São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A inflação no mundo


A alta dos preços acelerou a inflação mundial e ameaça os limites estabelecidos nos Estados Unidos e na Europa

VIVEMOS HOJE um quadro inflacionário de dimensões globais e de altíssima complexidade. Sua compreensão correta servirá como base para o desenho de um quadro macroeconômico que deve prevalecer nas próximas décadas. E a explicação para este mundo novo está mais uma vez na dinâmica das economias chamadas de Brics.
Até o início deste novo século, os ciclos econômicos no mundo reproduziam os momentos de expansão e contração dos Estados Unidos. Com isso, a política monetária do Fed representava, na prática, a política monetária do mundo. Como exceção à regra, tivemos ciclos autônomos dos países asiáticos, sob a liderança do Japão entre os anos 50 e 70 e, depois, dos chamados tigres asiáticos. Mas quando a economia japonesa começou a incomodar, a liderança americana fez-se presente e obrigou-a a fazer um harakiri.
Mas o mundo asiático levantou-se novamente, agora sob a liderança da China. Porém a China não depende do poder americano para sua defesa externa -e, portanto, tem uma independência como nação que o Japão não tinha-, além de ter um mercado mais de dez vezes superior ao do país do sol nascente. Outra diferença marcante em relação ao milagre japonês é o direcionismo chinês na busca de um projeto de longo prazo a ser atingido nas próximas décadas. A prioridade é a continuidade do crescimento econômico, com a inflação como restrição de segunda ordem.
Essa hierarquia, entre crescimento e inflação, também está presente nos demais países da Ásia. Não se encontra esse grau de liberdade nas outras grandes economias do Ocidente, marcadas de perto, e com vigor, pelos chamados mercados.
Nos últimos anos ocorreu uma sincronização do crescimento das economias ocidentais e as desse novo centro econômico. A demanda mundial por uma cesta imensa de bens de produção e de commodities cresceu em descompasso com o aumento da oferta, criando uma intensa pressão inflacionária. Como a teoria nos ensina, esse descompasso criou, mais recentemente, aumentos exponenciais de preços. Como resultado, a inflação no mundo acelerou-se, ameaçando os limites estabelecidos nos países com controles institucionais mais rígidos, como a Europa e os Estados Unidos.
A crise no mercado imobiliário norte-americano antecipou uma desaceleração econômica que aconteceria via política monetária e colocou a maior economia do planeta em recessão. A Europa também caminha para uma redução importante de atividade sob o tacape do Banco Central Europeu. Esse movimento sincronizado seria suficiente para reequilibrar oferta e procura em nível mundial, como ocorria no passado. Mas não agora, pois o terceiro pólo de demanda continua sua luta para preservar o crescimento e sua dimensão é hoje suficiente para manter as pressões sobre vários mercados.
Podemos encontrar um exemplo claro desse comportamento no mercado de petróleo. Nos primeiros cinco meses do ano, o consumo americano do produto caiu 3%, enquanto na China as importações de petróleo cresceram 22%.
Como não há um mecanismo de sincronia entre as políticas econômicas, a correção que sempre aconteceu no passado a partir do ciclo norte-americano não está funcionando agora. Ou teremos uma redução importante no ritmo do crescimento na Ásia e em outros países emergentes ou a recessão no Primeiro Mundo terá de ser aprofundada nos próximos meses via elevação dos juros.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 64, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

lcmb2@terra.com.br


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