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Indústria também pede juro de longo prazo menor
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com a Selic em patamar historicamente baixo (9,25% ao
ano), empresários pressionam
o governo para desonerar também os empréstimos que financiam investimentos de longo
prazo da indústria.
Segundo a Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), o custo total de linhas
de crédito do BNDES chega a
11,45% ao ano quando a taxa de
juros de longo prazo cobrada
nos empréstimos é somada aos
"spreads" das instituições financeiras que repassam o crédito do banco público às empresas. "Spread" é a diferença
entre o custo que os bancos têm
para captar recursos e as taxas
que os clientes pagam por eles.
A chamada TJLP (Taxa de
Juros de Longo Prazo), atualmente em 6,25% ao ano, é a referência para os empréstimos
do BNDES. E, diferentemente
da Selic (taxa básica de juros),
que caiu 4,5 pontos percentuais
desde janeiro, a TJLP se mantém estável desde julho de
2007. Ela é revisada trimestralmente e será analisada novamente no próximo dia 30.
Para a Fiesp, embora o
BNDES já tenha anunciado, em
maio, cortes de juros para algumas das linhas de financiamento, a diminuição dos juros de
longo prazo é fundamental para estimular os empresários a
desengavetar seus projetos.
De acordo com levantamento da federação das indústrias,
à TJLP de 6,25% somam-se
"spreads" de até 4,20 pontos
percentuais ao ano cobrados
pelos bancos repassadores dos
empréstimos. O estudo mostra
que, quanto menor a empresa,
mais caro é o custo final do crédito. Para microempresas, é de
11,45% ao ano. Para pequenas,
médias e grandes companhias,
os valores são de 10,95%,
10,25% e 9,35%.
José Ricardo Roriz Coelho,
diretor do Departamento de
Competitividade e Tecnologia
da Fiesp, afirma que o "spread"
cobrado pelos bancos para repassar as linhas de crédito do
BNDES é menor do que o cobrado em linhas não vinculadas
ao banco estatal. Segundo Coelho, os "spreads" para pessoas
jurídicas em linhas oferecidas
diretamente pelos bancos é, no
mínimo, de 18 pontos percentuais mais a Selic.
Efeito do juro menor
Segundo a Fiesp, se a taxa de
juros de longo prazo caísse um
ponto percentual, a demanda
por empréstimos no BNDES
cresceria R$ 2,7 bilhões. O diretor avalia que esse incremento
seria significativo para frear a
queda dos investimentos.
Os pedidos de crédito ao
BNDES para a aquisição de máquinas e equipamentos, que
servem para modernizar e ampliar a capacidade da indústria,
caíram 50% em maio em relação ao mesmo mês de 2008.
"Se no primeiro momento da
crise o entrave para a indústria
foi a falta de crédito, agora a
principal barreira é a queda
brusca nos investimentos", diz
Coelho. Estimativa da federação aponta que a indústria deve
reduzir investimentos de R$
102,5 bilhões em 2008 para R$
76,2 bilhões neste ano.
A queda do nível de investimentos foi um dos principais
responsáveis pela retração da
economia brasileira no quarto
trimestre do ano passado e nos
primeiros três meses deste ano.
Segundo especialistas, a freada
nos investimentos dificulta a
retomada do crescimento.
O diretor da Fiesp argumenta que, com o cenário recessivo
no Brasil, é improvável que o
país atinja a meta de investir
21% do PIB até 2010 -esse índice caiu de 18,4% para 16,6%
entre os primeiros trimestres
de 2008 e 2009. "Dificilmente
chegaremos à taxa de 18% neste
ano. A China investe 40% do
PIB, e a Índia, 34%. Se a taxa de
juros de longo prazo não cair,
perderemos competitividade."
A pesquisa da Fiesp mostra
que a taxa de juros de longo
prazo no Brasil é maior do que a
cobrada em operações similares em outros países. Reino
Unido, Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Japão têm juros
médios de longo prazo entre
1,1% e 2,8% ao ano, ante a taxa
de 6,25% ao ano no Brasil.
Para Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq (Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), o país
perde competitividade em razão do custo dos empréstimos.
"O maior concorrente que temos no Brasil não é a indústria
chinesa, são os bancos da esquina." Ele afirma que, mesmo
recorrendo ao BNDES, que
oferece as melhores linhas para
os investimentos dos empresários, o "spread" cobrado pelos
bancos comerciais desestimula
a retomada de crédito.
Para Aubert Neto, o governo
deveria pressionar os bancos
para reduzirem os "spreads" e,
assim, incentivar os empresários a comprarem máquinas
novas e substituírem as atuais.
"O país tem que fazer esse incentivo de renovação do parque industrial."
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