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Dobra inadimplência em crédito para empresas
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O nível de inadimplência das
empresas em linhas de crédito
para capital de giro disparou
desde setembro de 2008, quando a quebra do banco americano Lehman Brothers apavorou
o mercado financeiro e fez com
que os empréstimos ficassem
mais caros e escassos.
Nessa modalidade de crédito,
a taxa de inadimplência passou
de 1,45% em setembro para
2,84% em março, segundo o
Banco Central. Esse é o pior índice de não pagamento desde
novembro de 2003. Os dados se
referem a atrasos de 15 a 90
dias. Para prazos superiores ao
período, a taxa foi de 2,22%, a
maior desde maio de 2007.
O crédito para capital de giro
é usado para financiar operações do dia a dia, como pagamentos de salários e compras
de fornecedores. A linha é a
mais relevante para empresas e
representa aproximadamente
38% de tudo o que é concedido
a pessoas jurídicas com recursos livres (empréstimos que
bancos negociam com taxas de
juros de mercado).
Bruno Rocha, analista da
Tendências Consultoria, diz
que os prazos de pagamento
caíram desde o final de 2008 e
que, com o aumento dos juros e
dos spreads naquele período,
ficou mais difícil quitar os empréstimos contratados. A contração da economia agravou a
dificuldade dos empresários.
O atraso nos pagamentos
também ocorreu no crédito para conta garantida -espécie de
cheque especial para empresas,
que têm um limite para saques
automáticos ao escolher a linha. A taxa de inadimplência
para carências superiores a 90
dias passou de 2,57% em setembro para 3,89% em março.
"Os spreads para capital de
giro subiram bastante no final
do ano passado. Essa subida estava antecipando este cenário
tenebroso de inadimplência e
queda no ritmo de atividade
que observamos agora", afirma.
Segundo Rocha, os spreads
devem se reduzir até o final do
ano mesmo com os novos aumentos da inadimplência que
devem ocorrer nos próximos
meses. "Com o quadro econômico um pouco menos incerto,
os spreads devem se acomodar
em patamares menores." A diminuição da Selic também contribui para essa queda, diz ele.
Ponta do iceberg
Paulo Francini, diretor do
Departamento de Pesquisas e
Estudos Econômicos da Fiesp
(Federação das Indústrias de
São Paulo), destaca que o aumento da taxa de inadimplência nas linhas para empresas
oferecidas pelos bancos revela
só "a ponta do iceberg". Pesquisa da Fiesp com empresários
mostra que as instituições financeiras são a última opção de
calote quando empresas devem
atrasar contas. Em primeiro lugar, os empresários tendem a
atrasar pagamento de tributos,
depois, de fornecedores.
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