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"A cada dia aparece um buraco", diz Lula
Presidente afirma em Roma que a gravidade da crise o surpreendeu
Lula reduz expectativas em relação à cúpula do G20 no final de semana em Washington, que seria só um "começo" de mudança
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem esperar
pouco da cúpula de chefes de
Estado em Washington, no
próximo fim de semana, e que a
gravidade da crise econômica
global o surpreendeu.
Ele qualificou o evento, em
que estarão reunidas 20 das
maiores economias do planeta,
como uma oportunidade "extraordinária" de os líderes
mostrarem vontade política
para reformar o sistema financeiro internacional, a começar
pelas instituições multilaterais,
como o FMI e Banco Mundial.
"Não esperem muito dessa
reunião", disse Lula diante de
uma platéia de mais de 1.200
pessoas durante um encontro
com centrais sindicais, em Roma. "Será um começo, um começo promissor".
No segundo dia de sua primeira visita de Estado à Itália,
Lula reiterou em todos os seus
compromissos que uma das
principais reivindicações do
Brasil em Washington será não
apenas a ampliação dos fóruns
de discussão e governança globais, mas sua refundação.
"É preciso um novo sistema
financeiro, um novo modelo
econômico, novas instituições
multilateriais porque essas estão falidas e já provaram que
não representam mais os anseios do século 21", disse Lula.
Mais tarde, agradeceu ao premiê italiano, Silvio Berlusconi,
"por reconhecer" a necessidade
de expansão do G8, o grupo de
economias mais industrializadas do mundo, mais a Rússia.
Na entrevista coletiva concedida após o almoço que os dois
dirigentes tiveram, junto com
ministros dos dois países e os
jogadores brasileiros do Milan,
Berlusconi defendeu a criação
de um G14, formado com o
acréscimo do chamado G5
-Brasil, México, Índia, Rússia
e África do Sul-, mais o Egito.
No discurso de improviso
que empolgou os sindicalistas,
Lula não demonstrou o mesmo
otimismo de algumas semanas
atrás em relação à resistência
da economia brasileira ao impacto das turbulências globais
e admitiu que o tamanho da crise o surpreendeu.
"A cada dia aparece uma novidade, a cada dia aparece um
buraco", disse Lula, classificando a situação econômica brasileira de "razoável".
A magnitude dos problemas
que a economia mundial enfrenta e a própria estrutura do
encontro de Washington, segundo o presidente, recomendam prudência quanto às expectativas -ele lembrou que
cada um dos líderes presentes
terá apenas sete minutos para
falar, com mais três durante o
almoço da cúpula.
"O máximo que podemos fazer é formular propostas, e depois botar nossos ministros para sistematizar aquilo que pode
ser uma tomada de posição dos
presidentes", disse Lula, que
enfatizou a necessidade de o
encontro transmitir uma mensagem política forte para espantar o pânico que ronda a
economia mundial.
Segundo o presidente, o risco
é de que as más notícias sobre a
economia global inibam o consumo, provocando uma reação
em cadeia que gere uma crise
ainda maior, paralisando a produção e pondo em risco os empregos. "Aí seria o caos", disse
Lula. Ele repetiu que nenhum
investimento do PAC será afetado pela crise.
Embora não alimente grandes expectativas sobre a cúpula
de Washington, Lula disse que
"há consenso" sobre dois pontos: de que o sistema financeiro
precisa mudar o foco do capital
especulativo para a o investimento no setor produtivo; e de
que é necessário aumentar a
transparência e o rigor da regulamentação dos mercados.
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