|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMÉRCIO EXTERIOR
Corte do programa de financiamento divide especialistas
Exportadores perdem crédito para o Mercosul
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
A decisão do governo de acabar
com os financiamentos para exportação de bens de consumo para
o Mercosul, com o corte no programa Proex, dividiu os exportadores.
É certo que os empresários brasileiros vão perder sua principal linha de crédito nas suas vendas para a Argentina, Paraguai e Uruguai.
Mas alguns especialistas acreditam que a medida é necessária para evitar uma invasão de produtos
brasileiros, que ficaram muito
mais baratos com a desvalorização
do real.
"Não interessa aos exportadores
brasileiros estourar a economia argentina e acabar com o Mercosul",
diz o empresário Roberto Gianetti
da Fonseca, da Funcex (Fundação
Centro de Estudos do Comércio
Exterior).
Na opinião do empresário, a restrição ao financiamento limitará
os negócios porque obrigará os
importadores argentinos a comprar à vista ou procurar outras
fontes de crédito.
Gianetti não acredita, porém,
que o corte no Proex impeça o aumento das exportações para a Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
"Deve haver uma diminuição no
ritmo de crescimento", diz Gianetti, "mas as vendas para a Argentina
vão aumentar porque os preços ficaram mais competitivos com a
desvalorização do real."
Para Mário de Carvalho, professor de comércio exterior da Uerj, a
medida traz outro ganho para o
governo: corte de gastos. No ano
passado, o Proex concedeu aproximadamente US$ 1,4 bilhão em financiamentos. A expectativa, antes da desvalorização, era de que o
Proex liberasse mais de US$ 3 bilhões neste ano.
"A medida agrada aos argentinos
e facilita a gestão da política fiscal",
diz Carvalho.
Segundo Carvalho, outra medida
anunciada ontem também poderá
ajudar o ajuste fiscal.
O governo estuda acabar com a
restituição do PIS/Pasep e da Cofins para quem exporta para o
Mercosul. Com a medida, os exportadores perderiam o direito a
um crédito com o governo de 5,3%
do valor exportado.
Nem todos os profissionais de
comércio exterior defendem as
medidas anunciadas ontem pelo
governo. Segundo um especialista,
que não quis se identificar, as medidas prejudicam o esforço de aumento das exportações.
A principal vantagem do Proex
para os exportadores era a possibilidade de contar com financiamentos com taxas de juros parecidas
com as pagas pelas empresas de
países ricos.
Os juros do Proex equivalem,
atualmente, a cerca de 5% ao ano,
aproximadamente quatro pontos
percentuais abaixo do que pagariam fora do programa.
O problema, diz o especialista, é
que o mercado financeiro está fechado às empresas brasileiras. Está
muito difícil obter uma linha de
crédito no exterior porque há desconfiança sobre o futuro da economia brasileira.
Sem o Proex, principal fonte de
financiamento para as exportações
brasileiras, ficará ainda mais difícil
levantar dinheiro para as vendas
externas.
A limitação, diz o exportador,
não se restringe ao corte do programa para o Mercosul.
Ao abater o Proex para vendas
para a Argentina, Paraguai e Uruguai, o governo brasileiro abre um
precedente.
Outros países também podem
exigir igualdade de condições no
comércio com o Brasil e cobrar o
fim do Proex.
Texto Anterior: Exportação à Argentina perde incentivo Próximo Texto: Leia a declaração presidencial de São José Índice
|