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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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LUSCO-FUSCO

Eletropaulo descumpre meta de quantidade de horas sem energia em regiões onde tradicionalmente falta mais luz

Periferia fica mais tempo no escuro em SP

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Eletropaulo descumpriu mais metas de fornecimento de energia em regiões que tradicionalmente já ficam mais tempo "no escuro" (a maioria na periferia da Grande São Paulo) do que em bairros e municípios próximos ao centro, menos sujeitos a quedas de rede.
O padrão que a distribuidora não atingiu em regiões periféricas foi o de quantidade de horas sem energia, indicador que tem o nome técnico de DEC (Duração Equivalente de Interrupção).
De julho de 2002 a junho de 2003, a distribuidora "estourou" o DEC em 6 das 10 regiões que ficaram mais tempo sem energia no período. Nesse ranking, estão municípios da Grande SP como Itapecerica da Serra, Santana do Parnaíba, Embu-Guaçu, Embu e Jandira, entre outros.
No mesmo período, nas dez regiões que ficaram menos tempo sem energia -bairros como os Jardins e municípios como São Caetano-, a distribuidora cumpriu a meta de DEC.
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) determina padrões variados para o indicador em diferentes áreas de concessão de uma mesma distribuidora.
O tempo que uma região com muitas árvores -e, portanto, mais sujeita a quedas de rede- pode ficar sem energia, por exemplo, é maior do que uma região menos arborizada.
No município de Itapecerica da Serra, por exemplo, "campeão" de falta de energia, o cliente da distribuidora ficou em média 57,25 horas com a luz apagada de julho de 2002 a junho deste ano. Foram 7,25 horas a mais do que o permitido para o período.
Enquanto isso, em outra cidade da Grande São Paulo, São Caetano do Sul, faltou energia por 4,02 horas na casa de cada consumidor, em média, para um padrão que permite 7 horas sem energia.
A cidade é a segunda região no ranking dos dez melhores locais em número de horas sem energia. A área que ficou menos tempo sem energia é a composta pela região do centro e Jardins, onde o DEC foi de 1,19 hora sem energia. A meta para a região é de 5 horas.
A área de concessão da Eletropaulo é dividida em 58 regiões. No total, são 14 milhões de consumidores no Estado de São Paulo. Na média, cada um desses clientes da concessionária ficou de 11,08 a 11,46 horas sem energia, para um padrão de 12,57 horas.
"Falta investimento em manutenção e modernização da rede, principalmente na periferia. Há regiões mais trabalhosas para a empresa, mas a concessionária tem que superar esse problema", diz Carlos Augusto Ramos Kirchner, diretor do Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo) e do Ilumina (Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico).

Atendimento
A desigualdade, aponta Kirchner, se reflete também na estrutura de atendimento ao consumidor. Em muitas das regiões que ficam mais tempo sem luz a Eletropaulo não possui agência de atendimento ligada à rede comercial da distribuidora.
Nesses locais, a empresa tem agentes credenciados: são drogarias e locadoras de vídeo, entre outros, onde o cliente é atendido por vendedores ou comerciantes.
O custo para a Eletropaulo é baixo: na média, a distribuidora paga R$ 400 para cada ponto comercial prestar o serviço.
O problema é que, na prática, alguns consumidores acabam tendo que se deslocar da sua cidade -o que é proibido pela Aneel- até uma agência ligada ao sistema da distribuidora, já que não conseguem resolver seu problema nos agentes.
Em Itapecerica, há só um agente credenciado para atender a população. Já em São Caetano do Sul, onde a meta é cumprida, há uma agência de atendimento.

Endividamento
A queda dos investimentos operacionais (em estrutura) da empresa nos últimos anos pode explicar o problema. O investimento operacional da Eletropaulo, cuja dívida líquida total bate nos R$ 6,3 bilhões, foi de R$ 320,9 milhões em 1998. O valor caiu para R$ 289 milhões em 2001 e para R$ 180,3 milhões no ano passado. Em 2003, a empresa afirma pretender investir R$ 206 milhões.
Houve queda no número de agências de atendimento da concessionária: em 98, a Eletropaulo afirma que tinha 26 agências e 16 postos de atendimento espalhados pelo Estado. Hoje, são 19 agências ligadas à rede comercial da distribuidora, além de 74 agentes credenciados.


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