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LUSCO-FUSCO
Eletropaulo descumpre meta de quantidade de horas sem energia em regiões onde tradicionalmente falta mais luz
Periferia fica mais tempo no escuro em SP
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Eletropaulo descumpriu mais
metas de fornecimento de energia
em regiões que tradicionalmente
já ficam mais tempo "no escuro"
(a maioria na periferia da Grande
São Paulo) do que em bairros e
municípios próximos ao centro,
menos sujeitos a quedas de rede.
O padrão que a distribuidora
não atingiu em regiões periféricas
foi o de quantidade de horas sem
energia, indicador que tem o nome técnico de DEC (Duração
Equivalente de Interrupção).
De julho de 2002 a junho de
2003, a distribuidora "estourou" o
DEC em 6 das 10 regiões que ficaram mais tempo sem energia no
período. Nesse ranking, estão
municípios da Grande SP como
Itapecerica da Serra, Santana do
Parnaíba, Embu-Guaçu, Embu e
Jandira, entre outros.
No mesmo período, nas dez regiões que ficaram menos tempo
sem energia -bairros como os
Jardins e municípios como São
Caetano-, a distribuidora cumpriu a meta de DEC.
A Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) determina padrões variados para o indicador
em diferentes áreas de concessão
de uma mesma distribuidora.
O tempo que uma região com
muitas árvores -e, portanto,
mais sujeita a quedas de rede-
pode ficar sem energia, por exemplo, é maior do que uma região
menos arborizada.
No município de Itapecerica da
Serra, por exemplo, "campeão"
de falta de energia, o cliente da
distribuidora ficou em média
57,25 horas com a luz apagada de
julho de 2002 a junho deste ano.
Foram 7,25 horas a mais do que o
permitido para o período.
Enquanto isso, em outra cidade
da Grande São Paulo, São Caetano do Sul, faltou energia por 4,02
horas na casa de cada consumidor, em média, para um padrão
que permite 7 horas sem energia.
A cidade é a segunda região no
ranking dos dez melhores locais
em número de horas sem energia.
A área que ficou menos tempo
sem energia é a composta pela região do centro e Jardins, onde o
DEC foi de 1,19 hora sem energia.
A meta para a região é de 5 horas.
A área de concessão da Eletropaulo é dividida em 58 regiões. No
total, são 14 milhões de consumidores no Estado de São Paulo. Na
média, cada um desses clientes da
concessionária ficou de 11,08 a
11,46 horas sem energia, para um
padrão de 12,57 horas.
"Falta investimento em manutenção e modernização da rede,
principalmente na periferia. Há
regiões mais trabalhosas para a
empresa, mas a concessionária
tem que superar esse problema",
diz Carlos Augusto Ramos Kirchner, diretor do Seesp (Sindicato
dos Engenheiros no Estado de
São Paulo) e do Ilumina (Instituto
de Desenvolvimento Estratégico
do Setor Elétrico).
Atendimento
A desigualdade, aponta Kirchner, se reflete também na estrutura de atendimento ao consumidor. Em muitas das regiões que ficam mais tempo sem luz a Eletropaulo não possui agência de atendimento ligada à rede comercial
da distribuidora.
Nesses locais, a empresa tem
agentes credenciados: são drogarias e locadoras de vídeo, entre
outros, onde o cliente é atendido
por vendedores ou comerciantes.
O custo para a Eletropaulo é baixo: na média, a distribuidora paga
R$ 400 para cada ponto comercial
prestar o serviço.
O problema é que, na prática, alguns consumidores acabam tendo que se deslocar da sua cidade
-o que é proibido pela Aneel-
até uma agência ligada ao sistema
da distribuidora, já que não conseguem resolver seu problema
nos agentes.
Em Itapecerica, há só um agente
credenciado para atender a população. Já em São Caetano do Sul,
onde a meta é cumprida, há uma
agência de atendimento.
Endividamento
A queda dos investimentos operacionais (em estrutura) da empresa nos últimos anos pode explicar o problema. O investimento operacional da Eletropaulo, cuja dívida líquida total bate nos R$
6,3 bilhões, foi de R$ 320,9 milhões em 1998. O valor caiu para
R$ 289 milhões em 2001 e para R$
180,3 milhões no ano passado. Em
2003, a empresa afirma pretender
investir R$ 206 milhões.
Houve queda no número de
agências de atendimento da concessionária: em 98, a Eletropaulo
afirma que tinha 26 agências e 16
postos de atendimento espalhados pelo Estado. Hoje, são 19
agências ligadas à rede comercial
da distribuidora, além de 74 agentes credenciados.
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