São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

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análise

Planalto decide "dar um afago em empresário"

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A combinação de crescimento de 5% da economia, alavancado pelo consumo interno, com crise financeira mundial de duração e repercussões duvidosas e indefinição em relação ao ciclo de alta das commodities, fez o governo mudar de idéia em relação à política cambial.
A tese de "deixar o câmbio flutuante flutuar", que havia conquistado adeptos importantes, como o presidente Lula, perdeu espaço para a idéia de que é preciso "dar um afago nos empresários".
Essa análise ganhou força com os dados sobre o desempenho da economia em 2007, que foram divulgados oficialmente ontem pelo IBGE, mas a essência já era conhecida pelo governo. O país está crescendo acima da sua capacidade. Esse crescimento tem sido baseado no consumo das famílias, que representa 60% do PIB (Produto Interno Bruto) e conta com suporte de crédito abundante nos bancos.
A demanda doméstica respondeu por 6,9 pontos percentuais do PIB de 2007. Deixou para trás as exportações, vedetes do crescimento verificado em 2004 e 2005. A contribuição do setor externo no ano passado foi até negativa (1,4 ponto).
A inflação está sob o controle vigilante da taxa de juros, a maior do mundo e com sinais de que permanecerá pela liderança ainda um bom tempo. Isso tudo atrai investidores estrangeiros em busca de ganhos maiores do que em outras economias.
Diante desse quadro, o Brasil vai bem, obrigado, mas e as exportações? A pergunta esteve em pauta nas reuniões da área econômica nas últimas duas semanas. Segundo a Folha apurou, a preocupação que está por trás do questionamento é que esse cenário desestimule os empresários que destinam boa parte da sua produção para o mercado externo.
Em vez disso, eles passariam a focar no consumidor doméstico. Um mercado menos competitivo do que o lá de fora e mais fácil de repassar custos e acobertar ineficiências produtivas, dada a velocidade de aumento do consumo atual.

Eleições
O resultado disso, segundo integrantes da equipe econômica ouvidos pela Folha, seria, além de pressões no preços internos, a volta de elevados déficits em transações correntes, a contabilidade oficial de todas as transações de bens e serviços do país com o resto do mundo. Esse déficit poderá se agravar se o ciclo de alta das commodities, entre elas produtos agrícolas que o Brasil exporta, reverter-se, alertaram. E ninguém espera que o preço da soja, da carne e do petróleo suba indefinidamente.
O risco de isso acontecer no curto prazo? Pequeno, respondem, mas as chances para problemas mais sérios na balança comercial aumentam a partir de 2009 e, também, em 2010 -justamente o ano da sucessão do presidente Lula.


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