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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Cidades digitais são nova referência ao desenvolvimento
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Ocorreu há dois anos, em
Kyoto, Japão, um encontro
internacional sobre cidades digitais. O próximo simpósio
acontece em outubro. Passada a
euforia com as "startups" virtuais (as empresas feitas de internet cujo ideal era fazer um
lançamento de sucesso das suas
ações na Bolsa de NY), nos últimos anos houve ao mesmo tempo o estouro da bolha especulativa em Wall Street e o início de
outro ciclo, cuja principal imagem é a da "cidade digital".
Há o risco de considerar que
essa imagem é puramente metafórica ou mesmo uma espécie de
caso especial do fenômeno contemporâneo de explosão de novas formas de vida digital.
Claro que há muito de metáfora e até poesia em projetos de cidades virtuais ou digitais.
No entanto construir cidades
digitais é muito mais que isso.
Afinal, o que também parece ter
chegado a um ponto de exaustão, nos últimos anos, foi a ilusão individualista de uma rede
mundial que se poderia frequentar do mesmo modo como
se visitam canais de televisão
(ganhou força a cultura do "zapping", ou seja, do movimento
errático entre canais de TV).
Essas formas de uso das redes
de comunicação, que reforçam
as inclinações mais egoístas,
sempre terão o seu lugar. No entanto, mesmo no seu estágio
atual, boa parte da atividade
mais lucrativa ou produtiva na
rede está ligada à formação de
comunidades.
A mais efêmera é, em geral, a
sala de bate-papo. Mas a partir
disso há uma gradação que passa pelas listas de discussão, pelos
sites de comunidades de especialistas e chega, no extremo
mais sofisticado, aos sistemas de
gestão de conhecimento.
Na definição técnica, uma cidade digital é uma "plataforma
de fomento à formação de redes
comunitárias" (essa é a definição usada no site de 1999 do grupo de Kyoto, que pode ser acessada em www.digitalcity.gr.jp/meetings/kyoto-meeting).
Se o foco da rede passa do indivíduo para as energias que a
coletividade pode mobilizar por
meio de estratégias inteligentes
de cooperação, surge uma outra
informática, indissociável do
desenvolvimento econômico e
social. Fica em primeiro plano o
combate à exclusão, não só digital como das redes de produção
de conhecimento que são portais de acesso a riqueza e poder.
São Paulo digital
Essa tendência internacional
ainda não contava com uma formulação, no Brasil, que fosse
além do governo eletrônico ou
da utilização ainda segmentada
de listas de discussão. Mesmo
em outros países, os modelos de
cidade digital variam e estão numa fase ainda inicial.
A proposta e a prática de uma
construção desse tipo surgem
agora com a Cidade do Conhecimento, cuja construção está
sendo mediada pelo Instituto de
Estudos Avançados da USP, sob
a coordenação deste escriba até
agosto de 2002.
A fundação dessa cidade
acontece amanhã, às 8h30. Terá
transmissão ao vivo pela internet (www.cidade.usp.br), seguida por um espetáculo de teatro e música, a partir das 16h, no
Anfiteatro Romano da USP.
A fundação da Cidade do Conhecimento está sendo marcada
pelo ciclo "São Paulo Digital",
com eventos até o dia 6 de setembro organizados por setores
das universidades paulistas, dos
governos federal, estadual e municipal, de empresas e de organizações não-governamentais.
A idéia é desenhar, pela mobilização dos setores envolvidos
com formas de vida digital, um
modelo de desenvolvimento
econômico e social mais sustentável e justo que o registrado pela velha economia "real".
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