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análise
Planalto decide "dar um afago em empresário"
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A combinação de crescimento de 5% da economia,
alavancado pelo consumo interno, com crise financeira
mundial de duração e repercussões duvidosas e indefinição em relação ao ciclo de alta das commodities, fez o governo mudar de idéia em relação à política cambial.
A tese de "deixar o câmbio
flutuante flutuar", que havia
conquistado adeptos importantes, como o presidente
Lula, perdeu espaço para a
idéia de que é preciso "dar
um afago nos empresários".
Essa análise ganhou força
com os dados sobre o desempenho da economia em
2007, que foram divulgados
oficialmente ontem pelo IBGE, mas a essência já era conhecida pelo governo. O país
está crescendo acima da sua
capacidade. Esse crescimento tem sido baseado no consumo das famílias, que representa 60% do PIB (Produto Interno Bruto) e conta
com suporte de crédito
abundante nos bancos.
A demanda doméstica respondeu por 6,9 pontos percentuais do PIB de 2007.
Deixou para trás as exportações, vedetes do crescimento
verificado em 2004 e 2005. A
contribuição do setor externo no ano passado foi até negativa (1,4 ponto).
A inflação está sob o controle vigilante da taxa de juros, a maior do mundo e com
sinais de que permanecerá
pela liderança ainda um bom
tempo. Isso tudo atrai investidores estrangeiros em busca de ganhos maiores do que
em outras economias.
Diante desse quadro, o
Brasil vai bem, obrigado, mas
e as exportações? A pergunta
esteve em pauta nas reuniões da área econômica nas
últimas duas semanas. Segundo a Folha apurou, a
preocupação que está por
trás do questionamento é
que esse cenário desestimule
os empresários que destinam boa parte da sua produção para o mercado externo.
Em vez disso, eles passariam a focar no consumidor
doméstico. Um mercado menos competitivo do que o lá
de fora e mais fácil de repassar custos e acobertar ineficiências produtivas, dada a
velocidade de aumento do
consumo atual.
Eleições
O resultado disso, segundo
integrantes da equipe econômica ouvidos pela Folha, seria, além de pressões no preços internos, a volta de elevados déficits em transações
correntes, a contabilidade
oficial de todas as transações
de bens e serviços do país
com o resto do mundo. Esse
déficit poderá se agravar se o
ciclo de alta das commodities, entre elas produtos
agrícolas que o Brasil exporta, reverter-se, alertaram. E
ninguém espera que o preço
da soja, da carne e do petróleo suba indefinidamente.
O risco de isso acontecer
no curto prazo? Pequeno,
respondem, mas as chances
para problemas mais sérios
na balança comercial aumentam a partir de 2009 e,
também, em 2010 -justamente o ano da sucessão do
presidente Lula.
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