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CRISE NO CAMPO
Perdas estimadas superam R$ 310 mi com o bloqueio de estradas; comércio e indústria já dispensam
Problemas agrícolas se alastram e causam demissões em MT
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDONÓPOLIS (MT)
A crise é na agricultura, mas
seus reflexos já atingem todas as
atividades em Mato Grosso, inclusive os mais variados tipos de
comércio. Entidades empresariais
consultadas pela Folha estimam
em mais de R$ 310 milhões o prejuízo no Estado, especialmente na
região norte, desde que se iniciaram os bloqueios de estradas em
protesto contra a política de câmbio e o tratamento do governo federal para o setor agrícola.
O presidente da Asmat (Associação de Supermercados de Mato Grosso), Altair Magalhães, diz
que, sem o escoamento do óleo de
soja, alguns supermercados já
não recebem o produto desde o
último dia 5. Na semana que vem,
deve faltar arroz, cujo fornecimento ao varejo já teve corte de
50% nesta semana. A previsão
dos supermercadistas é que os
preços do arroz e do óleo subam
10% para os consumidores.
Enquanto isso, o desemprego
atinge em cheio a economia do
Estado. Na região sul, onde os
efeitos ainda são mais moderados
-as mobilizações dos agricultores se iniciaram pelo norte-,
praticamente todos os setores da
produção estão demitindo.
A Folha entrou na quinta-feira
no Pasqualotto Armazéns Gerais.
Com 8.000 toneladas de soja armazenadas há 15 dias, o prejuízo
chega a R$ 150 mil. Foram demitidos 14 dos 16 funcionários. "A soja não entra nem sai", diz Osvaldo
Pasqualotto, mostrando o depósito abarrotado.
Em outros setores o problema é
o mesmo. Roberto Luís Marchioro, gerente da Caiado Pneus, conta que já demitiu 4 dos 20 funcionários em Rondonópolis. "As
vendas caíram 60%. O agricultor
não está comprando, e os transportadores pararam. O efeito é
"dominó". Ninguém escapa dessa
crise. Se o dinheiro não chega à
agricultura, muito menos ao comércio", afirma.
O próprio presidente da Associação Comercial e Industrial de
Rondonópolis, Luiz Fernando
Homem de Carvalho, que diz haver diminuição média de 30% nas
vendas em geral, já demitiu. Proprietário da loja Agro Ferragens
Luizão, Carvalho tinha 45 funcionários em abril. Hoje tem 40.
"Foram os primeiros cinco [demitidos]. Se essa situação continuar, infelizmente mais gente vai
ser demitida", disse, citando hortifrutigranjeiros, derivados do leite, petróleo e cimento como produtos que já estão escasseando no
município.
Em Sorriso, o agricultor Luiz
Carlos Nardi, vice-prefeito da cidade (PSDB), conta que até já
pensa em suspender as aulas, em
razão da falta de gás, que acarreta
problemas na merenda escolar,
além do diesel, que afeta o transporte escolar.
O próprio governador Blairo
Maggi (PPS) conta que a Defesa
Civil recebe informações sobre
falta de combustíveis e ração para
suínos e aves. "Só eles [os suínos e
aves] estão solidários com o Garotinho", brinca, em referência ao
pré-candidato do PMDB à Presidência, Anthony Garotinho, que
fez greve de fome durante 11 dias
para se manifestar sobre denúncias de que foi alvo.
Luiz Antônio Freitas, presidente
do Sindicato da Indústria Frigorífica do Mato Grosso, conta que as
empresas do setor já trabalham
40% abaixo do movimento normal, pela falta de transportes.
"Não recebemos bois e não enviamos a carne", simplifica, acrescentando que 5 das 28 indústrias
frigoríficas locais estão paralisadas, e as outras trabalham com
cerca de 50% da capacidade.
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