São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO

Investimento forte, consumo "chinês"?

FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

O leitor já terá visto, na capa da Folha e nas páginas deste caderno Dinheiro, que ao fechar o ano em 5,4% o crescimento do PIB em 2007 superou as expectativas. A constatação é verdadeira, mas convém desdobrá-la para melhor compreender o significado dos números divulgados ontem pelo IBGE, assim como algumas das dúvidas que eles suscitam.
Vamos, portanto, examinar em separado os números do ano como um todo e aqueles relativos ao 4º trimestre -cotejando-os com os resultados que eram esperados pelos analistas econômicos.

PIB de 2007
No início do ano passado as instituições que informam ao BC as suas projeções macroeconômicas esperavam, em média, que o PIB fechasse 2007 com alta de apenas 3,5%. Essa projeção sofreu uma primeira rodada de elevação a partir do final de março, quando o IBGE divulgou os valores anuais do PIB entre 1995 e 2006 sob uma nova metodologia de cálculo.
À luz da nova série histórica -que revelava uma economia maior e mais dinâmica do que antes se supunha-, a projeção mediana para o crescimento do PIB (de acordo com o levantamento que o BC denomina Focus) subiu, chegando no final de abril à faixa de 4,1%.
Essa projeção foi sendo revista para cima ao longo do ano -e não devido a novas mudanças metodológicas (que não aconteceram), mas essencialmente porque a atividade econômica foi se mostrando mais dinâmica do que se antecipava.
Embora o consumo também tenha revelado fôlego maior do que se antecipava (em particular no quarto trimestre - ponto ao qual voltaremos adiante), a grande surpresa do ano foi o crescimento muito forte do investimento. E foi uma surpresa bastante favorável.
Depois de se expandir 10% em 2006, a formação bruta de capital fixo cresceu mais 13,4% no ano passado. Combinando-se essa alta do investimento com os vários indícios de que a produtividade da economia também aumenta rapidamente, mudam dramaticamente os cálculos relativos ao ritmo a que o PIB brasileiro pode crescer sem criar dificuldades mais sérias para o controle da inflação.
Um ano atrás estimava-se que esse ritmo -conhecido no jargão dos economistas como a taxa de crescimento potencial do PIB- situava-se perto de 3,5%.
Mas hoje essas estimativas já se aproximam de 4,5% -e devem subir mais.

O 4º trimestre
De acordo com o boletim Focus/BC, era de 5,2% a variação anual do PIB que se esperava que o IBGE anunciaria ontem. A divergência entre esse número e os 5,4% afinal divulgados deveu-se, sobretudo, a uma aceleração extremamente forte do consumo entre o terceiro e o quatro trimestres de 2007.
Segundo o IBGE, nos três primeiros trimestres do ano passado o consumo manteve-se num ritmo de alta pouco superior a 6% (taxa anualizada da expansão sobre o trimestre imediatamente anterior, já descontadas flutuações sazonais). No quarto trimestre, teria acelerado para cerca de 15%.
Não há dúvida de que o consumo cresce bastante. Mas 15% é uma taxa tão alta, e tão contrastante com a velocidade apurada por outros indicadores (como a Pesquisa Mensal do Comércio, realizada pelo próprio IBGE), que demanda esclarecimentos adicionais.
Esses esclarecimentos são importantes porque condicionarão as avaliações sobre o equilíbrio entre a oferta e a demanda agregadas. Há razões para crer que o investimento seguirá em alta e, portanto, que a capacidade de oferta da economia seguirá em expansão. Mas, se de fato o consumo estiver num ritmo "chinês" -o que é bastante duvidoso-, essa expansão poderia ser insuficiente para impedir um aumento da pressão sobre a inflação.


Texto Anterior: PIB / análise: Analistas vêem expansão mais sustentável
Próximo Texto: Governo tributa capitais de curto prazo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.