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COMÉRCIO GLOBAL
Em discurso em Viena, presidente diz que só um encontro entre governantes pode dar impulso a negociações
Lula insiste em cúpula para desbloquear Doha
ENVIADO ESPECIAL A VIENA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva insistiu ontem, em discurso para 59 outros governantes
(ou seus representantes), na sua
tese de que só um encontro de cúpula poderá "dar impulso político" para destravar a chamada Rodada Doha de Desenvolvimento,
lançada na capital do Qatar há
cinco anos, mas que pouco avançou desde então.
O discurso de Lula foi, segundo
o chanceler Celso Amorim, apoiado não apenas pelo britânico
Tony Blair e pela alemã Angela
Merkel, que já se manifestaram a
favor da cúpula, mas também
por, entre outros, José Manuel
Durão Barroso, presidente da Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 25 países
europeus.
Amorim acredita que talvez
nem seja necessário convocar
uma "cúpula especial" para discutir Doha.
Pode-se aproveitar a reunião do
G8 ampliado, a realizar-se em julho em São Petersburgo (Rússia),
para a qual o Brasil foi convidado,
bem como a Índia.
Estarão portanto presentes os líderes dos sete países mais ricos do
mundo e os dois líderes do G20, o
grupo de países em desenvolvimento que luta pela abertura agrícola dos países desenvolvidos (o
fato de a anfitriã Rússia não fazer
parte ainda da OMC não seria
obstáculo, acha o chanceler).
Embora tenha retomado um tema que lançou no final do ano
passado, sem muita acolhida, Lula foi mais específico desta vez.
Primeiro, ao apontar com mais
dureza e clareza que "a principal
responsabilidade recai sobre os
países ricos" na questão do comércio global.
"Os países ricos deverão fazer os
maiores gestos. Os países em desenvolvimento darão passos significativos, segundo suas possibilidades", afirmou o presidente
brasileiro.
Passos
Os "passos significativos" do
Brasil, sempre segundo Lula, serão "movimentos na área industrial e de serviços, desde que haja
avanços realmente significativos
na liberalização do comércio em
agricultura".
A frase de Lula compõe o que
seu chanceler chama de "triângulo fundamental que permitirá a
barganha final". Assim:
1) Na área de acesso a mercados
em bens agrícolas (jargão para redução de tarifas de importação),
cabe à União Européia melhorar a
sua oferta, considerada tímida pelo G20 e pelos Estados Unidos.
2) Em subsídios domésticos
agrícolas, é a vez de os Estados
Unidos reduzirem substancialmente os seus, embora caiba também aos europeus um esforço
adicional.
3) Para os países em desenvolvimento como o Brasil sobra reduzir tarifas sobre bens industriais e
serviços.
A rigor, esse "triângulo" vem se
arrastando sem solução desde o
lançamento da rodada. Agora,
Lula afirma que "não há tempo a
perder", e faz uma pergunta lógica:
"Se não formos capazes de tornar o comércio internacional
mais livre e mais justo, como poderemos resolver, de forma coletiva e eficaz, desafios mais complexos, como combate ao terrorismo, a proliferação de armas de
destruição em massa e o armamentismo?".
(CLÓVIS ROSSI)
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