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Governo tributa capitais de curto prazo
A fim de conter "derretimento" do dólar, Planalto anuncia IOF de 1,5% para estrangeiros e medidas para elevar lucratividade na exportação
Na opinião de Mantega, medidas ajudarão a evitar
deterioração do saldo comercial e terão mesmo
efeito de um corte no juro
VALDO CRUZ
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Fazenda
anunciou ontem medidas para
conter o "derretimento do dólar" e tentar evitar uma deterioração do saldo da balança
comercial. Segundo o ministro
Guido Mantega, elas terão o
mesmo efeito de uma redução
da taxa de juros para o investidor externo no país, já que reduzirá o seu ganho.
Acertadas com o presidente
Lula na semana passada, as medidas visam reduzir a entrada
de capital externo de curto prazo no país e aumentar a lucratividade dos exportadores.
São elas: 1) cobrança de 1,5%
de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no ingresso
de investimentos estrangeiros
em renda fixa, como títulos públicos; 2) isentar de IOF as operações de câmbio dos exportadores e 3) autorizar que toda
receita com vendas externas
dos exportadores seja deixada
fora do país.
Além dessas medidas, Mantega anunciou ainda que o governo está reformulando sua
política industrial, a ser divulgada em abril, para focar no incentivo às exportações. "Estamos redirecionando a política
industrial para o setor exportador, dentro das nossas preocupações em evitar uma deterioração da nossa conta comercial", afirmou o ministro.
Aprovadas ontem pelo CMN
(Conselho Monetário Nacional), as medidas do governo
têm como objetivo evitar a repetição de erros do passado,
quando o país se descuidou da
conta de comércio exterior e
acreditou que poderia se financiar apenas com a entrada de
capital financeiro.
"Aqueles países que se descuidaram de seu comércio exterior, como nós no passado,
deram-se mal", disse Mantega,
numa referência à crise cambial vivida durante os governos
tucanos de FHC (1995 a 2002).
Impactos
Mantega não quis estimar o
impacto das medidas na taxa de
câmbio, mas disse que devem
"reduzir a entrada de capital de
curto prazo, o que servirá para
atenuar o derretimento do dólar no país".
As medidas não surtiram
efeito no mercado de câmbio
ontem. O dólar caiu 0,53%, para R$ 1,675. No ano, a moeda já
recuou 5,74%.
Questionado se o melhor caminho não seria reduzir os juros para evitar uma valorização
do real, ele primeiro defendeu o
BC, dizendo que sua política
monetária deve olhar apenas
para a inflação, não para o câmbio. Depois, afirmou que, no caso da entrada de capital externo
de curto prazo, as medidas terão o mesmo "efeito de reduzir
os juros, já que vão diminuir o
diferencial entre os ganhos
com aplicações aqui e lá fora".
Hoje, a taxa de juros do BC (a
Selic) está em 11,25%, enquanto a dos EUA é de 3% anuais.
Mantega disse à Folha que a
queda nos saldos positivos da
balança comercial, registrada
neste ano, ainda não preocupa
o governo. "Estamos olhando
no longo prazo, não se chegou a
acender um sinal amarelo de
curto prazo, queremos é manter o dinamismo do nosso comércio exterior."
Ele destacou que o governo
não alterou as regras de investimentos externos que contribuem para a expansão da economia. Citou que não terão cobrança de IOF as operações em
Bolsas, de IPO (lançamentos
de ações na abertura de capital
de empresas), investimento direto estrangeiro no país, empréstimos externos e fundos de
investimentos de derivativos
com renda variável.
A cobrança de IOF será feita
apenas na entrada de capital
externo. As aplicações já feitas
não serão taxadas, só os novos
investimentos. As medidas,
que entram em vigor na segunda, serão publicadas no "Diário
Oficial" da União de hoje.
Segundo Mantega, o IOF reconstitui a CPMF que caiu neste ano e a isenção de 15% de IR
sobre o lucro de aplicações estrangeiras, concedida em 2006.
"De certa forma, aproximamos
os direitos do aplicador nacional do estrangeiro. É uma disparidade o aplicador nacional
pagar pelo menos 15% de Imposto de Renda mais o IOF",
afirmou à Folha.
Ele disse ainda que o governo
fiscalizará as operações que
permaneceram isentas para
evitar que o estrangeiro aplique primeiro em ações e depois
migre para títulos públicos. Se
o investidor usar desse subterfúgio, a corretora ou banco terá
de informar ao governo, que fará a cobrança do imposto.
Mantega disse que o pacote
anunciado provocará uma queda na arrecadação. O governo
estima perda de R$ 2,2 bilhões
com o fim da cobrança de IOF
dos exportadores e receita extra entre R$ 500 milhões e R$
600 milhões ao taxar investimentos estrangeiros.
Além da isenção de IOF para
os contratos de câmbio dos exportadores, o ministro explicou que o fim da cobertura
cambial, que determinava que
70% das receitas com exportações tinham de ser internalizadas, dará mais "mobilidade" às
empresas que precisam fazer
pagamentos em dólar, além de
reduzir custos.
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