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Medidas na Europa deixam FMI "confiante"
William Rhodes, presidente do Citibank, afirmou nunca ter visto uma crise pior em 50 anos no mercado de bancos
Banqueiros reunidos no final de semana se mostraram inconformados com as autoridades por não terem salvado o Lehman Brothers
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Um dia depois de ter dito que
as finanças globais estão "à beira do derretimento", o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, disse ter ficado mais "confiante" em uma
solução para a atual crise após o
anúncio de medidas conjuntas
na Europa.
Já o presidente do Citibank,
William Rhodes, afirmou ontem, em encontro de banqueiros mundiais, que a atual crise é
a "mais séria em meus 50 anos
de atuação nesse negócio".
Após as medidas anunciadas
entre os europeus, Strauss-Kahn foi questionado ontem,
na entrevista de encerramento
do encontro anual do FMI, se
acreditava na recuperação dos
mercados daqui em diante.
"Nunca se sabe o que vai
acontecer, mas estou confiante.
O G7 [grupo dos países mais ricos, formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino
Unido, França, Itália e Canadá], o Reino Unido e a União
Européia estão adotando medidas coordenadas, que é exatamente do que precisamos. Vamos ver amanhã [hoje] de manhã e nos próximos dias como
os mercados reagem", comentou Strauss-Kahn.
Só na semana passada, os
mercado globais caíram cerca
de 20% (perderam US$ 6 trilhões) e o próprio FMI previu
que uma nova queda de 20%
pode ocorrer antes do início de
uma eventual recuperação.
Em clima de enterro
Ao afirmar que "a crise atual
é a mais séria" de sua carreira,
Rhodes, que ingressou no Citi
em 1957, reconheceu que o setor privado não terá como resolver o problema sozinho.
"Nem na crise da dívida dos
anos 80 ou na asiática dos 90 vimos tanta erosão de confiança
no mercado como estamos experimentando agora."
Bill Rhodes, como é chamado, é figura conhecida do mercado financeiro brasileiro.
Nos anos 80 e 90 participou
de várias renegociações de dívidas na região, em especial da
brasileira.
Ele e outros banqueiros se
reuniram no fim de semana em
Washington em seminário do
IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne as 390 maiores
instituições financeiras do
mundo.
O clima do encontro era de
enterro -e de repetidos pedidos de socorro da parte do Estado para os bancos.
"As dificuldades extraordinárias que enfrentamos derivam de muitos eventos, inclusive da aceitação elevada de riscos por alguns bancos. Mas precisamos entender o papel que o
setor público deve ter agora. As
conseqüências [de não ajudar
algumas instituições] podem
ser dramáticas e elas já mostraram como é sério quando um
grande banco cai", afirmou o
presidente do IIF e presidente
do "board" do Deutsche Bank,
Josef Ackermann.
Em suas declarações, os banqueiros mostraram-se inconformados com o fato de as autoridades norte-americanas não
terem evitado, no final de setembro, a quebra do Lehman
Brothers, o primeiro grande
banco a falir durante a atual crise do mercado financeiro.
Ackermann procurou frisar
que seu setor não está apenas
esperando a ajuda estatal.
"Nossa indústria financeira está atacando vários problemas
mais incisivamente do que talvez tenha sido reconhecido pelo público geral até agora", afirmou o presidente do IIF.
Créditos tóxicos
Segundo Ackermann, os bancos ligados ao IIF já retiraram
cerca de US$ 600 bilhões em
créditos "tóxicos" de seus balanços e conseguiram levantar
US$ 500 bilhões em capitais
novos para reforçar sua situação financeira.
"Mas, para o sistema bancário como um todo, está claro
que será necessário ainda mais
capital. Quando a confiança for
restabelecida, poderemos aumentar os níveis de captação
no mercado privado", disse.
Uma das principais medidas
dos planos conjuntos de vários
países para socorrer o sistema
financeiro é comprar diretamente participações nos bancos em dificuldade na tentativa
de recapitalizá-los e destravar o
crédito.
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