São Paulo, sábado, 13 de maio de 2006

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CRISE NO CAMPO

Perdas estimadas superam R$ 310 mi com o bloqueio de estradas; comércio e indústria já dispensam

Problemas agrícolas se alastram e causam demissões em MT

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDONÓPOLIS (MT)

A crise é na agricultura, mas seus reflexos já atingem todas as atividades em Mato Grosso, inclusive os mais variados tipos de comércio. Entidades empresariais consultadas pela Folha estimam em mais de R$ 310 milhões o prejuízo no Estado, especialmente na região norte, desde que se iniciaram os bloqueios de estradas em protesto contra a política de câmbio e o tratamento do governo federal para o setor agrícola.
O presidente da Asmat (Associação de Supermercados de Mato Grosso), Altair Magalhães, diz que, sem o escoamento do óleo de soja, alguns supermercados já não recebem o produto desde o último dia 5. Na semana que vem, deve faltar arroz, cujo fornecimento ao varejo já teve corte de 50% nesta semana. A previsão dos supermercadistas é que os preços do arroz e do óleo subam 10% para os consumidores.
Enquanto isso, o desemprego atinge em cheio a economia do Estado. Na região sul, onde os efeitos ainda são mais moderados -as mobilizações dos agricultores se iniciaram pelo norte-, praticamente todos os setores da produção estão demitindo.
A Folha entrou na quinta-feira no Pasqualotto Armazéns Gerais. Com 8.000 toneladas de soja armazenadas há 15 dias, o prejuízo chega a R$ 150 mil. Foram demitidos 14 dos 16 funcionários. "A soja não entra nem sai", diz Osvaldo Pasqualotto, mostrando o depósito abarrotado.
Em outros setores o problema é o mesmo. Roberto Luís Marchioro, gerente da Caiado Pneus, conta que já demitiu 4 dos 20 funcionários em Rondonópolis. "As vendas caíram 60%. O agricultor não está comprando, e os transportadores pararam. O efeito é "dominó". Ninguém escapa dessa crise. Se o dinheiro não chega à agricultura, muito menos ao comércio", afirma.
O próprio presidente da Associação Comercial e Industrial de Rondonópolis, Luiz Fernando Homem de Carvalho, que diz haver diminuição média de 30% nas vendas em geral, já demitiu. Proprietário da loja Agro Ferragens Luizão, Carvalho tinha 45 funcionários em abril. Hoje tem 40.
"Foram os primeiros cinco [demitidos]. Se essa situação continuar, infelizmente mais gente vai ser demitida", disse, citando hortifrutigranjeiros, derivados do leite, petróleo e cimento como produtos que já estão escasseando no município.
Em Sorriso, o agricultor Luiz Carlos Nardi, vice-prefeito da cidade (PSDB), conta que até já pensa em suspender as aulas, em razão da falta de gás, que acarreta problemas na merenda escolar, além do diesel, que afeta o transporte escolar.
O próprio governador Blairo Maggi (PPS) conta que a Defesa Civil recebe informações sobre falta de combustíveis e ração para suínos e aves. "Só eles [os suínos e aves] estão solidários com o Garotinho", brinca, em referência ao pré-candidato do PMDB à Presidência, Anthony Garotinho, que fez greve de fome durante 11 dias para se manifestar sobre denúncias de que foi alvo.
Luiz Antônio Freitas, presidente do Sindicato da Indústria Frigorífica do Mato Grosso, conta que as empresas do setor já trabalham 40% abaixo do movimento normal, pela falta de transportes. "Não recebemos bois e não enviamos a carne", simplifica, acrescentando que 5 das 28 indústrias frigoríficas locais estão paralisadas, e as outras trabalham com cerca de 50% da capacidade.


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