São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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LUÍS NASSIF

Capital financeiro e câmbio

Algumas colunas atrás, expus a desconfiança de que o investimento externo -mesmo o direto-, quando convertido em reais e internalizado, provocava uma redução proporcional no crédito em reais disponíveis, devido ao fato de o Banco Central colocar títulos no mercado para enxugar a moeda. Sendo assim, em lugar de suplementar a poupança interna, o investimento externo provocaria um efeito-substituição sobre o crédito interno e um aumento no endividamento público. O Brasil do dólar acaba subtraindo recursos do Brasil que toma crédito em reais -que paga juros mais altos e impostos mais altos para compensar o aumento da dívida pública.
Eduardo Giuliani envia e-mail em que contesta essas hipóteses e lembra que o capital externo ajudou fortemente a impulsionar investimentos e o desenvolvimento dos asiáticos. Mencionou o fato de os recursos serem utilizados para a compra de equipamentos que modernizam a economia etc.
Está-se falando, no caso, no investimento externo utilizado para importar máquinas e equipamentos. Nesse caso, os dólares ficam no exterior. Depois, os reais gerados com a nova produção serão utilizados para comprar dólares e remeter para quitar o financiamento.
Não me refiro a esse tipo de investimento, mas àquele em que o dólar é internalizado no país e se converte em reais. João Pizysieznig Filho, professor de economia da PUC-SP, diz que, em condições "normais" (aspas dele), os reais emitidos, por conta da entrada dos dólares, não necessariamente devam ser esterilizados pelas autoridades monetárias, porque poderiam ser vendidos aos importadores e aos detentores de obrigações em moeda estrangeira. Admite que o movimento causaria uma apreciação do câmbio. Ressalta que, no caso brasileiro, há uma distorção, porque os dólares entram para financiar a dívida pública.
O problema é mais amplo. O que distorce o modelo são a abertura financeira indiscriminada e o diferencial de juros. Quando há um excesso de liquidez internacional, entram dólares em abundância (como ocorre no começo do ano), o que aprecia o câmbio de forma perigosa. Essa história de que o Banco Central não deveria enxugar toda essa liquidez não resiste à análise objetiva do que vem ocorrendo nestes dez anos. Os estudos dos economistas Gerson Lima e Patrícia Hartmann, da Universidade Federal do Paraná, comprovam esse efeito-substituição.
Agora mesmo, todos se recordam, no começo do ano, da posição olímpica do Banco Central, ao assegurar que não iria adquirir reservas nem arbitrar o preço do dólar. Quando a água bateu no pescoço, com o dólar caindo para baixo de R$ 2,90, as autoridades monetárias acordaram e saíram recompondo reservas -e, obviamente, aumentando a dívida pública e reduzindo a oferta de crédito doméstica.

Movimento importante
O economista Antonio Barros de Castro foi convidado e aceitou trabalhar como assessor do ministro do Planejamento, Guido Mantega. Professor da UFRJ, Castro é um dos grandes pensadores do desenvolvimentismo no país.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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