São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

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DESAQUECIMENTO

Crises argentina e energética explicam queda no volume das solicitações de empréstimos para investimentos

Freada derruba pedido de crédito ao BNDES

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O volume dos pedidos de financiamento de empresas ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) despencou 39% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Também caiu o valor total dos empréstimos em fase inicial de análise, com retração de 48%.
A queda é uma indicação clara da desaceleração da economia do país. Os empréstimos do banco têm taxas menores do que as cobradas pelo mercado financeiro. Por isso, são procurados, em geral, por empresas com planos de investimentos de longo prazo e que exigem muitos recursos.
O próprio BNDES reconhece que a crise da Argentina e seus desdobramentos no país -alta do dólar e dos juros- são os principais motivos para a queda dos pedidos de financiamento.
Apesar da redução nas consultas, o levantamento do banco, obtido com exclusividade pela Folha, traz dados positivos: em relação ao primeiro semestre do ano passado, cresceram em 68% as aprovações de financiamentos e em 57% os desembolsos de recursos do banco.
"As consultas de ontem são os financiamentos de hoje", comenta Paulo Sérgio Moreira da Fonseca, superintendente da área de planejamento do BNDES.
Economistas ouvidos pela Folha afirmam que a crise de energia e o crescimento menor da economia neste ano, em razão da piora do cenário macroeconômico, são responsáveis pela cautela do empresariado na hora de buscar o crédito.
"Não tenho dúvida que, de fato, a preocupação com a crise de energia afetou profundamente as intenções de investimento", diz Luiz Roberto Cunha, professor de economia da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
"Como o empresário vai investir em um país que não tem assegurada a oferta de energia?", questiona o professor de economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Lauro Vieira de Faria.

Em segundo plano
Para Moreira da Fonseca, do BNDES, ainda é cedo para dizer se a crise de energia afetou as consultas ao banco. Mas, mesmo assim, ele afirma que essa pode ser, em segundo plano -atrás da crise argentina-, uma das razões para a queda dos pedidos de empréstimo.
De acordo com o superintendente, as consultas ao banco traduzem o interesse das empresas em investir. Mas, com a crise argentina e a desaceleração nos EUA e na Europa, as empresas frearam seus planos de expansão.
"O empresário só atua com um nível de segurança elevado. Com qualquer nuvem mais escura, ele dá uma parada."
Mas o superintendente do BNDES faz uma ressalva: "No ano passado, entraram consultas pesadas nos setores de telecomunicações e transporte aéreo, principalmente. Isso fez com que primeiro semestre de 2000 fosse excepcionalmente bom, o que pode ter gerado um efeito estatístico [desfavorecendo a comparação com o primeiro semestre de 2001"".
Segundo ele, existe um ciclo natural de investimento, pois "as empresas não vão ao BNDES todos os anos". O superintendente afirma que, no ano passado -ápice desse ciclo-, muitas buscaram financiamentos, que estão agora em fase de maturação.
A economista Camila Lima, do Santander, concorda com a análise. "Com o otimismo em relação à economia no ano passado, pode ter havido uma concentração extraordinária de pedidos de crédito", afirmou.

Queda do PIB
O economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, afirma que está havendo uma forte desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto), o que desestimula os investimentos do setor privado. "Ele [o empresário" não vai ampliar seu negócio sem ter perspectiva de para quem vender seus produtos."
Para Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, a retração dos financiamentos não se restringe ao BNDES. Segundo ele, a elevação da taxa de juros e o aumento do risco de moratória na Argentina fizeram com que "houvesse uma retração brutal na oferta de crédito do sistema bancário, limitando o financiamento às empresas".



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