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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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NOVO ATAQUE

Na Câmara, economista ataca taxas de juros altas, metas fiscais, programas sociais e reforma da Previdência

Conceição critica Palocci e diz que Lula "surfa no câmbio"

Bruno Stuckert/Folha Imagem
A economista Maria da Conceição Tavares em palestra na Câmara


GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está "surfando no câmbio", disse ontem a economista Maria da Conceição Tavares, em palestra na qual tornou pública a extensão de suas divergências com a política econômica e dirigiu suas críticas ao primeiríssimo escalão do governo.
Na imagem utilizada por Conceição, uma das principais referências do PT, Lula se aproveita da onda de benefícios imediatos trazidos pela queda do dólar -controle da inflação, redução do déficit público, maior capacidade de importar bens e honrar compromissos externos.
Enquanto isso, Conceição se diz "na praia", em companhia de um grupo de críticos amplo a ponto de incluir o presidente do PDT, Leonel Brizola, os "radicais livres [a esquerda do PT"", um banqueiro como Fernão Bracher e o economista John Williamson, criador da expressão "Consenso de Washington".
Em um seminário promovido na Câmara por dois partidos governistas, o PSB e o PC do B, abandonou o que restava da discrição adotada a partir da eleição de Lula e deixou explícito que sua tolerância com a opção ortodoxa da Fazenda chegou ao fim.
Foi sua mais dura crítica ao governo desde entrevista dada à Folha em abril, quando criticou a política econômica e chamou de "débil mental" o secretário Marcos Lisboa (Política Econômica), assessor do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
"Eu mesma disse ao ministro Palocci que os três primeiros meses seriam ferro na boneca, que poderíamos ser mais duros que o Malan. Mas três meses, viu Palocci? Senão o pau canta -e vai cantar", anunciou ontem.
"O pau" não ficou apenas no câmbio. Entre cigarros e palavrões, Conceição atacou os juros altos, a proposta de autonomia do BC, as metas fiscais, a focalização de programas sociais e a reforma da Previdência, que chamou de "reforma do medo".
"Qual é o meu medo? De que, com esse sucesso, eles se embebedem e passem a achar que é por aí", disse. O sucesso em questão, que a economista elogiou, foi o da estratégia para desarmar a desconfiança do mercado financeiro.
Mas, feito isso, "chega". "Está na hora da agenda com a qual nos elegemos." A agenda deve substituir o "monetarismo vulgar", praticado, segundo ela, por uma combinação historicamente comum no Brasil: "Um secretário do Tesouro que usa a tesoura e um presidente do BC que é do partido do juro alto".
Um a um foram atacados os argumentos de Palocci em defesa de suas opções. O mercado achará o equilíbrio para o dólar? "O juro não está em equilíbrio, então o câmbio também não está." O ajuste fiscal será feito pela despesa, sem aumentar imposto? "Vamos desempregar todo mundo."
O ministro Ricardo Berzoini (Previdência) e sua reforma não escaparam de Conceição. "Todo mundo tem sua cota de ignorância, e o ministro tem a dele -ou uma assessoria de merda."


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