São Paulo, quarta-feira, 13 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dobra inadimplência em crédito para empresas

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O nível de inadimplência das empresas em linhas de crédito para capital de giro disparou desde setembro de 2008, quando a quebra do banco americano Lehman Brothers apavorou o mercado financeiro e fez com que os empréstimos ficassem mais caros e escassos.
Nessa modalidade de crédito, a taxa de inadimplência passou de 1,45% em setembro para 2,84% em março, segundo o Banco Central. Esse é o pior índice de não pagamento desde novembro de 2003. Os dados se referem a atrasos de 15 a 90 dias. Para prazos superiores ao período, a taxa foi de 2,22%, a maior desde maio de 2007.
O crédito para capital de giro é usado para financiar operações do dia a dia, como pagamentos de salários e compras de fornecedores. A linha é a mais relevante para empresas e representa aproximadamente 38% de tudo o que é concedido a pessoas jurídicas com recursos livres (empréstimos que bancos negociam com taxas de juros de mercado).
Bruno Rocha, analista da Tendências Consultoria, diz que os prazos de pagamento caíram desde o final de 2008 e que, com o aumento dos juros e dos spreads naquele período, ficou mais difícil quitar os empréstimos contratados. A contração da economia agravou a dificuldade dos empresários.
O atraso nos pagamentos também ocorreu no crédito para conta garantida -espécie de cheque especial para empresas, que têm um limite para saques automáticos ao escolher a linha. A taxa de inadimplência para carências superiores a 90 dias passou de 2,57% em setembro para 3,89% em março.
"Os spreads para capital de giro subiram bastante no final do ano passado. Essa subida estava antecipando este cenário tenebroso de inadimplência e queda no ritmo de atividade que observamos agora", afirma.
Segundo Rocha, os spreads devem se reduzir até o final do ano mesmo com os novos aumentos da inadimplência que devem ocorrer nos próximos meses. "Com o quadro econômico um pouco menos incerto, os spreads devem se acomodar em patamares menores." A diminuição da Selic também contribui para essa queda, diz ele.

Ponta do iceberg
Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), destaca que o aumento da taxa de inadimplência nas linhas para empresas oferecidas pelos bancos revela só "a ponta do iceberg". Pesquisa da Fiesp com empresários mostra que as instituições financeiras são a última opção de calote quando empresas devem atrasar contas. Em primeiro lugar, os empresários tendem a atrasar pagamento de tributos, depois, de fornecedores.


Texto Anterior: Recurso do fundo garantidor deve vir do BNDES e do BB
Próximo Texto: Crise: Lula diz que momento favorece "ousadia" e pede mais gastos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.