São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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ACORDO AUTOMOTIVO

Para ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, país tem que ter visão estratégica na negociação

Concessão a argentinos não é descartada

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) disse ontem que a revisão do acordo automotivo com a Argentina é "um tema que esteve, está e estará nas mesas de negociações" entre os dois países. Os industriais serão convidados a participar das discussões, e o início da livre importação em 2006 não é questão fechada, disse.
Nas reuniões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o próprio Amorim e com outras autoridades brasileiras, na semana passada, em Brasília, o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, citou dados concretos para exemplificar as desigualdades nas trocas comerciais e defender a revisão do acordo.
Conforme Amorim, Lavagna disse que, ao ser fechado o acordo automotivo em 1994, o Brasil detinha 30% do mercado de carros da Argentina e, hoje, esse percentual pulou para 60%. Na outra mão, a Argentina tinha 14% do mercado brasileiro, mas hoje só mantém uma fatia de 2,5%.
"O Lavagna nos disse que não é concebível a Argentina não ter uma indústria automobilística. Nós concordamos com ele", disse Amorim, ontem, por telefone.
"Esse é um evento do desequilíbrio" entre os dois países, disse ele, lembrando os sucessivos abalos às estruturas industriais argentinas nos últimos dez anos, agravadas pela política de paridade cambial entre o peso e o dólar.
"Tudo isso tem que ser levado em conta, porque as relações do Brasil com o país vizinho não se resumem a questões pontuais de comércio e devem ser vistas sob a ótica de médio e longo prazos", disse Amorim, que sempre foi importante defensor do Mercosul.
Ele disse que estão em estudo, para novas rodadas mais concretas de reunião em dois meses, "aspectos que envolvem a Petrobras e o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]". Lavagna pediu maior "compreensão" brasileira com a situação argentina ao liberar financiamento do banco para a instalação de empresas no Brasil.
Preocupado em tranqüilizar o setor produtivo brasileiro, Amorim contextualizou as negociações com a Argentina: "As relações comerciais mundiais são feitas de altos e baixos. Não podemos agir impulsivamente quando estão em alta nem quando estão em baixa. Não é questão de ser bonzinho, mas de ter visão estratégica", afirmou.
"Eles [os argentinos] estão numa situação crítica hoje, ao contrário do Brasil, que está inserido no contexto mundial, recebendo investimentos e consolidando o seu processo de crescimento. Mas não foi sempre assim", comparou o ministro.
"As relações comerciais do Brasil com a Argentina e a América do Sul são prioritárias, mas o principal não é disputar mercado um com o outro, mas trabalhar, juntos, para disputar os mercados mundiais."
Amorim recebe hoje em Brasília, ao lado de Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e de Roberto Rodrigues (Agricultura), o comissário europeu de Comércio, Pascal Lamy, para discutir a retomada das negociações para uma área de livre comércio entre União Européia e Mercosul.
O acordo estava previsto para o próximo mês, mas empacou nas últimas negociações na Europa, em agosto, principalmente pelos obstáculos da União Européia à abertura agrícola -considerada fundamental pelo Brasil e seus parceiros de bloco, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Segundo Amorim, o encontro de hoje foi pedido por Lamy. O Brasil já admitiu fazer concessões nas áreas de serviço, compras governamentais e investimentos. Agora, pretende apenas ouvir o que Lamy tem a apresentar.

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