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Desoneração da indústria atinge R$ 21 bi
Política industrial prevê ainda desembolsos de R$ 210 bilhões do BNDES até 2010 e redução da taxa de juros do banco
Apesar de clima festivo, com presença de Lula, ministros e governadores, empresários criticam câmbio valorizado e taxa de juros elevada
SHEILA D'AMORIM
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
JANAINA LAGE
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
O governo Lula lançou ontem
um pacote com pelo menos 14
medidas que envolvem renúncia fiscal e procuram estimular
as exportações e ampliar a capacidade de produção das empresas brasileiras.
O objetivo é tentar minimizar
os impactos da valorização do
real ante o dólar e do aumento
do consumo na inflação -duas
ameaças ao crescimento neste
segundo mandato do presidente Lula.
Embaladas sobre o nome de
Política de Desenvolvimento
Produtivo, as medidas somam
R$ 21,435 bilhões em desonerações até 2011 -a maior parte
(R$ 13,9 bilhões) concentrada
em 2009 e 2010- e foram lançadas em solenidade no centro
do Rio que reuniu dez governadores e 11 ministros de Estado,
além do próprio presidente.
O segundo pilar da nova política são desembolsos de R$
210,4 bilhões até 2010 pelo
BNDES para financiar os setores industrial e de serviços e a
redução de taxa de juros cobrada pelo banco, o que deve tirar
cerca de R$ 1 bilhão do lucro da
instituição nesse período.
Apesar da quantia envolvida,
o empresariado recebeu a proposta com ressalvas. Muitos
avaliam que a política não compensará a valorização do real
nem a alta carga de juros.
A estratégia do governo para
tentar fomentar setores-chave
na economia envolve ainda o
uso de outra estatal: a Petrobras. O presidente da empresa,
José Sergio Gabrielli, anunciou
um projeto de compras da empresa nos próximos anos que
inclui navios de grande porte e
146 embarcações de apoio.
Ao todo, a nova política do governo, segundo o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento),
beneficia 25 setores da economia. Conforme antecipou a Folha, também tem como metas
gerais a ampliação do volume
de investimentos da economia
dos atuais R$ 450 bilhões
(17,6% do PIB) para R$ 620 bilhões (21% do PIB) em 2010 e o
aumento da participação brasileira nas exportações mundiais
(passando de 1,18% do comércio mundial para 1,25%).
Outros objetivos são: a elevação para 12,971 mil do número
de micro e pequenas empresas
que exportam (crescimento de
10% ao ano, considerando as
11,792 mil que exportavam em
2006) e o aumento do gasto das
empresas em pesquisa e desenvolvimento (P&D) dos R$ 11,9
bilhões registrados em 2005
(0,51% do PIB) para R$ 18,2 bilhões (0,65% do PIB), em 2010.
Um dos setores mais beneficiados será o de tecnologia da
informação e comunicação, que
poderá reduzir pela metade a
contribuição patronal para a
Previdência sobre a folha de pagamento. A medida terá impacto nas contas
da Previdência no futuro, mas o governo
não deu estimativa de seu custo. O acerto fechado pelo governo para assegurar esse benefício prevê a contratação e a capacitação de 100 mil trabalhadores nos próximos quatro
anos, segundo Antonio Gil, presidente da Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de
Tecnologia de Informação e
Comunicação).
Críticas
O evento no Rio contou com a
presença de mais de 400 pessoas
na sede do BNDES, incluindo
deputados, senadores, empresários e sindicalistas. Durante cerca de três horas, ouviram dez
pessoas escolhidas pelo governo
que se revezaram nos discursos
elogiosos.
"Queremos consolidar a vitória sobre 25 anos de incerteza e
crescimento baixo, 25 anos de
marasmo e apatia que impediram os empresários de investir",
destacou Lula. Em seu discurso
bem-humorado, Lula brincou
que "é de tal envergadura" a capacidade de investimentos da Petrobras, que "vai ter um momento na história do Brasil que, se a
Petrobras continuar assim, vai
ter que ter eleição direta para o
presidente da Petrobras e ele indica o presidente da República".
O único a destoar do clima de
euforia foi o presidente da CNI
(Confederação
Nacional da Indústria), deputado Armando Monteiro Neto,
que criticou a desarticulação
entre o Ministério da Fazenda e
o Banco Central na condução
das políticas fiscal e monetária.
"O grande desafio é fazer com
que a política industrial seja articulada com a política macroeconômica. No Brasil, a manutenção da política de estabilização tem recaído sobre a política
monetária, que não tem tido a
contribuição da política fiscal, e
isso tem resultado em excessiva
valorização do real", afirmou.
A reação do ministro Guido
Mantega (Fazenda) às críticas
veio no final do evento. "Não sei
de onde pode haver queixa ao
superávit primário. A política
fiscal está perfeitamente casada
com a política monetária."
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