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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
"Euforia comedida"
O potencial de crescimento vinha sendo subestimado por muitos economistas, como os números parecem comprovar
AS ESTATÍSTICAS divulgadas ontem pelo IBGE confirmam
que o desempenho da economia brasileira foi bastante bom no
ano passado. Estamos escapando, finalmente, de um período de semi-estaganação que durou um quarto
de século. Em 2007, segundo dados
preliminares, o PIB por habitante
cresceu 4% em termos reais, número não muito distante da taxa de
crescimento per capita de longo prazo do período entre a Segunda Guerra Mundial e o início da crise da dívida externa da década de 1980.
Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o momento
é de "euforia comedida". Bem, por
definição, euforia não pode ser comedida. Mas não importa. O oximoro do ministro é válido. O resultado
de 2007 não chega a ser espetacular,
o que justificaria uma "euforia eufórica", mas representa um progresso
considerável. Esse progresso não teria sido possível, diga-se de passagem, sem a flexibilização gradual da
política macroeconômica a partir de
2006.
Um aspecto merece destaque: a
forte expansão da demanda interna,
particularmente do investimento. A
formação bruta de capital fixo, definida como o aumento do estoque de
bens duráveis destinados ao uso das
unidades produtivas, cresceu 13,4%
em 2007, duas vezes e meia o ritmo
de crescimento do PIB. Trata-se da
maior taxa de expansão anual desde
o início da nova série do IBGE, em
1996. Como se sabe, o aumento do
investimento amplia ao mesmo
tempo a demanda e a oferta agregadas, o que favorece a sustentação do
crescimento ao longo do tempo. A
expansão da capacidade produtiva
facilita a conciliação entre crescimento econômico e controle da inflação.
Já o setor externo da economia teve influência negativa pelo segundo
ano consecutivo. A taxa de crescimento das importações de bens e
serviços foi mais que o triplo da taxa
de crescimento das exportações no
ano passado, o que reflete a persistente e problemática valorização do
real.
Temos como sustentar esse crescimento ou até aumentá-lo ao longo
dos próximos anos? Creio que sim.
O potencial de crescimento do país
vinha sendo subestimado por muitos economistas, como parecem
comprovar os números recentes.
A experiência começa a revelar
como era enganosa aquela idéia,
muito difundida entre nós, de que o
Brasil só voltaria a crescer depois
que implementasse uma série de difíceis reformas estruturais (previdenciária, tributária, trabalhista
etc.). As reformas estruturais podem ser importantes, mas não constituíam precondição para a retomada do crescimento econômico. O governo Lula foi seduzido por essa
idéia durante a maior parte do seu
primeiro mandato, mas depois percebeu que estava marcando passo e
deu mais ênfase à aceleração do
crescimento.
Quais são os riscos? Destacaria
três. Primeiro, há o risco de que um
excesso de zelo na condução da política antiinflacionária venha a abortar o crescimento em curso. Segundo, a existência de gargalos na infra-estrutura de transporte e energia
pode limitar a expansão da economia nos próximos anos. Por último,
não se deve descartar um agravamento do quadro econômico internacional, o que afetaria a nossa capacidade de crescer -especialmente se esse agravamento coincidir
com uma deterioração acentuada
das nossas contas externas provocada pela valorização cambial.
Mas os riscos são administráveis e
podem ser enfrentados com sucesso. Equilíbrio na política de combate
à inflação, investimentos em infra-estrutura e reforço da nossa posição
externa -esses são os elementos
centrais para garantir a continuação
do crescimento.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa
um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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