São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saxofonista que mora na Espanha não pensa em voltar

Efe
O músico Péricles Caputo toca saxofone em restaurante de Madri


DE BUENOS AIRES E
DE MADRI

Cansado da insegurança econômica na Argentina, onde trabalhava como gerente de um bar com música ao vivo em Buenos Aires, o músico Péricles Caputo, 45, resolveu trocar o país pela Espanha, terra de seus avós, há pouco mais de um ano, em busca de uma condição de vida melhor.
Nem mesmo a instabilidade dos trabalhos temporários que realiza em Madri o desanimam. "Antes eu contratava músicos, agora toco saxofone em diversos bares de Madri. Não tenho a segurança de um salário fixo por mês, mas tudo é melhor do que na Argentina. Para lá, não volto nunca mais", afirma ele, que vive em um pequeno apartamento no centro da capital espanhola.
Caputo diz sentir saudades apenas de sua mãe, do irmão e do cachorro. "De resto, não quero mais saber daquele país. Meu plano é ficar uns dois anos por aqui (na Espanha) e, depois, montar uma barraca de bebidas em Porto Rico", afirma o músico, que descartou a possibilidade de morar no Brasil por não querer mais "países de economias instáveis".
Seu irmão, Miguel Angel, 50, diz ter vontade de seguir o mesmo caminho, mas diz que o que o segura ainda na Argentina é a mãe, Azucena, 77, a mulher e o filho, de 16 anos. "Se fosse para ir, teríamos que ir todos, e não temos condições de viajar e começar tudo de novo, do zero", diz ele.
Os quatro vivem numa casa pequena num bairro de classe média baixa da cidade de Avellaneda, na Grande Buenos Aires, onde mantêm uma pequena mercearia na garagem. "Não vendo mais nada. Além da crise, abriram três supermercados na região, que me quebraram", lamenta Miguel Angel.
A própria mercearia foi aberta no início da década de 90, depois que ele perdeu seu emprego como talhador de vidro. "Minha profissão acabou, depois que começaram a trazer os moldes prontos ou a fazer vitrais de plástico", conta.
Desanimado com a falta de perspectivas, Miguel Angel diz que aconselhará seu filho a deixar a Argentina quando puder. "Gostaria de tê-lo do meu lado, mas seria muito egoísta de minha parte."

Final dos tempos
Sua mãe é mais cética sobre a questão, e diz que "sair do país não é a solução". Segundo ela, que é evangélica, não adianta sair do país, "porque a crise é sinal do fim dos tempos". "Eu li na Bíblia", garante. Ainda assim, ela admite que, "se fosse mais jovem, talvez tivesse ido também para a Espanha". (RW e LC)



Texto Anterior: Êxodo platino: Argentinos vêem a Europa como solução
Próximo Texto: Consulado espanhol tem longa fila em Buenos Aires
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.