São Paulo, sexta-feira, 12 de junho de 2009

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Indústria também pede juro de longo prazo menor

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com a Selic em patamar historicamente baixo (9,25% ao ano), empresários pressionam o governo para desonerar também os empréstimos que financiam investimentos de longo prazo da indústria.
Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o custo total de linhas de crédito do BNDES chega a 11,45% ao ano quando a taxa de juros de longo prazo cobrada nos empréstimos é somada aos "spreads" das instituições financeiras que repassam o crédito do banco público às empresas. "Spread" é a diferença entre o custo que os bancos têm para captar recursos e as taxas que os clientes pagam por eles.
A chamada TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), atualmente em 6,25% ao ano, é a referência para os empréstimos do BNDES. E, diferentemente da Selic (taxa básica de juros), que caiu 4,5 pontos percentuais desde janeiro, a TJLP se mantém estável desde julho de 2007. Ela é revisada trimestralmente e será analisada novamente no próximo dia 30.
Para a Fiesp, embora o BNDES já tenha anunciado, em maio, cortes de juros para algumas das linhas de financiamento, a diminuição dos juros de longo prazo é fundamental para estimular os empresários a desengavetar seus projetos.
De acordo com levantamento da federação das indústrias, à TJLP de 6,25% somam-se "spreads" de até 4,20 pontos percentuais ao ano cobrados pelos bancos repassadores dos empréstimos. O estudo mostra que, quanto menor a empresa, mais caro é o custo final do crédito. Para microempresas, é de 11,45% ao ano. Para pequenas, médias e grandes companhias, os valores são de 10,95%, 10,25% e 9,35%.
José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, afirma que o "spread" cobrado pelos bancos para repassar as linhas de crédito do BNDES é menor do que o cobrado em linhas não vinculadas ao banco estatal. Segundo Coelho, os "spreads" para pessoas jurídicas em linhas oferecidas diretamente pelos bancos é, no mínimo, de 18 pontos percentuais mais a Selic.

Efeito do juro menor
Segundo a Fiesp, se a taxa de juros de longo prazo caísse um ponto percentual, a demanda por empréstimos no BNDES cresceria R$ 2,7 bilhões. O diretor avalia que esse incremento seria significativo para frear a queda dos investimentos.
Os pedidos de crédito ao BNDES para a aquisição de máquinas e equipamentos, que servem para modernizar e ampliar a capacidade da indústria, caíram 50% em maio em relação ao mesmo mês de 2008.
"Se no primeiro momento da crise o entrave para a indústria foi a falta de crédito, agora a principal barreira é a queda brusca nos investimentos", diz Coelho. Estimativa da federação aponta que a indústria deve reduzir investimentos de R$ 102,5 bilhões em 2008 para R$ 76,2 bilhões neste ano.
A queda do nível de investimentos foi um dos principais responsáveis pela retração da economia brasileira no quarto trimestre do ano passado e nos primeiros três meses deste ano. Segundo especialistas, a freada nos investimentos dificulta a retomada do crescimento.
O diretor da Fiesp argumenta que, com o cenário recessivo no Brasil, é improvável que o país atinja a meta de investir 21% do PIB até 2010 -esse índice caiu de 18,4% para 16,6% entre os primeiros trimestres de 2008 e 2009. "Dificilmente chegaremos à taxa de 18% neste ano. A China investe 40% do PIB, e a Índia, 34%. Se a taxa de juros de longo prazo não cair, perderemos competitividade."
A pesquisa da Fiesp mostra que a taxa de juros de longo prazo no Brasil é maior do que a cobrada em operações similares em outros países. Reino Unido, Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Japão têm juros médios de longo prazo entre 1,1% e 2,8% ao ano, ante a taxa de 6,25% ao ano no Brasil.
Para Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), o país perde competitividade em razão do custo dos empréstimos. "O maior concorrente que temos no Brasil não é a indústria chinesa, são os bancos da esquina." Ele afirma que, mesmo recorrendo ao BNDES, que oferece as melhores linhas para os investimentos dos empresários, o "spread" cobrado pelos bancos comerciais desestimula a retomada de crédito.
Para Aubert Neto, o governo deveria pressionar os bancos para reduzirem os "spreads" e, assim, incentivar os empresários a comprarem máquinas novas e substituírem as atuais. "O país tem que fazer esse incentivo de renovação do parque industrial."


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