São Paulo, Sábado, 13 de Fevereiro de 1999
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COMÉRCIO EXTERIOR
Corte do programa de financiamento divide especialistas
Exportadores perdem crédito para o Mercosul

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

A decisão do governo de acabar com os financiamentos para exportação de bens de consumo para o Mercosul, com o corte no programa Proex, dividiu os exportadores.
É certo que os empresários brasileiros vão perder sua principal linha de crédito nas suas vendas para a Argentina, Paraguai e Uruguai.
Mas alguns especialistas acreditam que a medida é necessária para evitar uma invasão de produtos brasileiros, que ficaram muito mais baratos com a desvalorização do real.
"Não interessa aos exportadores brasileiros estourar a economia argentina e acabar com o Mercosul", diz o empresário Roberto Gianetti da Fonseca, da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
Na opinião do empresário, a restrição ao financiamento limitará os negócios porque obrigará os importadores argentinos a comprar à vista ou procurar outras fontes de crédito.
Gianetti não acredita, porém, que o corte no Proex impeça o aumento das exportações para a Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
"Deve haver uma diminuição no ritmo de crescimento", diz Gianetti, "mas as vendas para a Argentina vão aumentar porque os preços ficaram mais competitivos com a desvalorização do real."
Para Mário de Carvalho, professor de comércio exterior da Uerj, a medida traz outro ganho para o governo: corte de gastos. No ano passado, o Proex concedeu aproximadamente US$ 1,4 bilhão em financiamentos. A expectativa, antes da desvalorização, era de que o Proex liberasse mais de US$ 3 bilhões neste ano.
"A medida agrada aos argentinos e facilita a gestão da política fiscal", diz Carvalho.
Segundo Carvalho, outra medida anunciada ontem também poderá ajudar o ajuste fiscal.
O governo estuda acabar com a restituição do PIS/Pasep e da Cofins para quem exporta para o Mercosul. Com a medida, os exportadores perderiam o direito a um crédito com o governo de 5,3% do valor exportado.
Nem todos os profissionais de comércio exterior defendem as medidas anunciadas ontem pelo governo. Segundo um especialista, que não quis se identificar, as medidas prejudicam o esforço de aumento das exportações.
A principal vantagem do Proex para os exportadores era a possibilidade de contar com financiamentos com taxas de juros parecidas com as pagas pelas empresas de países ricos.
Os juros do Proex equivalem, atualmente, a cerca de 5% ao ano, aproximadamente quatro pontos percentuais abaixo do que pagariam fora do programa.
O problema, diz o especialista, é que o mercado financeiro está fechado às empresas brasileiras. Está muito difícil obter uma linha de crédito no exterior porque há desconfiança sobre o futuro da economia brasileira.
Sem o Proex, principal fonte de financiamento para as exportações brasileiras, ficará ainda mais difícil levantar dinheiro para as vendas externas.
A limitação, diz o exportador, não se restringe ao corte do programa para o Mercosul.
Ao abater o Proex para vendas para a Argentina, Paraguai e Uruguai, o governo brasileiro abre um precedente.
Outros países também podem exigir igualdade de condições no comércio com o Brasil e cobrar o fim do Proex.


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