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ANÁLISE
Nova política industrial recauchuta programas dos últimos quatro anos
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio a termos como
"prorrogação", "reativação" e
"ampliação", a mais nova política industrial do governo recauchuta programas e benefícios criados nos últimos quatro
anos em sucessivos pacotes de
desoneração tributária sempre
acompanhados de cifras na casa dos bilhões de reais.
A iniciativa que encabeça a
lista divulgada ontem é quase
idêntica a uma medida aprovada pelo Congresso em 2005 e
vetada pelo Planalto com a justificativa de que havia um erro
de redação no texto.
Repetia-se, desde então, a
promessa de reduzir de 24 para
18 meses o prazo para compensar as empresas pelo PIS e a Cofins cobrados na compra de
equipamentos -a redução acabou mais generosa, para 12 meses. Embora responda por R$ 6
bilhões da desoneração anunciada, a regra não implica renúncia efetiva de arrecadação,
mas simples antecipação de
uma despesa já contratada.
Outros R$ 3 bilhões vêm de
um benefício tributário iniciado em 2004, chamado depreciação acelerada, que originalmente se encerraria no ano seguinte e vem sendo prorrogado
desde então, desta vez até 2010.
Com a ampliação do alcance
das regras para mais setores,
como o automotivo, a conta sobe para R$ 7,1 bilhões até 2011.
Resposta às crescentes queixas contra a escalada da carga
tributária imposta às empresas, os pacotes de desoneração
foram inaugurados, há três
anos, pela medida provisória
batizada de "MP do Bem" -seu
impacto, estimado na época em
R$ 5,7 bilhões anuais, supera o
da nova política industrial.
Estava naquela MP a criação
de um programa para estimular os investimentos de exportadoras, o Recap, cuja "ampliação", na forma de critérios mais
elásticos para o acesso aos benefícios, foi citada ontem.
Outro programa ampliado é
o Reporto, de 2004, de apoio
aos investimentos em infra-estrutura portuária e resquício da
primeira política industrial de
Lula, ainda no primeiro mandato. Na época, o prazo fixado
para a vigência da iniciativa se
encerraria em 2005.
Mais curiosa é a "reativação
do Programa Revitaliza", que
fecha o quadro-resumo das medidas. O programa, baseado em
financiamentos do BNDES
com juro subsidiado, não completou um ano desde que foi
anunciado pela primeira vez.
Ainda que não haja maiores
novidades na política industrial, a tramitação no Congresso deve gerar grande mobilização do lobby empresarial, como
aconteceu com todas as medidas provisórias de desoneração
tributária. A "MP do Bem" foi
editada pelo Executivo com 74
artigos e ganhou outros 59 ao se
transformar em lei, para criar
vantagens que iam da tributação do queijo coalho até o tratamento das dívidas previdenciárias dos municípios.
Na MP de desoneração lançada no ano passado com o PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento), foram os setores
rural e elétrico que conseguiram incluir os pleitos mais importantes no texto aprovado no
Congresso. No mês passado,
outra MP do gênero foi aproveitada pela Câmara para beneficiar, entre outros, fabricantes
de refrigerantes de baixo preço.
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