São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2010 |
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VINICIUS TORRES FREIRE Remédio tardio para a indigestão
O MINISTÉRIO da Fazenda acredita que o país teria crescido em torno de 8,5% no primeiro trimestre deste ano (taxa do trimestre, anualizada). As projeções dos maiores bancos e consultorias vão de 9% a 12%, ao menos nas estimativas daqueles que costumam ser mais certeiros e realistas. Ontem, o Itaú Unibanco revisou sua previsão de crescimento do PIB deste ano para 7,5%. Na segunda-feira, o Bradesco atualizara a sua estimativa para 7%. As revisões têm sido mensais e muito fortes. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tais projeções são exageradas. O crescimento ficaria entre 5,5% e 6%. A se confirmar a previsão do Itaú Unibanco, teríamos neste ano a maior alta do PIB per capita desde 1976. Em um terço de século. Como se escreveu nesta coluna, faz um mês, a equipe econômica de Lula já estava então preocupada com a aceleração excessiva da economia e dos preços: "O governo está algo surpreendido com a velocidade da recuperação. Pensa agora como pode ajudar a conter a escalada de alguns preços". O governo então pensava em tomar medidas pontuais a fim de conter aumentos de preços com grande poder de contágio, por assim dizer, como os do aço e de material de construção. Ainda imaginava que o BC poderia apertar o crédito sem apenas recorrer à taxa de juros -exigindo mais depósitos compulsórios dos bancos nos cofres do BC. Agora, Planejamento e Fazenda anunciam em público e difundem por meios mais discretos a ideia de que pretendem reduzir os gastos de modo a dar sua parte na redução do consumo e, assim, conter a aceleração excessiva da economia. Em si mesma, a ideia é boa. No mínimo, vai colaborar marginalmente para a redução da dívida pública. Os juros de tal dívida são monstruosos e constituem, enfim, uma grande transferência de renda para a minoria de brasileiros que têm poupança, grandes investidores e bancos. Quanto a esfriar a economia com cortes de gastos a fim de conter a inflação e evitar altas maiores de juros, esses são outros quinhentos. Onde o governo pode cortar o bastante, a ponto de dar uma mão na política monetária (a de juros, do BC)? Os aumentos de renda devidos à ação do governo foram contratados no ano passado, e um tanto mais neste: rendas assistenciais, aposentadorias do INSS, salários de servidores, tudo isso já foi. A despesa pode aumentar ainda, com o reajuste que o Congresso deu aos aposentados do INSS. Mas tal reajuste extra nem estava na conta do governo. Seria corte de vento. Previdência, salários e gastos vinculados com saúde e educação perfazem quase todo o gasto do governo. Onde é que se vai cortar? É tarde também para o governo mexer em outra rubrica do PIB, o investimento. O governo aumentou o capital do BNDES. Boa coisa, pois os investimentos crescerão. Mas não dá mais para conter a demanda por aí, a não ser em parte, e com uma paulada nas taxas de juros. Ainda que o governo tivesse como fazer cortes importantes neste ano, é um tanto tarde para que a medida possa evitar as altas de juros previsíveis para 2010 ("tudo o mais constante", não considerando a hipótese de catástrofes pelo mundo, claro).
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