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Juiz adaptou leilão à proposta da VarigLog
Responsável pelo processo de recuperação da Varig diz que formato da venda foi definido de acordo com a oferta apresentada
Luiz Roberto Ayoub nega que a Varig tenha sido vendida por US$ 24 mi; segundo ele, o preço final foi de R$ 277 mi, por também incluir o passivo
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O juiz Luiz Roberto Ayoub,
responsável pelo processo de
recuperação judicial da Varig,
afirmou ontem que o formato
do segundo leilão de venda da
companhia aérea foi definido
de acordo com proposta entregue pela VarigLog.
Uma proposta anexada aos
autos do processo, datada de 5
de julho de 2006 e assinada pelo presidente da VarigLog à
época, João Luís Bernes de
Sousa, já continha as principais
características de aquisição da
empresa, como a emissão de
debêntures (títulos de dívida)
para os credores, a lista de hotrans (horários de transporte),
os direitos de pousos e decolagens no exterior, entre outras
características.
Segundo o juiz, a Varig esteve
muito perto da falência antes
da segunda tentativa de venda.
A companhia foi levada a leilão
pela primeira vez no dia 8 de junho de 2006, mas frustrou as
expectativas. Apenas os trabalhadores apresentaram proposta de compra por meio de
uma empresa denominada NV
Participações, mas eles não
conseguiram efetuar o pagamento da primeira parcela no
prazo definido pela Justiça.
O juiz relata que chegou a
deixar pronta a sentença de falência da empresa e que havia
um acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)
para que ele avisasse sobre a
chance de decretar o fim das
operações com uma antecedência de 72 horas. "Seria o mínimo de prudência para evitar
um caos maior ainda", disse.
O ponto mais grave da crise,
segundo a juíza Márcia Cunha,
também responsável pelo caso,
foi um fim de semana em que a
BR Distribuidora passou a exigir o pagamento antecipado de
combustível. "A Varig não tinha caixa para pagar. Isso foi
numa sexta-feira. No sábado,
nos reunimos na sede da empresa e estávamos prontos para
a paralisação", disse ela. Na segunda-feira seguinte, uma decisão judicial garantiu a sobrevida da empresa.
"Logo depois surgiu a proposta da VarigLog. Não a tornei
pública por quê? Porque ainda
estava no prazo da NV Participações [para pagamento da primeira parcela]. Se eu divulgasse
a proposta, isso geraria uma
instabilidade grande, seria antiético e ilegal", disse Ayoub.
Segundo Cunha, caso a proposta não tivesse aparecido teria
sido decretada a falência.
Na avaliação da presidente
do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, o fato de a VarigLog ter apresentado proposta antes não impedia
que outros se apresentassem.
"Ninguém queria aquilo que
aconteceu na Varig, mas foi a
única forma. O fundo apresentou uma proposta mínima. Se
houvesse outro interessado,
poderia ter participado", disse.
Nos dias anteriores ao novo
leilão, a VarigLog sustentou as
operações da Varig com injeção
diária de capital. Antes do leilão, adiantou US$ 20 milhões.
O juiz Ayoub nega que a Varig
tenha sido vendida por US$ 24
milhões. "O preço foi de R$ 277
milhões. O preço não é só o pagamento em espécie", disse. A
composição incluía a emissão
de R$ 100 milhões em debêntures, a necessidade de assumir o
passivo do Smiles e obrigações
de transportes a executar, no
caso de passagens vendidas que
a Varig não havia cumprido
porque não tinha mais aviões.
Para o juiz, a valorização no
preço de venda para a Gol meses depois foi natural porque,
quando a Varig foi a leilão pela
segunda vez, tinha apenas dois
aviões. Quando foi vendida para a Gol, tinha 20 aeronaves e
recursos em caixa, afirmou.
Irregularidades
Ayoub disse que nunca desconfiou de irregularidades na
composição acionária da VarigLog e que não era papel do Judiciário investigar isso. Questionado se não levantou suspeita o fato de os acionistas brasileiros serem desconhecidos, jovens e com uma quantia significativa de capital para participar
da operação, disse ser uma
questão absurda. "O sujeito
tem de ser notório e velho para
que tenha capacidade financeira? O Bill Gates era jovem, na
época, desconhecido e ficou
milionário", disse.
Para a juíza Márcia Cunha, o
Matlin Patterson, fundo de investimento norte-americano,
acionista da VarigLog, foi o único interessado porque a operação envolvia um risco muito
elevado, não só o da atividade,
como o da sucessão de dívida.
A companhia devia mais de
R$ 7 bilhões para fornecedores,
estatais, empresas de leasing e
funcionários. "Eles estão acostumados a comprar, investir
em uma empresa, não dar certo
e recuperar tudo em outro negócio. Eles sabem lidar com essa situação, e a TAM ou a Gol
provavelmente não saberiam",
disse a juíza.
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