São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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"A cada dia aparece um buraco", diz Lula

Presidente afirma em Roma que a gravidade da crise o surpreendeu

Lula reduz expectativas em relação à cúpula do G20 no final de semana em Washington, que seria só um "começo" de mudança

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem esperar pouco da cúpula de chefes de Estado em Washington, no próximo fim de semana, e que a gravidade da crise econômica global o surpreendeu.
Ele qualificou o evento, em que estarão reunidas 20 das maiores economias do planeta, como uma oportunidade "extraordinária" de os líderes mostrarem vontade política para reformar o sistema financeiro internacional, a começar pelas instituições multilaterais, como o FMI e Banco Mundial.
"Não esperem muito dessa reunião", disse Lula diante de uma platéia de mais de 1.200 pessoas durante um encontro com centrais sindicais, em Roma. "Será um começo, um começo promissor".
No segundo dia de sua primeira visita de Estado à Itália, Lula reiterou em todos os seus compromissos que uma das principais reivindicações do Brasil em Washington será não apenas a ampliação dos fóruns de discussão e governança globais, mas sua refundação.
"É preciso um novo sistema financeiro, um novo modelo econômico, novas instituições multilateriais porque essas estão falidas e já provaram que não representam mais os anseios do século 21", disse Lula.
Mais tarde, agradeceu ao premiê italiano, Silvio Berlusconi, "por reconhecer" a necessidade de expansão do G8, o grupo de economias mais industrializadas do mundo, mais a Rússia.
Na entrevista coletiva concedida após o almoço que os dois dirigentes tiveram, junto com ministros dos dois países e os jogadores brasileiros do Milan, Berlusconi defendeu a criação de um G14, formado com o acréscimo do chamado G5 -Brasil, México, Índia, Rússia e África do Sul-, mais o Egito.
No discurso de improviso que empolgou os sindicalistas, Lula não demonstrou o mesmo otimismo de algumas semanas atrás em relação à resistência da economia brasileira ao impacto das turbulências globais e admitiu que o tamanho da crise o surpreendeu.
"A cada dia aparece uma novidade, a cada dia aparece um buraco", disse Lula, classificando a situação econômica brasileira de "razoável".
A magnitude dos problemas que a economia mundial enfrenta e a própria estrutura do encontro de Washington, segundo o presidente, recomendam prudência quanto às expectativas -ele lembrou que cada um dos líderes presentes terá apenas sete minutos para falar, com mais três durante o almoço da cúpula.
"O máximo que podemos fazer é formular propostas, e depois botar nossos ministros para sistematizar aquilo que pode ser uma tomada de posição dos presidentes", disse Lula, que enfatizou a necessidade de o encontro transmitir uma mensagem política forte para espantar o pânico que ronda a economia mundial.
Segundo o presidente, o risco é de que as más notícias sobre a economia global inibam o consumo, provocando uma reação em cadeia que gere uma crise ainda maior, paralisando a produção e pondo em risco os empregos. "Aí seria o caos", disse Lula. Ele repetiu que nenhum investimento do PAC será afetado pela crise.
Embora não alimente grandes expectativas sobre a cúpula de Washington, Lula disse que "há consenso" sobre dois pontos: de que o sistema financeiro precisa mudar o foco do capital especulativo para a o investimento no setor produtivo; e de que é necessário aumentar a transparência e o rigor da regulamentação dos mercados.


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