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POLÊMICA
Presidente do órgão vê falta de dados que garantam que produto não causa danos ao ambiente e aos consumidores
Para Embrapa, transgênico carece de estudo
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A eventual liberação definitiva
do plantio de soja transgênica carece de experimentos adequados
à realidade ambiental do Brasil,
diz o presidente da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), Clayton Campanhola. Em outras palavras, não há
garantia de que o plantio do
transgênico, liberado por medida
provisória, não comprometa o solo e a saúde de consumidores.
"Há muitos dados, inclusive do
exterior [sobre a suposta segurança da soja transgênica]. São nesses
dados que os pesquisadores da
Embrapa têm se baseado para se
posicionar", diz Campanhola.
""Precisamos de informações mais
direcionadas às nossas condições,
até porque o país é extremamente
heterogêneo e tem uma diversidade muito grande em termos de recursos naturais", completou, em
entrevista concedida na sexta.
O presidente da Embrapa argumenta que se poderia ""validar"
parte dos testes promovidos em
outros países, mas, em outros
casos -que ele não especificou-, seriam necessários estudos locais. ""Não significa generalizar, dizer: "Foi feito estudo no exterior, logo está tudo bem'".
A Embrapa se encontra no epicentro da discussão de transgênicos no Brasil. O órgão de pesquisa
é subordinado ao ministro da
Agricultura, Roberto Rodrigues,
que defende a liberação do cultivo
de transgênicos. Simultaneamente, a Embrapa mantém acordos
assinados, desde 1997, com a
Monsanto, multinacional do setor de biotecnologia. Nos últimos
anos, a Embrapa desenvolveu sementes de soja modificadas a partir de genes cujos direitos de patente pertencem à Monsanto.
As sementes contrabandeadas
(da Argentina) usadas nas plantações no Brasil têm tecnologia patenteada pela Monsanto.
De acordo com o presidente da
Embrapa, não caberia à empresa
do governo promover a análise
científica para verificar a ""segurança" dos transgênicos. ""Cabe a
quem registra, quem detém a patente cumprir essa legislação. Na
verdade, a Embrapa não está se
antecipando a isso [ou seja, não
estaria se preparando ou promovendo testes com as sementes
usadas pelos agricultores]", sustentou o executivo.
Campanhola recorre a dois discursos (um científico e outro político, quando não tergiversante)
ao externar seu posicionamento
sobre os transgênicos. Primeiro, o
científico: a Embrapa defende a
pesquisa. ""Entendemos que a
transgenia é uma das biotecnologias e, portanto, não pode ser descartada. Por outro lado, temos
que nos preocupar com a questão
da biossegurança, que seria a avaliação dos possíveis riscos ao ambiente e à saúde humana." Para
completar: ""É uma reivindicação
da sociedade brasileira e temos
que ter humildade para entender
essa preocupação. O compromisso da pesquisa é dar resposta a essas inquietações".
Sobre a decisão do governo de
liberar o plantio (que já começou)
e a comercialização de soja transgênica até dezembro de 2004 e sobre sua eventual ratificação no futuro, o discurso político. ""Neste
caso específico da medida provisória, é uma posição de governo,
não uma posição da Embrapa. Está fora de nossa competência tratar desse assunto", diz.
O presidente da Embrapa afirma não ter participado das discussões para a liberação do plantio de transgênicos. ""Foi tratado
dentro de outra instância, por ministros. O que estamos fazendo
[as pesquisas] está em acordo
com a legislação do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis]; enquanto a questão não se
resolve, seguimos a legislação."
A referência é à elaboração de
um projeto de lei favorável à liberação definitiva dos transgênicos
no país. "Estamos nos antecipando para ver como podemos utilizar a transgenia a favor dos agricultores. Seria outra opção que
pode ser colocada para ele [agricultor]. Não deixaremos de produzir sementes convencionais."
Além da soja, a Embrapa tem
pesquisas para produção de milho, mamão, batata, feijão e algodão transgênicos, vinculadas a indústrias químicas e institutos internacionais. ""Está tudo sendo
feito ainda em laboratório. Agora
que testaremos o mamão em pequenos campos." Parte desses experimentos, segundo ele, poderia
no futuro ser vinculada a projetos
de agricultura familiar.
Indagado se a liberação do plantio na atual safra não significaria
um caminho "sem volta" para a
disseminação da soja transgênica
em território nacional, ele afirmou que um dos maiores erros
dos agricultores é plantar grãos e
não sementes. ""Representa um
grande risco para a agricultura.
Ele perde em qualidade, pode
perder em produtividade. É uma
questão acima de tudo técnica.
Todo o tema está sendo tratado
de maneira atípica, provisória. Esperamos que o projeto de lei que
vai ser tramitado resolva essas
questões."
Tampouco quis comentar a decisão do CTA (Comitê Técnico de
Assessoramento para Agrotóxico) contrária ao uso de glifosato
sobre as plantações de soja. "Não
cabe à Embrapa opinar sobre decisões tomadas por outros órgãos
e pelo ministério", afirmou.
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