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ARTIGO
Investimento forte, consumo "chinês"?
FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
O leitor já terá visto, na capa
da Folha e nas páginas deste
caderno Dinheiro, que ao fechar o ano em 5,4% o crescimento do PIB em 2007 superou as expectativas. A constatação é verdadeira, mas convém
desdobrá-la para melhor compreender o significado dos números divulgados ontem pelo
IBGE, assim como algumas das
dúvidas que eles suscitam.
Vamos, portanto, examinar
em separado os números do
ano como um todo e aqueles
relativos ao 4º trimestre -cotejando-os com os resultados
que eram esperados pelos analistas econômicos.
PIB de 2007
No início do ano passado as
instituições que informam ao
BC as suas projeções macroeconômicas esperavam, em média, que o PIB fechasse 2007
com alta de apenas 3,5%. Essa
projeção sofreu uma primeira
rodada de elevação a partir do
final de março, quando o IBGE
divulgou os valores anuais do
PIB entre 1995 e 2006 sob uma
nova metodologia de cálculo.
À luz da nova série histórica
-que revelava uma economia
maior e mais dinâmica do que
antes se supunha-, a projeção
mediana para o crescimento do
PIB (de acordo com o levantamento que o BC denomina Focus) subiu, chegando no final
de abril à faixa de 4,1%.
Essa projeção foi sendo revista para cima ao longo do ano
-e não devido a novas mudanças metodológicas (que não
aconteceram), mas essencialmente porque a atividade econômica foi se mostrando mais
dinâmica do que se antecipava.
Embora o consumo também
tenha revelado fôlego maior do
que se antecipava (em particular no quarto trimestre - ponto
ao qual voltaremos adiante), a
grande surpresa do ano foi o
crescimento muito forte do investimento. E foi uma surpresa
bastante favorável.
Depois de se expandir 10%
em 2006, a formação bruta de
capital fixo cresceu mais 13,4%
no ano passado. Combinando-se essa alta do investimento
com os vários indícios de que a
produtividade da economia
também aumenta rapidamente, mudam dramaticamente os
cálculos relativos ao ritmo a
que o PIB brasileiro pode crescer sem criar dificuldades mais
sérias para o controle da inflação.
Um ano atrás estimava-se
que esse ritmo -conhecido no
jargão dos economistas como a
taxa de crescimento potencial
do PIB- situava-se perto de
3,5%.
Mas hoje essas estimativas já
se aproximam de 4,5% -e devem subir mais.
O 4º trimestre
De acordo com o boletim Focus/BC, era de 5,2% a variação
anual do PIB que se esperava
que o IBGE anunciaria ontem.
A divergência entre esse número e os 5,4% afinal divulgados
deveu-se, sobretudo, a uma
aceleração extremamente forte
do consumo entre o terceiro e o
quatro trimestres de 2007.
Segundo o IBGE, nos três
primeiros trimestres do ano
passado o consumo manteve-se num ritmo de alta pouco superior a 6% (taxa anualizada da
expansão sobre o trimestre
imediatamente anterior, já
descontadas flutuações sazonais). No quarto trimestre, teria acelerado para cerca de 15%.
Não há dúvida de que o consumo cresce bastante. Mas 15%
é uma taxa tão alta, e tão contrastante com a velocidade
apurada por outros indicadores
(como a Pesquisa Mensal do
Comércio, realizada pelo próprio IBGE), que demanda esclarecimentos adicionais.
Esses esclarecimentos são
importantes porque condicionarão as avaliações sobre o
equilíbrio entre a oferta e a demanda agregadas. Há razões
para crer que o investimento
seguirá em alta e, portanto, que
a capacidade de oferta da economia seguirá em expansão.
Mas, se de fato o consumo estiver num ritmo "chinês" -o que
é bastante duvidoso-, essa expansão poderia ser insuficiente
para impedir um aumento da
pressão sobre a inflação.
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