que Denise Abreu disse ter sido imposta à Anac. Mas admitiram a interferência do governo no episódio. "Ela chama de pressão uma coisa que nós achamos ser preocupação do governo", disse a petista. "Houve pressão de todos os lados. O governo só cobrou procedimento para a Anac dar suporte à Justiça", completou Jucá.
Base e oposição trocaram os papéis protagonizados durante a CPI do Apagão, em 2007. Enquanto os aliados do Palácio do Planalto tentavam desqualificar as denúncias apresentadas pela ex-diretora da Anac, tucanos e democratas faziam de tudo para arrancar declarações de como a Casa Civil interferiu no processo.
Os membros da base tentaram formular os próprios questionamentos com a ajuda de sete páginas impressas em preto e amarelo com detalhes do processo de venda da Varig -era um resumo distribuído pelo gabinete do ministro José Múcio (Relações Institucionais) com erros factuais, como o número de leilões para a venda.
A oposição recorreu a uma apresentação animada em computador e a documentos como uma carta de desabafo que teria sido escrita pelo ex-presidente da Anac Milton Zuanazzi. Denise disse que tratava-se de um e-mail para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) que foi disponibilizado na rede interna da Anac para todos os 1.800 funcionários. Zuanazzi voltou a dizer que o conteúdo da carta a Dilma foi forjado. "Não reconheço."
A base não permitiu uma acareação entre Zuanazzi e Denise Abreu. Os outros convidados para a audiência só começaram a prestar depoimento sete horas depois de iniciada a sessão. "Parece que o líder [Romero] Jucá tem uma procuração para falar em nome de Milton Zuanazzi", falou o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA).
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também brincou com o líder do governo, que acabara de quebrar um copo. "Ele não consumiu o Lexotan de praxe", disse, referindo-se ao notório ansiolítico.
Os depoimentos, que começaram às 10h e acabaram por volta das 23h, foram extenuantes para os presentes. Denise queixou-se várias vezes de que não lhe foi permitido um intervalo para almoçar. Senadores falaram em "respostas prejudicadas" pelo cansaço.
O momento mais tenso do depoimento foi uma ameaça de bate-boca entre Denise e Wellington Salgado (PMDB-MG), que disse que a ex-diretora passou por uma "transformação espiritual" que criou uma "nova Denise", análoga à "nova Varig". Denise reagiu incisivamente e foi defendida por Arthur Virgílio -que pediu ao colega mais cortesia. Salgado ainda tentou dizer que não quis ser agressivo.


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