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ÚLTIMOS CARTUCHOS
Medidas do BC são apenas um remédio de curto prazo, pois o problema é político, dizem especialistas
Para analistas, calmaria dura uma semana
Flávio Florido/Folha Imagem
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Operadores ontem no pregão da Bolsa de Mercadorias & Futuros, em São Paulo; no painel, a cotação do dólar para novembro |
SANDRA BALBI
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
As medidas anunciadas ontem
pelo Banco Central para conter a
alta do dólar são apenas um remédio de curto prazo para conter a
escalada do dólar. Segundo analistas ouvidos pela Folha, o elenco
de medidas anunciado deverá
acalmar o mercado por, pelo menos, uma semana.
O principal efeito das medidas
anunciadas pelo BC é reduzir a liquidez dos bancos, o que poderá,
também, ajudar na rolagem da dívida que vence no próximo dia 17.
Se o dólar ficar calmo por alguns
dias, como resultado da necessidade de os bancos reavaliarem
suas posições para se ajustarem às
últimas medidas, quem deve ganhar é o governo.
Dólar menos volátil e a preço
menor significa Ptax (o preço médio da moeda dos EUA medido
pelo BC diariamente) mais baixo.
Como o Ptax serve para calcular
os rendimentos dos papéis cambiais, o governo deve conseguir
pagar menos para resgatar seus títulos do que previa o mercado.
Na próxima quinta vencem US$
3,6 bilhões em dívida pública atrelada ao câmbio. Apenas uma parte desse lote já foi rolada ou resgatada. Se o BC optar por resgatar os
papéis, o Ptax do dia 16 servirá de
base para calcular quanto os bancos receberão. Nos últimos dias
do mês passado, instituições financeiras pressionaram o câmbio
(e consequentemente o Ptax) para conseguir maiores ganhos na
hora que o BC resgatou sua dívida
cambial que venceu no dia 1º.
Para o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e professor da Faculdade de Economia do Ibmec (Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais), se o dólar continuar subindo, o BC terá de elevar os juros
ou até criar uma taxa especial para a venda de dólares a empresas
que precisam pagar dívidas.
Na opinião do economista, as
duas medidas seriam as últimas a
serem tomadas caso nada que está sendo feito pelo BC consiga deter a alta da moeda dos EUA.
Em entrevista antes de o BC
anunciar as últimas medidas, o
economista disse que a primeira
coisa a fazer seria obrigar os bancos a usar 100% de recursos próprios na compra de dólar.
PAULO LEME, do Goldman Sachs:
As medidas anunciadas pelo BC
irão produzir vários efeitos na
economia. O primeiro, continuar
o processo de desvalorização do
câmbio, como estava ocorrendo.
O segundo, conter a perda de reservas cambiais do país. Mas também irá ocorrer um aumento de
juros no crédito, o que afeta a atividade econômica. A questão é
saber se a queda do dólar irá ou
não continuar até as eleições. Dependendo do processo eleitoral,
se as medidas não forem suficientes, é possível que o BC repita a
dose. A raiz do problema no Brasil é a crise de confiança. E ela só
deve terminar uma vez que se conheça o eventual vencedor das
eleições, a nova tripulação e a rota
do vôo.
JOSÉ JÚLIO SENNA, sócio da MCM
Consultores Associados:
Não acredito que o Banco Central eleve os juros na próxima reunião do Copom como forma de
complementar as medidas tomadas ontem. De setembro do ano
passado até agora, o Banco Central já tomou várias medidas para
conter o dólar, e até agora não aumentou os juros. Além disso, o
Banco Central sabe que a crise é
passageira e, uma vez definida a
equipe e os rumos da economia
de 2003, tudo se inverte. O BC
também sabe que um aumento de
juros não iria atrair dólares para a
economia. Seria uma medida ineficaz. Essas medidas foram uma
carga pesada e não devem durar
muito tempo. O Brasil é um país
que o canal do crédito é mais entupido que o da lagoa Rodrigo de
Freitas e não se pode dar ao luxo
de conviver com medidas como
essas que só ajudam a entupir ainda mais o crédito.
SÉRGIO WERLANG, ex-diretor do
Banco Central e atual diretor do
Banco Itaú:
Acho que o Banco Central demorou a tomar essas medidas
porque queria testar a efetividade
do aumento para 75% do coeficiente de capital dos bancos sobre
a carteira de câmbio. Como o efeito não foi o esperado, o Banco
Central foi obrigado a tomar medidas mais fortes. O problema só
será resolvido mesmo quando
passar as eleições e sabermos o
que virá pela frente. O aumento
dos compulsórios vai produzir
aumento de juros.
