São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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ÚLTIMOS CARTUCHOS

BC intervém no mercado desde cedo; pacotinho ajuda a derrubar moeda, mas dívida continua encurtando

Dólar sofre o maior tombo desde agosto

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central agiu com energia ontem no mercado e fez o dólar encerrar o dia em queda.
A moeda norte-americana teve baixa de 4,26%, a maior em um dia desde agosto, e fechou negociada a R$ 3,82. Na semana, o dólar acumulou alta de 5,5%.
No meio da tarde, logo após o anúncio do novo pacote do BC para tentar inibir a pressão na moeda, o dólar atingiu seu menor valor durante o dia -em queda de 7,27%, foi negociado a R$ 3,70.
O BC anunciou medidas que reduzem a liquidez do mercado e restringem a exposição ao câmbio das instituições.
Há meses havia uma ala do mercado que cobrava uma presença maior do BC para tentar impedir a forte especulação com o dólar. A avaliação entre a maior parte dos analistas foi a de que a autoridade monetária agiu corretamente ontem. Os críticos avaliaram que houve demora na adoção das medidas e que elas foram detonadas pelo mal-estar causado por declarações do presidente do BC, Armínio Fraga, quarta-feira.
"O BC está utilizando seus últimos cartuchos. Não há mais muitas alternativas além dessas medidas", diz Vladimir Caramaschi, da Fator Doria Atherino.
Ele ressalta, porém, que as novas normas terão um impacto positivo, mas apenas temporário. "Após um período de ajuste, a tendência é que o nervosismo e a percepção de risco político, com a especulação com pesquisas eleitorais, voltem. As medidas inibem a atuação das tesourarias dos bancos, mas elas não são os únicos agentes do mercado", diz.
Há no mercado, em especial neste mês, uma necessidade real de dólares por parte do setor privado. A estimativa de operadores é que US$ 700 milhões em dívidas de empresas e bancos estão por vencer. Esses débitos não deverão ser renovados, pois o custo seria muito alto, por conta da deterioração do crédito externo do país. Caiu a disposição do investidor estrangeiro a enfrentar riscos, após as fraudes contábeis cometidas por empresas norte-americanas - até então, absolutamente confiáveis. Há, ainda, a incerteza política com a possível vitória da oposição nas eleições.
"Além da necessidade real de dólares, há o forte componente de especulação e até manipulação de preços", avalia José Costa Gonçalves, diretor da corretora Multistock. "Quem quiser continuar nesse jogo, vai ter que dispor de muito dinheiro agora."
Ontem, logo na abertura dos negócios o BC já teria vendido a moeda ao mercado à vista. Em seguida realizou um leilão de linha de exportação de US$ 30 milhões e iniciou a nova tentativa para a rolagem da dívida do governo atrelada ao dólar. No dia 17, vencem US$ 3,6 bilhões desses papéis. O BC renovou mais US$ 501 milhões dessa dívida, mas pagou preços altos -fez a operação antes de divulgar o novo pacote.
A autoridade monetária colocou 10.200 contratos de "swap" de curtíssimo prazo -com vencimento para 1º de novembro e pagou taxa nominal de 47,36%. Até ontem, 31% do vencimento havia sido rolado.
O vencimento dessa dívida é um grande fator de pressão no dólar. O mercado avalia que, como ocorreu em meses anteriores, o governo não conseguirá renovar a totalidade dos papéis.
As tesourarias dos bancos teriam iniciado um movimento de compra da moeda para influenciar a formação do Ptax (preço médio do dólar, medido diariamente pelo BC), que irá balizar o resgate dos papéis. Essa é uma maneira de elevar seus ganhos.


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