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DESAQUECIMENTO
Crises argentina e energética explicam queda no volume das solicitações de empréstimos para investimentos
Freada derruba pedido de crédito ao BNDES
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O volume dos pedidos de financiamento de empresas ao BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) despencou 39% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Também caiu o valor total dos
empréstimos em fase inicial de
análise, com retração de 48%.
A queda é uma indicação clara
da desaceleração da economia do
país. Os empréstimos do banco
têm taxas menores do que as cobradas pelo mercado financeiro.
Por isso, são procurados, em geral, por empresas com planos de
investimentos de longo prazo e
que exigem muitos recursos.
O próprio BNDES reconhece
que a crise da Argentina e seus
desdobramentos no país -alta
do dólar e dos juros- são os
principais motivos para a queda
dos pedidos de financiamento.
Apesar da redução nas consultas, o levantamento do banco, obtido com exclusividade pela Folha, traz dados positivos: em relação ao primeiro semestre do ano
passado, cresceram em 68% as
aprovações de financiamentos e
em 57% os desembolsos de recursos do banco.
"As consultas de ontem são os
financiamentos de hoje", comenta Paulo Sérgio Moreira da Fonseca, superintendente da área de
planejamento do BNDES.
Economistas ouvidos pela Folha afirmam que a crise de energia
e o crescimento menor da economia neste ano, em razão da piora
do cenário macroeconômico, são
responsáveis pela cautela do empresariado na hora de buscar o
crédito.
"Não tenho dúvida que, de fato,
a preocupação com a crise de
energia afetou profundamente as
intenções de investimento", diz
Luiz Roberto Cunha, professor de
economia da PUC-Rio (Pontifícia
Universidade Católica do Rio de
Janeiro).
"Como o empresário vai investir em um país que não tem assegurada a oferta de energia?",
questiona o professor de economia da FGV (Fundação Getúlio
Vargas), Lauro Vieira de Faria.
Em segundo plano
Para Moreira da Fonseca, do
BNDES, ainda é cedo para dizer se
a crise de energia afetou as consultas ao banco. Mas, mesmo assim, ele afirma que essa pode ser,
em segundo plano -atrás da crise argentina-, uma das razões
para a queda dos pedidos de empréstimo.
De acordo com o superintendente, as consultas ao banco traduzem o interesse das empresas
em investir. Mas, com a crise argentina e a desaceleração nos
EUA e na Europa, as empresas
frearam seus planos de expansão.
"O empresário só atua com um
nível de segurança elevado. Com
qualquer nuvem mais escura, ele
dá uma parada."
Mas o superintendente do
BNDES faz uma ressalva: "No ano
passado, entraram consultas pesadas nos setores de telecomunicações e transporte aéreo, principalmente. Isso fez com que primeiro semestre de 2000 fosse excepcionalmente bom, o que pode
ter gerado um efeito estatístico
[desfavorecendo a comparação
com o primeiro semestre de
2001"".
Segundo ele, existe um ciclo natural de investimento, pois "as
empresas não vão ao BNDES todos os anos". O superintendente
afirma que, no ano passado
-ápice desse ciclo-, muitas
buscaram financiamentos, que
estão agora em fase de maturação.
A economista Camila Lima, do
Santander, concorda com a análise. "Com o otimismo em relação à
economia no ano passado, pode
ter havido uma concentração extraordinária de pedidos de crédito", afirmou.
Queda do PIB
O economista Carlos Thadeu de
Freitas, ex-diretor do Banco Central, afirma que está havendo uma
forte desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto), o que desestimula os investimentos do setor
privado. "Ele [o empresário" não
vai ampliar seu negócio sem ter
perspectiva de para quem vender
seus produtos."
Para Luiz Roberto Cunha, da
PUC-Rio, a retração dos financiamentos não se restringe ao
BNDES. Segundo ele, a elevação
da taxa de juros e o aumento do
risco de moratória na Argentina
fizeram com que "houvesse uma
retração brutal na oferta de crédito do sistema bancário, limitando
o financiamento às empresas".
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