ALBERTO BORGES MATIAS, professor da Faculdade de Economia e
Administração da USP de Ribeirão Preto:
"Para o resultado dos bancos, as
medidas acabam sendo indiferentes. O que eles deixarão de ganhar
nas carteiras de câmbio passarão
a ganhar nas de crédito. Isso porque, ao tirar dinheiro do mercado, com o aumento dos compulsórios, o juro subirá. A transferência de riqueza do Tesouro para o
mercado continuará porque juro
maior aumenta o déficit do governo, que terá de pôr mais títulos no
mercado para se financiar."
EMANUEL PEREIRA, diretor da GAP
Asset Management:
"As medidas do BC são um remédio amargo, mas necessário,
para conter a alta do dólar nos
próximos dias. Depois, no entanto, provavelmente será necessária
nova oferta de dólares para que a
moeda continue em baixa."
FERNANDO COELHO, analista da
ABM Consulting:
"Uma das preocupações do governo, com o dólar a R$ 4, é o peso
maior que a dívida cambial passa
a ter. Com as medidas, o Banco
Central deve conseguir pagar menos para resgatar os títulos que
vencem na próxima semana. Mas
não devemos esperar que o dólar
recue bastante ou se mantenha
em níveis menores por muito
tempo."
EDUARDO BERGER, economista do
banco Lloyds TSB:
"O BC tomou as medidas como
forma de mostrar que ainda tem
instrumentos para agir no câmbio. Mas elas não atuam sobre as
causas principais, como as incertezas quanto ao futuro político-econômico do país e o ruim cenário externo. Por isso, é difícil imaginar que o real vá ter uma forte
valorização nos próximos dias. As
medidas são apenas paliativas,
com efeito no curto prazo."
JORGE SIMINO, diretor do Unibanco Asset Management:
"O BC usou todos os instrumentos de que dispõe, simultaneamente, para forçar a desova de
dólares pelos bancos. O estresse
do mercado chegou a um nível
tão alto que medidas homeopáticas não resolvem."
EMÍLIO GARÓFALO, ex-diretor da
área externa do BC:
"No ano passado, o BC combinou o aumento do compulsório,
dos juros e dos limites de recursos
para os bancos operarem com
câmbio e passou a fornecer ao
mercado uma ração diária de US$
50 milhões. A isso somou-se uma
melhora no ambiente externo
com a volta de linhas de financiamento para o país, e o dólar caiu
de R$ 2,86 para R$ 2,20. Agora,
um recuo mais duradouro das cotações também dependerá de
uma melhora no fluxo de recursos externos."
ANTÔNIO CARLOS PÔRTO GONÇALVES, diretor do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV:
"A razão para a alta do dólar é
política. Nada que o BC faça poderá mudar isso. Pode cair um
pouco, mas vai continuar alto."
LUCIANA SÁ, chefe do Departamento de Pesquisa Econômica da
Firjan (Federação das Indústrias
do Rio de Janeiro):
"O dólar vai se manter instável
até o final do processo eleitoral.
Mesmo assim, as medidas do BC
vão impedir que continuem ocorrendo picos muito fortes [da cotação da moeda]."
MIGUEL RIBEIRO DE OLIVEIRA, vice-presidente da Anefac (associação
que reúne executivos de finanças,
administração e contabilidade):
"A pressão sobre o dólar deverá
diminuir, mas é difícil dizer por
quanto tempo. Há um problema
estrutural de falta de dólares. Não
há dinheiro vindo de fora, e as
empresas não estão conseguindo
renovar os empréstimos externos.
Enquanto o desequilíbrio entre
oferta e demanda persistir, a pressão sobre o dólar continuará."
FÁBIO PINA, economista da Federação do Comércio do Estado de
São Paulo:
"A medida poderá trazer algum
alívio para o mercado de câmbio,
mas por curto prazo. Não há fluxo
constante de dólares do exterior
para o Brasil."
MARISTELLA ANSANELLI, da Tendências Consultoria:
"Todo o estresse, certamente, é
por conta das incertezas eleitorais. Com isso, qualquer coisa é
motivo para aumentar o nervosismo. A tensão só será arrefecida
após o anúncio da equipe econômica. O presidente do BC estará
sempre na frente da batalha."
CARLOS KAWALL, economista-chefe do Citibank:
"O rumo do dólar dependerá
das medidas anunciadas pelo presidente eleito. Porém, seja quem
for, não deve trazer surpresas. Por
isso, [acredito que] o dólar esteja a
R$ 3,25 no final do ano."
Colaboraram a Sucursal do Rio e Érica Fraga, da Reportagem Local
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