São Paulo, sábado, 13 de maio de 2006

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COMÉRCIO GLOBAL

Em discurso em Viena, presidente diz que só um encontro entre governantes pode dar impulso a negociações

Lula insiste em cúpula para desbloquear Doha

ENVIADO ESPECIAL A VIENA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistiu ontem, em discurso para 59 outros governantes (ou seus representantes), na sua tese de que só um encontro de cúpula poderá "dar impulso político" para destravar a chamada Rodada Doha de Desenvolvimento, lançada na capital do Qatar há cinco anos, mas que pouco avançou desde então.
O discurso de Lula foi, segundo o chanceler Celso Amorim, apoiado não apenas pelo britânico Tony Blair e pela alemã Angela Merkel, que já se manifestaram a favor da cúpula, mas também por, entre outros, José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 25 países europeus.
Amorim acredita que talvez nem seja necessário convocar uma "cúpula especial" para discutir Doha.
Pode-se aproveitar a reunião do G8 ampliado, a realizar-se em julho em São Petersburgo (Rússia), para a qual o Brasil foi convidado, bem como a Índia.
Estarão portanto presentes os líderes dos sete países mais ricos do mundo e os dois líderes do G20, o grupo de países em desenvolvimento que luta pela abertura agrícola dos países desenvolvidos (o fato de a anfitriã Rússia não fazer parte ainda da OMC não seria obstáculo, acha o chanceler).
Embora tenha retomado um tema que lançou no final do ano passado, sem muita acolhida, Lula foi mais específico desta vez. Primeiro, ao apontar com mais dureza e clareza que "a principal responsabilidade recai sobre os países ricos" na questão do comércio global.
"Os países ricos deverão fazer os maiores gestos. Os países em desenvolvimento darão passos significativos, segundo suas possibilidades", afirmou o presidente brasileiro.

Passos
Os "passos significativos" do Brasil, sempre segundo Lula, serão "movimentos na área industrial e de serviços, desde que haja avanços realmente significativos na liberalização do comércio em agricultura".
A frase de Lula compõe o que seu chanceler chama de "triângulo fundamental que permitirá a barganha final". Assim:
1) Na área de acesso a mercados em bens agrícolas (jargão para redução de tarifas de importação), cabe à União Européia melhorar a sua oferta, considerada tímida pelo G20 e pelos Estados Unidos.
2) Em subsídios domésticos agrícolas, é a vez de os Estados Unidos reduzirem substancialmente os seus, embora caiba também aos europeus um esforço adicional.
3) Para os países em desenvolvimento como o Brasil sobra reduzir tarifas sobre bens industriais e serviços.
A rigor, esse "triângulo" vem se arrastando sem solução desde o lançamento da rodada. Agora, Lula afirma que "não há tempo a perder", e faz uma pergunta lógica:
"Se não formos capazes de tornar o comércio internacional mais livre e mais justo, como poderemos resolver, de forma coletiva e eficaz, desafios mais complexos, como combate ao terrorismo, a proliferação de armas de destruição em massa e o armamentismo?".
(CLÓVIS ROSSI)


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