São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Crise faz indústria perder projeção externa

Demanda e crédito em queda levam fatia da produção destinada ao mercado internacional ao menor nível desde 2002


Volume exportado caiu para 21,9% no fim de 2008, após ter atingido 25,2% em 2005; produtos de couro e móveis estão entre os mais afetados

Rafael Andrade/Folha Imagem
Operária trabalha na confecção de bolsas Dautore, no Rio; a companhia teve que reduzir o quadro de funcionários e a produção devido à queda nas exportações

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

As fábricas brasileiras de bens de maior valor agregado, que se esforçaram para conquistar o mercado externo nos últimos anos, viram a crise derrubar a exportação de seus produtos ao menor patamar desde o fim de 2002. A queda na demanda e a escassez de crédito ajudam a explicar o fenômeno.
Levantamento da Firjan (federação das indústrias do Rio) mostra que o percentual exportado da indústria de transformação nacional caiu a 21,9% do volume produzido ao fim de 2008. De 2003 a 2007, as vendas externas chegaram a 24,1% do que era produzido, com um pico de 25,2% em 2005.
A indústria de transformação compreende o setor que submete determinado produto a processo para transformá-lo em um outro bem de maior valor agregado, com o uso de máquinas ou equipamentos. Estão excluídos os setores extrativos, como a produção de petróleo e de minério de ferro, cujos preços têm cotação internacional.
De 2007 a 2008, o índice revelara tendência de queda, explicada pelo aquecimento do mercado interno. "Estava mais atraente vender internamente", diz Patrick Aguiar Carvalho, chefe de estudos econômicos da Firjan. "Desde setembro, porém, o mercado interno também se contrai. A crise continuará a derrubar a inserção dos produtos do país no exterior."
A empresária carioca Gilda Sampaio sentiu em seus negócios o fechamento do mercado externo. Fundada há 20 anos, sua fábrica de bolsas de couro, a Dautore, havia conseguido fechar contratos de representação com revendedores em Nova York e Paris há três anos.
No início do ano passado, as vendas externas chegaram a representar metade das 2.000 bolsas produzidas mensalmente. "Hoje, não chega a 20% da produção", diz. "Não houve encomendas canceladas, mas ficaram com estoque e sinalizaram que vão comprar menos."
Em 2007, a Dautore havia ampliado a fábrica e contratado. Com a retração, a produção de bolsas caiu pela metade, e 30% dos empregados foram demitidos. "Mudamos fornecedores de couro para reduzir os custos em 20%", diz Gilda.
Como mostra a Dautore, o ramo de produtos de couro é um dos mais afetados, segundo a Firjan. O percentual exportado caiu de 70% para 59%. Na indústria de móveis, foi de 69% para 59%, e na de minerais não metálicos, de 18% para 12%.
Os dados revelam que a crise representou para o setor impacto maior do que o câmbio de 2005 a 2007, quando a indústria dizia que a desvalorização do dólar tirava a competitividade dos produtos. "Agora, mesmo com a valorização do dólar, as exportações não cresceram. Os importadores lá fora sofrem por falta de crédito", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
Para as fábricas que viram seus clientes estrangeiros suspenderem encomenda, não resta saída que não se ajustar para produzir menos. "O mercado interno também está contraído, o desemprego cresce e a renda dá sinais de que não crescerá mais como antes, portanto não vai absorver essa produção", diz o economista Rogério César de Souza, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).


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