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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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QUEIXA

Fabricantes de eletroeletrônicos no Brasil pedem ajuda ao governo para evitar mecanismo de proteção do país vizinho

Empresários temem salvaguarda argentina

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Os fabricantes de eletroeletrônicos no Brasil estão preocupados com a possibilidade de a Argentina passar a adotar medidas protecionistas contra a exportação de produtos brasileiros.
O presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Paulo Saab, encaminhou carta, na semana passada, aos ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e ao embaixador do Brasil na Argentina, José Botafogo Gonçalves, manifestando essa preocupação.
No dia 15 de agosto passado, durante a posse do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner, assinaram um memorando de entendimento no qual se comprometem a criar mecanismos compensatórios para corrigir situações de desequilíbrios na balança comercial entre os dois países.
O memorando atinge os seguintes setores: têxtil, calçados, suínos e avícolas, máquinas agrícolas e eletrodomésticos.
Os mecanismos compensatórios a serem criados ainda não foram definidos entre Brasil e Argentina. Uma das possibilidades em estudo, por exemplo, é a de estabelecer uma espécie de gatilho (alíquota) nas tarifas de importação assim que as vendas de produtos brasileiros atingirem um determinado montante. Assim, tudo o que ultrapassasse esse gatilho ficaria mais caro -o que serviria para afugentar os compradores argentinos dos eletroeletrônicos fabricados no Brasil.
Atualmente, a tarifa entre os dois países é zero para os eletrodomésticos.

Encontro
A adoção de mecanismos compensatórios no comércio entre o Brasil e a Argentina deverá ser um dos temas do encontro desta semana entre os presidentes Lula e Kirchner, na Argentina.
De acordo com o que a Folha apurou, o memorando de entendimento assinado entre os dois países foi fruto de uma forte pressão dos grupos empresariais argentinos para tentar reduzir o ingresso de produtos brasileiros no país e melhorar as vendas da indústria local.
Os empresários argentinos acusam o Brasil de concorrência desleal, principalmente na venda dos eletrodomésticos, como o fogão.
Na carta enviada aos ministros Amorim e Furlan e ao embaixador Botafogo Gonçalves, Paulo Saab diz: "Rejeitamos de forma veemente as alegações manifestadas pelos empresários argentinos, tanto na mídia daquele país, como com as autoridades, quando afirmam que os fabricantes brasileiros utilizam-se de meios desleais, seja manipulando preços intercompany [entre as companhias] ou induzindo o consumidor local a engano de origem, como consta em carta publicada pelas cinco entidades representativas do setor eletroeletrônico".
Saab se refere a uma carta publicada nos principais jornais da Argentina no dia 18 de setembro, na qual as cinco principais entidades do setor (de eletrodomésticos) acusam a indústria brasileira de práticas predatórias. As entidades empresariais argentinas pedem a adoção de medidas protecionistas contra o Brasil.
A carta de Saab diz que o grande problema é que "a indústria argentina não é competitiva e tenta manter reserva de mercado à custa de denúncias infundadas".
Segundo Saab, as acusações que as entidades empresariais argentinas têm feito não têm fundamento técnico, tampouco fazem referência à importação de outros países.
"Isso demonstra um flagrante desconhecimento das bases do projeto de integração do Mercosul", diz Saab.
O presidente da Eletros conclui sua carta pedindo a atenção do governo brasileiro "em não permitir que quaisquer medidas sejam tomadas ou comprometidas sem que antes possamos nos manifestar sobre as alegações do empresariado argentino".


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