São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Medidas na Europa deixam FMI "confiante"

William Rhodes, presidente do Citibank, afirmou nunca ter visto uma crise pior em 50 anos no mercado de bancos

Banqueiros reunidos no final de semana se mostraram inconformados com as autoridades por não terem salvado o Lehman Brothers

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Um dia depois de ter dito que as finanças globais estão "à beira do derretimento", o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, disse ter ficado mais "confiante" em uma solução para a atual crise após o anúncio de medidas conjuntas na Europa.
Já o presidente do Citibank, William Rhodes, afirmou ontem, em encontro de banqueiros mundiais, que a atual crise é a "mais séria em meus 50 anos de atuação nesse negócio".
Após as medidas anunciadas entre os europeus, Strauss-Kahn foi questionado ontem, na entrevista de encerramento do encontro anual do FMI, se acreditava na recuperação dos mercados daqui em diante.
"Nunca se sabe o que vai acontecer, mas estou confiante. O G7 [grupo dos países mais ricos, formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá], o Reino Unido e a União Européia estão adotando medidas coordenadas, que é exatamente do que precisamos. Vamos ver amanhã [hoje] de manhã e nos próximos dias como os mercados reagem", comentou Strauss-Kahn.
Só na semana passada, os mercado globais caíram cerca de 20% (perderam US$ 6 trilhões) e o próprio FMI previu que uma nova queda de 20% pode ocorrer antes do início de uma eventual recuperação.

Em clima de enterro
Ao afirmar que "a crise atual é a mais séria" de sua carreira, Rhodes, que ingressou no Citi em 1957, reconheceu que o setor privado não terá como resolver o problema sozinho.
"Nem na crise da dívida dos anos 80 ou na asiática dos 90 vimos tanta erosão de confiança no mercado como estamos experimentando agora."
Bill Rhodes, como é chamado, é figura conhecida do mercado financeiro brasileiro.
Nos anos 80 e 90 participou de várias renegociações de dívidas na região, em especial da brasileira.
Ele e outros banqueiros se reuniram no fim de semana em Washington em seminário do IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne as 390 maiores instituições financeiras do mundo.
O clima do encontro era de enterro -e de repetidos pedidos de socorro da parte do Estado para os bancos.
"As dificuldades extraordinárias que enfrentamos derivam de muitos eventos, inclusive da aceitação elevada de riscos por alguns bancos. Mas precisamos entender o papel que o setor público deve ter agora. As conseqüências [de não ajudar algumas instituições] podem ser dramáticas e elas já mostraram como é sério quando um grande banco cai", afirmou o presidente do IIF e presidente do "board" do Deutsche Bank, Josef Ackermann.
Em suas declarações, os banqueiros mostraram-se inconformados com o fato de as autoridades norte-americanas não terem evitado, no final de setembro, a quebra do Lehman Brothers, o primeiro grande banco a falir durante a atual crise do mercado financeiro.
Ackermann procurou frisar que seu setor não está apenas esperando a ajuda estatal. "Nossa indústria financeira está atacando vários problemas mais incisivamente do que talvez tenha sido reconhecido pelo público geral até agora", afirmou o presidente do IIF.

Créditos tóxicos
Segundo Ackermann, os bancos ligados ao IIF já retiraram cerca de US$ 600 bilhões em créditos "tóxicos" de seus balanços e conseguiram levantar US$ 500 bilhões em capitais novos para reforçar sua situação financeira.
"Mas, para o sistema bancário como um todo, está claro que será necessário ainda mais capital. Quando a confiança for restabelecida, poderemos aumentar os níveis de captação no mercado privado", disse.
Uma das principais medidas dos planos conjuntos de vários países para socorrer o sistema financeiro é comprar diretamente participações nos bancos em dificuldade na tentativa de recapitalizá-los e destravar o crédito.


Texto Anterior: Nos EUA, conflito de interesse e poder de Paulson causam polêmica
Próximo Texto: Bancos brasileiros tendem a receber menos financiamento externo em 2009
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.