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LUÍS NASSIF
Capital financeiro e câmbio
Algumas colunas atrás,
expus a desconfiança de
que o investimento externo
-mesmo o direto-, quando
convertido em reais e internalizado, provocava uma redução
proporcional no crédito em
reais disponíveis, devido ao fato
de o Banco Central colocar títulos no mercado para enxugar a
moeda. Sendo assim, em lugar
de suplementar a poupança interna, o investimento externo
provocaria um efeito-substituição sobre o crédito interno e um
aumento no endividamento
público. O Brasil do dólar acaba
subtraindo recursos do Brasil
que toma crédito em reais
-que paga juros mais altos e
impostos mais altos para compensar o aumento da dívida
pública.
Eduardo Giuliani envia e-mail em que contesta essas hipóteses e lembra que o capital
externo ajudou fortemente a
impulsionar investimentos e o
desenvolvimento dos asiáticos.
Mencionou o fato de os recursos
serem utilizados para a compra
de equipamentos que modernizam a economia etc.
Está-se falando, no caso, no
investimento externo utilizado
para importar máquinas e
equipamentos. Nesse caso, os
dólares ficam no exterior. Depois, os reais gerados com a nova produção serão utilizados
para comprar dólares e remeter
para quitar o financiamento.
Não me refiro a esse tipo de
investimento, mas àquele em
que o dólar é internalizado no
país e se converte em reais. João
Pizysieznig Filho, professor de
economia da PUC-SP, diz que,
em condições "normais" (aspas
dele), os reais emitidos, por conta da entrada dos dólares, não
necessariamente devam ser esterilizados pelas autoridades
monetárias, porque poderiam
ser vendidos aos importadores e
aos detentores de obrigações em
moeda estrangeira. Admite que
o movimento causaria uma
apreciação do câmbio. Ressalta
que, no caso brasileiro, há uma
distorção, porque os dólares entram para financiar a dívida
pública.
O problema é mais amplo. O
que distorce o modelo são a
abertura financeira indiscriminada e o diferencial de juros.
Quando há um excesso de liquidez internacional, entram dólares em abundância (como ocorre no começo do ano), o que
aprecia o câmbio de forma perigosa. Essa história de que o
Banco Central não deveria enxugar toda essa liquidez não resiste à análise objetiva do que
vem ocorrendo nestes dez anos.
Os estudos dos economistas
Gerson Lima e Patrícia Hartmann, da Universidade Federal
do Paraná, comprovam esse
efeito-substituição.
Agora mesmo, todos se recordam, no começo do ano, da posição olímpica do Banco Central, ao assegurar que não iria
adquirir reservas nem arbitrar
o preço do dólar. Quando a
água bateu no pescoço, com o
dólar caindo para baixo de R$
2,90, as autoridades monetárias
acordaram e saíram recompondo reservas -e, obviamente,
aumentando a dívida pública e
reduzindo a oferta de crédito
doméstica.
Movimento importante
O economista Antonio Barros
de Castro foi convidado e aceitou trabalhar como assessor do
ministro do Planejamento,
Guido Mantega. Professor da
UFRJ, Castro é um dos grandes
pensadores do desenvolvimentismo no país.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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