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ÚLTIMOS CARTUCHOS
BC intervém no mercado desde cedo; pacotinho ajuda a derrubar moeda, mas dívida continua encurtando
Dólar sofre o maior tombo desde agosto
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central agiu com energia ontem no mercado e fez o dólar encerrar o dia em queda.
A moeda norte-americana teve
baixa de 4,26%, a maior em um
dia desde agosto, e fechou negociada a R$ 3,82. Na semana, o dólar acumulou alta de 5,5%.
No meio da tarde, logo após o
anúncio do novo pacote do BC
para tentar inibir a pressão na
moeda, o dólar atingiu seu menor
valor durante o dia -em queda
de 7,27%, foi negociado a R$ 3,70.
O BC anunciou medidas que reduzem a liquidez do mercado e
restringem a exposição ao câmbio
das instituições.
Há meses havia uma ala do
mercado que cobrava uma presença maior do BC para tentar
impedir a forte especulação com o
dólar. A avaliação entre a maior
parte dos analistas foi a de que a
autoridade monetária agiu corretamente ontem. Os críticos avaliaram que houve demora na adoção
das medidas e que elas foram detonadas pelo mal-estar causado
por declarações do presidente do
BC, Armínio Fraga, quarta-feira.
"O BC está utilizando seus últimos cartuchos. Não há mais muitas alternativas além dessas medidas", diz Vladimir Caramaschi,
da Fator Doria Atherino.
Ele ressalta, porém, que as novas normas terão um impacto positivo, mas apenas temporário.
"Após um período de ajuste, a
tendência é que o nervosismo e a
percepção de risco político, com a
especulação com pesquisas eleitorais, voltem. As medidas inibem a
atuação das tesourarias dos bancos, mas elas não são os únicos
agentes do mercado", diz.
Há no mercado, em especial
neste mês, uma necessidade real
de dólares por parte do setor privado. A estimativa de operadores
é que US$ 700 milhões em dívidas
de empresas e bancos estão por
vencer. Esses débitos não deverão
ser renovados, pois o custo seria
muito alto, por conta da deterioração do crédito externo do país.
Caiu a disposição do investidor
estrangeiro a enfrentar riscos,
após as fraudes contábeis cometidas por empresas norte-americanas - até então, absolutamente
confiáveis. Há, ainda, a incerteza
política com a possível vitória da
oposição nas eleições.
"Além da necessidade real de
dólares, há o forte componente de
especulação e até manipulação de
preços", avalia José Costa Gonçalves, diretor da corretora Multistock. "Quem quiser continuar
nesse jogo, vai ter que dispor de
muito dinheiro agora."
Ontem, logo na abertura dos
negócios o BC já teria vendido a
moeda ao mercado à vista. Em seguida realizou um leilão de linha
de exportação de US$ 30 milhões
e iniciou a nova tentativa para a
rolagem da dívida do governo
atrelada ao dólar. No dia 17, vencem US$ 3,6 bilhões desses papéis. O BC renovou mais US$ 501
milhões dessa dívida, mas pagou
preços altos -fez a operação antes de divulgar o novo pacote.
A autoridade monetária colocou 10.200 contratos de "swap" de
curtíssimo prazo -com vencimento para 1º de novembro e pagou taxa nominal de 47,36%. Até
ontem, 31% do vencimento havia
sido rolado.
O vencimento dessa dívida é um
grande fator de pressão no dólar.
O mercado avalia que, como
ocorreu em meses anteriores, o
governo não conseguirá renovar a
totalidade dos papéis.
As tesourarias dos bancos teriam iniciado um movimento de
compra da moeda para influenciar a formação do Ptax (preço
médio do dólar, medido diariamente pelo BC), que irá balizar o
resgate dos papéis. Essa é uma
maneira de elevar seus ganhos.
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